Rosely Rocha
de todos os funcionários e ainda sobra dinheiro
Enquanto 62% dos brasileiros vivem o drama do endividamento e não têm condições de
pagar suas contas, os bancos continuam obtendo lucros estratosféricos ano após ano. A
explicação para este alto endividamento dos brasileiros são os juros médios cobrados de
pessoa física que passam de 52% ao ano, chegando a 280% no cartão de crédito rotativo e
mais de 300% no cheque especial.
O valor dos juros pagos pelas pessoas físicas atingiu em 2017, R$ 354,8 bilhões - 17,9%
maior que o registrado em 2016. O total pago corresponde a 372 milhões de salários
mínimos ou 8,5% de todo o consumo das famílias brasileiras no ano passado.
Isso significa que 10,8% da renda anual das famílias brasileiras foram usadas apenas para
o pagamento de juros no ano passado, segundo levantamento da Federação do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
“São recursos que saem dos bolsos das famílias e também das empresas e do governo
diretamente para o caixa do setor financeiro”, diz Gustavo Cavarzan, técnico da subseção
Dieese da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf).
Segundo o técnico, “o Brasil tem um dos maiores patamares de spread bancário do
mundo”.
O spread bancário, explica, é a diferença entre a taxa que os bancos cobram da população
nos empréstimos e a taxa que eles pagam para captar nosso dinheiro, como a poupança.
“No Brasil, essa diferença é enorme e faz os juros atingirem patamares muito altos,
garantindo, assim, o lucro dos bancos mesmo quando a economia não vai bem”, afirma.
De acordo com o técnico, os dois fatores que contribuem para essa situação são: a taxa
básica de juros real (Selic) da economia brasileira, que está entre as mais altas do mundo,
serve de referência para as taxas cobradas pelos bancos; e a enorme concentração do
mercado bancário no Brasil onde cinco bancos controlam mais de 90% das operações e
atuam como um oligopólio.
Bancos têm lucros estratosféricos
No ano passado o lucro líquido dos cinco maiores bancos (Bradesco, Itaú, Santander, Caixa
e Banco do Brasil) somou R$ 77,4 bilhões, 33,5% a mais do que o registrado em 2016,
segundo estudo do Dieese. Já nos nove primeiros meses deste ano, somente os três
maiores bancos privados do país (Bradesco, Itaú e Santander) obtiveram R$ 44 bilhões de
lucro - um crescimento médio de 10,1% em doze meses, de acordo com a Contraf.
Crédito rotativo
Para tentar reduzir esses níveis de inadimplência, em abril deste ano, o Conselho Monetário
Nacional (CMN), definiu que o pagamento mínimo da fatura de cartão de crédito passasse a
ser estabelecido pelos bancos – anteriormente era obrigatório pagar 15% do saldo total da
fatura.
Para Gustavo Cavarzan, a decisão do CNM não foi uma medida consistente para reduzir a
taxa básica real de juros da economia, nem atacou o grande poder de oligopólio dos cinco
maiores bancos que atuam no Brasil.
“Foi uma medida pontual que atua em uma linha de crédito especifica e não ataca nenhum
dos problemas estruturais que explicam porque o patamar geral de juros no Brasil é tão
elevado”, afirma o técnico.
Ele aponta que o problema do endividamento é que se dá em condições tão pouco
favoráveis de volume, prazo e custo do crédito, que leva parte das pessoas e empresas a
inadimplência e outra parte a fazerem um esforço tão grande para pagar suas dívidas que
não sobra recursos para consumo e investimento.
não sobra recursos para consumo e investimento.
“Precisaríamos combinar políticas de renegociação das dívidas atuais em melhores
condições e é possível fazer isso utilizando os bancos públicos e políticas de enfrentamento
aos fatores estruturais que prejudicam as condições de crédito no país”, afirma o técnico do
Dieese/Contraf.
Segundo Gustavo, todo esse endividamento pode representar um freio enorme para
impulsionar a atividade econômica do país, já que os juros cobrados pelos bancos das
pessoas, das empresas e do governo representam uma espécie de pedágio que todos
pagam ao setor financeiro.
“Esse pedágio no Brasil é tão alto que acaba não sobrando recursos para o resto. Portanto
os reflexos na economia são claro e absolutamente negativos do ponto de vista do
crescimento econômico, da geração de emprego, do aumento da renda”, diz Gustavo.
Taxas cobradas pelos bancos pagam salários de todos os funcionários e ainda sobra dinheiro
Além de pagar juros exorbitantes, os usuários do sistema bancário pagam por tarifas e
serviços cada vez mais caras. Em 2017, esses dois itens aumentaram 10% na comparação
com o ano anterior, somando R$ 126,4 bilhões. Esse valor varia entre 5% e 72% aos
gastos com salários e paga com folga todos os funcionários dos bancos, sem que precisem
utilizar suas receitas.
“Nos últimos anos os bancos brasileiros vêm passando por um intenso processo de
reestruturação em função da aplicação de novas tecnologias e modelos de organização
empresarial que reduziram de forma significativa o número de trabalhadores nessas
instituições e isso se mostrou uma fonte adicional de lucro para os bancos, através da
redução ou estagnação das suas despesas de pessoal e administrativas”, afirma Gustavo.
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