"Este sentimento de um país à deriva, sem entender seu governo e sem entender a si mesmo, é
— imagina-se — quase total, mesmo entre os que bolsonaram e esperavam em vão que o 'mito'
começasse a atuar, nem que fosse só na escolha de um ministério menos exótico", diz o escritor
Luis Fernando Verissimo.
Malucos e malucos no
governo
Por Luis Fernando Veríssimo
O Lula disse que o Brasil está sendo
governado por um bando de
malucos. Exagero, claro. É difícil
associar o que acontece no Brasil
hoje com qualquer atividade que
lembre o verbo “governar”.
A mesma coisa com o termo “bando”, que, bem ou mal, evoca algum tipo de organização. Lula
também exagerou ao chamar de “malucos” os que se aproveitam da confusão para promover seus
projetos políticos pessoais, e que de loucos não têm nada. No mais, o Lula tem razão.
A alusão mais precisa que Lula, talvez, procurasse para nossa situação seria a do manicômio
dominado pelos pacientes. Este sentimento de um país à deriva, sem entender seu governo e sem
entender a si mesmo, é — imagina-se — quase total, mesmo entre os que bolsonaram e esperavam
em vão que o “mito” começasse a atuar, nem que fosse só na escolha de um ministério menos
exótico. Um bando de malucos se apossando da administração deixa o país tremebundo, mas
institucionalmente de pé. Maluco se revoltando contra a instituição é outra coisa, mais grave. Não
fica nem uma caneca de pé.
Os generais que ganharam uma nação de graça, sem necessidade de disfarçar farda com terno ou
tanque com discurso, estão achando difícil a convivência com civis, chame-se Olavo ou não.
Descobrem como eram melhores as revoluções clássicas, com tropas nas ruas. Mas os militares não
podem se queixar muito. Se a eleição do Bolsonaro provou alguma coisa — e provou várias — é que
boa parte de 60 milhões de eleitores do país não deu a menor bola para o passado e os crimes das
Forças Armadas brasileiras nos 20 anos da ditadura que o candidato vencedor diz que nunca
aconteceu.
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