sexta-feira, 9 de novembro de 2018

COMENTÁRIO DO DIA: SE OUVIR FALAR EM CAPITALIZAÇÃO, FUJA!


BARBOSA: A CAPITALIZAÇÃO É UM DESASTRE

Pinochet criou idosos miseráveis
Sugiro a Bolsonaro já ir se precavendo das ideias mirabolantes 
de assessores
Por Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento 
Bolsonaro é o presidente eleito do Brasil. Agora cabe respeitar a decisão da maioria, garantir os 
direitos das minorias, desejar boa sorte ao próximo governo e avaliar suas propostas.
Começo com a reforma da Previdência Social, medida inevitável no próximo mandato, mas cuja 
implementação foi recentemente complicada por propostas extemporâneas de transição para um 
regime de capitalização.
Para ficar claro o que está em debate, é melhor chamar as coisas pelo nome: a maioria dos que 
propõem mudar nosso sistema previdenciário de repartição para capitalização quer, na verdade, 
reduzir o teto de benefício do INSS.
A Previdência Social é baseada no regime de repartição nas principais economias do mundo. Nesse 
sistema, as contribuições dos trabalhadores na ativa financiam os aposentados, isto é, a geração 
adulta de hoje financia os adultos de ontem com base no compromisso de que, quando forem idosos, 
serão financiados pelos adultos de amanhã.
O sistema de repartição é um regime de benefício definido. O valor da aposentadoria depende das 
contribuições do trabalhador durante sua vida ativa, mas, uma vez estabelecido o benefício na data 
de aposentadoria, o valor dele vigorará pelo restante da vida do aposentado, corrigido de acordo com 
a legislação em vigor.
No regime de capitalização, a lógica é outra, de contribuição definida. A poupança do trabalhador é 
acumulada em uma conta individual (capitalizada).
Quando chega o momento da aposentadoria, o valor acumulado na conta individual serve de base 
para o cálculo da aposentadoria. Quanto mais for poupado, maior será o valor da aposentadoria. 
Quanto mais longa for a expectativa de vida, menor será o valor do benefício.
Os dois tipos de aposentadoria podem coexistir, como já acontece no Brasil, onde o Estado é 
responsável pela Previdência Social até um valor máximo (5,8 salários mínimos hoje), enquanto o 
mercado oferece planos complementares de previdência individual.
Se o mercado já oferece planos de capitalização, por que então alguns colegas economistas 
defendem que o INSS adote o mesmo regime? A resposta é simples: para reduzir a cobertura da 
Previdência Social!
Mais especificamente, segundo ideias de alguns “economistas sem partido” (e até de assessores de 
Ciro Gomes durante a campanha), o regime de capitalização para novos contribuintes ocorreria da 
seguinte forma: o teto do INSS seria reduzido para três salários mínimos, o Tesouro poderia oferecer 
um plano individual de aposentadoria na faixa de três a seis salários mínimos (um TesouroPrev?) e, 
acima disso, o trabalhador deveria procurar alternativas no mercado.
Na prática, a transição para a capitalização tem por objetivo reduzir os direitos das novas gerações e, 
com isso, melhorar o resultado futuro do INSS. Bom para as finanças públicas, péssimo para a 
população de renda média.
Nos poucos casos nacionais em que a capitalização substituiu a Previdência Social, como no Chile 
de Pinochet, as consequências foram desastrosas. Criou-se uma legião de idosos pobres, recebendo 
menos que um salário mínimo. O Brasil não precisa seguir esse erro.
Podemos reformar nossa Previdência Social preservando o teto do INSS, via aumento do tempo e do 
percentual de contribuição para a aposentadoria, sobretudo por parte dos servidores públicos, como 
já fizeram outros países.
Nesse sentido, sugiro a Bolsonaro já ir se precavendo das ideias mirabolantes de seus assessores 
econômicos. Replicar erros da ditadura chilena dos anos 1980 será um péssimo começo para o seu 
governo.

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