quinta-feira, 21 de março de 2019

TRAÍRA PRESO É A FESTA PARA UM PAIS HUMILHADO


POR FERNANDO BRITO
Michel Temer, três anos atrás, era, na mídia e no Congresso controlado por Eduardo Cunha, um
varão de Plutarco.
Deliciavam-se com cartas conspiratórias – verba volant, script manent – contra Dilma Rousseff.
Subiu ao trono num circo chocante na Câmara dos Deputados, com direito a alô mamãe, saudações 
aos cachorrinhos e papagaios e muito papel picado.
Era incensado pela fina flor da crônica política: “é até bonito”, escreveu Ricardo Noblat; “entende 
tudo de romance”, extasiou-se Eliane Cantanhêde. A cortes de machado nos gastos sociais, saudou-
se o como o que faria a “retomada da economia” e que pilotaria, com Henrique Meirelles, a 
“enxurrada de dólares” que viria para o Brasil com o impeachment sustentado em vagas “pedaladas 
fiscais”, que dou um doce a quem ainda lembrar exatamente o que seriam.
Hoje, a prisão de Temer e de outro que, há décadas, sabia-se outro abjeto, Moreira Franco, é saudada 
como prova da imparcialidade da Justiça e, especificamente, da Lava Jato, cuja franquia carioca, 
gerida pelo Dr. Marcelo Bretas, opera sem os constrangimentos que a saída de Moro da 13ª Vara 
Federal de Curitiba e a gula dos procuradores paranaenses impuseram à matriz.
Como em quase tudo o que faz a Lava Jato, os efeitos que causa ao país são incomensuravelmente 
maiores que o dano que os atos suspeitos provocaram.
Por maiores que sejam os “méritos” de Michel Temer para pagar pelo que faz há tempos e pelo que o 
moveu ao golpe de Estado, não há motivos para comemoração, a começar pelo que escreve o próprio 
juiz na ordem de prisão.
Diz que Temer chefiava uma organização criminosa “há 40 anos” Ora, e como é que denunciado 
tantas vezes, como no caso do portos, em especial a Cia Docas paulista, nada ocorreu. Como não se 
dizer (e menos ainda fazer) algo sobre os esquemas de pressão e chantagem política que ele, à testa 
do PMDB, realizava sobre governos, ao menos desde o período Collor-Itamar Franco?
Li a decisão, na íntegra, e parece que será inevitável que ela seja duramente atacada nos tribunais. 
Primeiro, por conta da prova usada por Bretas para o crime de lavagem de dinheiro – a reforma da 
casa da filha de Temer, Maristela – ocupar, em outro inquérito, o mesmo lugar de destino das 
propinas. Depois, pelo argumento usado para afirmar a “continuidade delitiva” sendo absolutamente 
vagos, dizendo apena que vivemos num tempo de transferências eletrônicas de recursos e que seria 
fácil dar-lhes sumiço, sem dizer nem quando, nem em quê baseava a conclusão.
Embora com o falso argumento de que a prisão de Temer serviria para liquidar o que chama de 
“vitimismo” do PT com a prisão de Lula – um é um molambo político, neste campo inofensivo, e 
outro era, simplesmente, o candidato favoritíssimo à Presidência – tenho de reconhecer que há 
verdade no que diz Merval Pereira, em seu comentário sobre o fato:
Diz que é “uma demonstração de força da Lava-Jato, depois da derrota que sofreu no STF. É o 
modus operandi deles, dar o troco para deixar a sensação de que não são passíveis de controle. Cada 
vez que sofrem uma derrota, dão o troco alto.”
É a assunção de que se trata de um organismo estranho à administração normal da Justiça, que 
pratica atos para “dar trocos”, e troco alto, aos que considera seus adversários políticos e jurídicos.

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