quarta-feira, 8 de maio de 2019
AS FORÇAS ARMADAS PERDERAM A SERVENTIA!
Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia
Uma pergunta pulula na redes sociais e nas cabeças preocupadas com o destino do país, nos últimos
dias: por que os militares, mesmo humilhados pelos filhos e pelo guru de Bolsonaro - aquele senhor
de quem vou declinar o nome - continuam no governo?
Para respondê-la, é necessário recuar alguns anos. Em 1993, ao ser entrevistado pelos pesquisadores
do CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas, Maria Celina D'Araujo e Celso Castro, o ex-ditador
Ernesto Geisel proferiu a seguinte frase: "Militares devem ficar fora da política partidária, mas não
da política geral". Na mesma entrevista, declarou também que "todo político que começa a se
"exacerbar em suas ambições" logo imagina uma revolução a cargo das Forças Armadas. Para
ilustrar o que dizia, citou como exemplo o capitão Jair Bolsonaro, a quem classificou de "Um mau
militar", atribuindo a ele, Bolsonaro, consecutivos pedidos de "um novo golpe".
"Neste momento em que estamos aqui conversando, há muitos dizendo: 'Temos que dar um golpe.
Temos que derrubar o presidente! Temos que voltar à ditadura militar!' E não é só o Bolsonaro, não!
Tem muita gente no meio civil que está pensando assim", disse Geisel.
Profético. Em 2013, ou seja, 20 anos depois desta declaração, cartazes e faixas surgiam nas ruas, nas
manifestações contra o governo Dilma, pedindo um novo golpe militar. As palavras de ordem,
porém, caíram no vazio. Durante todo o processo do impeachment, os militares permaneceram nos
quartéis e se fizeram de mortos, embora todos soubessem que eles apoiavam o golpe desfechado
contra o governo do PT, democraticamente eleito. E, se não intervinham, era mais para não vestirem
o figurino do passado recente, do que por neutralidade no processo.
E tanto é assim, que em momento fatal, quando o Supremo Tribunal Federal julgou sobre a prisão de
Lula, o Comandante Geral do Exército, o general Villas Boas, usando da modernidade do Twitter,
alertou sobre a possibilidade de rebelião nas tropas, caso os ministros optassem por deixar Lula livre
para concorrer e, com certeza, vencer o pleito de 2018. Neste momento, estavam cumprindo à risca o
que destacou Geisel em 1993. Estavam fora da política partidária, mas não da política de modo geral.
O que se seguiu, todos nós sabemos e desnecessário se faz recordar aqui. A menos que queiramos
sofrer duas vezes. Jair Bolsonaro ganhou a presidência seja lá de que modo foi, com apoio das
fileiras militares, e os convidou para fazer parte do governo. Ele, por ter certeza de que não
dominava metade dos assuntos que iria enfrentar no comando do governo. Eles, porque conheciam o
enfant terrible que estava sendo alçado ao poder.
Do ponto de vista dos militares, de perfil ideológico de direita conservadora, Jair Bolsonaro era a
escolha mais certeira para varrer do poder o PT, de quem discordavam ideologicamente, mas era um
"expulso" de suas fileiras por indisciplina. Ou seja, era o caminho, mas não a solução.
Tanto o general Hamilton Mourão, quanto o general Villas Boas, ambos avalistas desta fatura,
sabiam muito bem quem estavam colocando na cadeira de presidente. Alguém que arrastava as
fileiras militares de baixas patentes, e mais um populacho que o chamava de "mito", mas não
confiável o suficiente, para que o deixassem solto, flanando pelo Planalto. Por isto, para estar por
perto, e não por outra razão, ambos aceitaram os cargos nos quais estão hoje.
Mourão, por tudo isto e o plus de poder assumir, caso a situação ficasse incontrolável. Villas, com a
pretensão de manter o "equilíbrio" entre fazer um governo liberal e conter o tresloucado que poderia,
por exemplo, entrar em guerra com a Venezuela. Por entender que são os "garantidores" da ordem
pública e ter papel de "arbitragem" na sociedade, os militares permanecem. Mesmo sob ataques dos
filhos e daquele senhor, de quem não convém dizer o nome.
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