sábado, 14 de julho de 2018

APÓS 4 MESES, O ENCOBRIMENTO DO ASSASSINATO DE MARIELLE CONTINUA


Assassinato de Marielle: 4 meses de encobrimento
Por Gustavo Gollo

Quem são os ilustríssimos assassinos de Marielle? Tem-se alguma pista sobre eles?
Embora esteja claro, após 4 meses de encobrimento do caso, não ser permitido que os 
nomes dos digníssimos assassinos sejam expostos em “nossos” meios de comunicação, a 
cortina de fumaça erigida para ocultar suas identidades delineia bem claramente o perfil 
dos tão ilustres assassinos, como revelarei.
Notemos, desde já, que os digníssimos assassinos são tidos em tão alta conta por “nosso” 
principal meio de comunicação, que este se vê obrigado a criar pistas falsas para encobri-
los.
Recapitulemos os fatos. Marielle foi executada em 14 de março, junto com o motorista que 
conduzia. Surpreendentemente, o fato recebeu uma notoriedade sem precedentes, 
ganhando o mundo, onde assassinatos são tidos como fatos gravíssimos merecedores de 
atenção imensa, capazes de suscitar investigações sérias e imediatas resultantes, 
obrigatoriamente, no desvendamento dos casos.
A notícia do assassinato de Marielle ganhou alarde tão estupendo que chegou a ser a 
notícia mais procurada no google mundial, fato que obrigou a realização de uma 
investigação séria do crime. Recordemos que as testemunhas do assassinato haviam sido 
dispensadas pelos policiais que chegaram ao local do crime, sendo convocadas para 
prestar seus depoimentos apenas durante a reconstituição do crime, encenada um mês 
depois.
Durante quase 2 meses, após a execução, o noticiário foi bombardeado com 
numerosíssimos e exaltados clamores de indignação contra fake news desmerecedoras a 
vítima. Por todo esse tempo, quem acompanhasse as notícias tinha a impressão de que o 
verdadeiro crime, o cerne da questão, eram as fake news sobre o caso, não o assassinato. 
(Lembrando que posteriormente um processo de cassação de deputado por falta de decoro 
concernente à divulgação dessa calúnia foi arquivado por falta de interesse).
A retirada do foco dos meios de comunicação de sobre o crime, e consequente ausência de 
acompanhamento das investigações perdurou até a apresentação bombástica de um 
programa na TV Record, no dia 6 de maio. Além da confirmação de que 5 das 11 câmeras 
de trânsito do trajeto não registraram a ocorrência, o programa de TV revelou que a arma 
do crime, contrariamente ao noticiado anteriormente, havia sido uma submetralhadora 
usada pelas forças especiais da polícia e raramente por criminosos comuns.
A revelação contundente lançava fortíssimas suspeitas sobre policiais. Dois dias depois, as 
organizações Globo alardearam uma notícia forjada descaradamente com o intuito de 
desviar o foco das atenções desta que era a linha de investigação mais óbvia. Desde então, 
há mais de 2 meses, uma acusação pífia, sem nenhum fundamento, tem monopolizado 
todo o noticiário sobre o assunto.
Atentem: a Globo fabricou, deliberadamente, uma cortina de fumaça para ocultar os fatos, 
para impedir que o noticiário destacasse a linha de investigação mais óbvia.
A cortina de fumaça
No dia 8 de maio, 2 dias após a contundente revelação feita na TV pela rede Record que 
direcionaram as suspeitas co crime para policiais, o jornal O globo destacou uma outra 
suspeita, endossada enfaticamente pela TV Globo. Desde então, os noticiários têm dado 
ênfase quase total a essa linha de investigação completamente disparatada.
Em matéria de destaque, o jornal trazia à baila uma denúncia feita semanas antes por um 
policial, referido na reportagem como “testemunha”. Apesar de outras referências, apenas 
nomes foram citados na reportagem: Marcello Siciliano, vereador, e Orlando Curicica, ex-
PM, preso desde outubro de 2017. A omissão de uns 15 nomes citados pelo delator se 
estendeu ao do delegado que investiga essa linha.
No depoimento, a testemunha contou ter presenciado pelo menos quatro conversas entre 
o político e o ex-policial que, mesmo preso, ainda chefia uma milícia na Zona Oeste. Além 
disso, forneceu nomes de quatro homens que teriam sido escolhidos para o assassinato, 
agora investigados pela polícia. O depoente afirmou que, em junho do ano passado, 
testemunhou um encontro entre o vereador e o ex-PM em um restaurante na Avenida 
das Américas, no Recreio dos Bandeirantes, cujo nome foi fornecido aos policiais. Ele disse 
que ouviu os dois falando sobre Marielle.
— Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles 
estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: “Tem que ver a situação da 
Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Depois, bateu forte com a mão na mesa e 
gritou:“Marielle, piranha do Freixo”. Depois, olhando para o ex-PM, disse: “Precisamos 
resolver isso logo”— afirmou a testemunha, referindo-se a uma menção feita ao deputado 
estadual Marcelo Freixo (PSOL), de quem Marielle foi assessora durante a CPI das Milícias, 
na Assembleia Legislativa do Rio.
Na época da reunião, o ex-PM já era foragido da Justiça. Ele tinha dois mandados de prisão, 
e, em outubro, acabou sendo preso numa operação da Delegacia de Repressão às Ações 
Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE), da Coordenadoria de Recursos 
Especiais (Core) e da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança. O delator 
afirmou que o vereador e o ex-PM têm negócios em conjunto na Zona Oeste. Em seus 
depoimentos, ele mencionou os nomes de pelo menos 15 pessoas, incluindo policiais, 
bombeiros e empresários, que seriam participantes do grupo comandado pelos dois.”
Descobrimos aqui que o fato presenciado pela “testemunha” que tem norteado todo o 
noticiário sobre o crime, há mais de 2 meses, consistiu em uma conversa em local público, 
em um restaurante cujo nome, aliás, é cuidadosamente omitido na reportagem. Não ficaria 
bem para o restaurante ter seu nome associado ao de assassinos, naturalmente.
Atente, o fato em torno do qual tem orbitado todo o noticiário consiste em uma conversa 
ocorrida em junho do ano passado, 2017, em um restaurante. Este é o fato que torna o 
delator uma testemunha do crime!
Mas os detalhes mais interessantes da cortina de fumaça fabricada pelas organizações 
Globo não são as informações nela mencionadas, são suas omissões. O fato é obviamente 
pífio, uma conversa de um ano atrás, ocorrida em local público. Mas as omissões na 
reportagem são esclarecedoras. Por que apenas 2 dos mais de 15 nomes foram citados na 
reportagem? Por que o nome do denunciante foi ocultado do público? (os denunciados 
conhecem a identidade daquele que era um colaborador próximo, agora inimigo 
ressentido). Por que o nome dos executores, fornecidos pelo denunciante, foi ocultado?
A versão da defesa, raramente mostrada, dá uma pista para a resposta:
Orlando Oliveira Araújo, ex-policial militar e acusado de chefiar uma milícia da zona oeste 
do Rio de Janeiro, afirma que a testemunha-chave do caso Marielle Franco (PSOL) é um PM 
da ativa que estaria agindo por vingança. O ex-PM afirma que o delator é chefe da milícia 
que atua "em conjunto com o tráfico de drogas" no Morro do Banco, na região do 
Itanhangá, na zona oeste carioca. (…) Segundo a defesa, o ex-PM e o delator trabalhavam 
juntos com segurança de eventos e teriam brigado por uma questão referente ao trabalho. 
Ainda na versão do advogado, Araújo chefiava o grupo de "seguranças" (PMs que vendem 
seus serviços na folga, o que é conhecido como "bico") e teria afastado o policial após 
descobrir o envolvimento dele com o grupo paramilitar.”
O relato apresentado na ‘Isto é’ desvenda a causa da primeira omissão, o nome do 
denunciante, um PM “chefe da milícia que atua 'em conjunto com o tráfico de drogas'”
A causa de outra omissão evidente na reportagem da Globo fica explícita em reportagem 
da Folha SP:
Segundo a Folha, o denunciante “forneceu nomes de quatro homens que teriam sido 
escolhidos para matar Marielle. Ele disse à polícia que, no carro dos assassinos, havia um 
policial militar do 16º batalhão (Olaria), um ex-PM da Maré e outros dois homens.
Todos esses nomes foram omitidos pela Globo; soaria meio oblíqua a apresentação de 
apenas 2 dos 4 nomes.
A Folha também informa que “O PM foi submetido a uma sindicância disciplinar, mas o 
processo acabou arquivado.
Parece ser essa a mesma razão para a ocultação dos “nomes de pelo menos 15 pessoas, 
incluindo policiais, bombeiros e empresários, que seriam participantes do grupo 
comandado pelos dois” mencionados pelo denunciante.
Desse modo, se após 4 meses ainda desconhecemos a identidade dos ilustríssimos 
assassinos de Marielle, uma breve análise da cortina de fumaça erigida pela Globo para 
ocultá-los oferece um perfil bem nítido das digníssimas criaturas recebedoras de tão 
fraterna deferência. 
Vale ressaltar a exasperação do interventor federal no RJ e sua tentativa de impedir que
autoridades federais alimentem a fake news produzida pela Globo.
A camuflagem forjada pelo “nosso” mais influente meio de comunicação para encobrir a
metade dos denunciados na fake news fabricada por ele mesmo, acaba por sugerir
também, a mesma explicação para a necessidade de todo o encobrimento.
Desconsiderando-se a mentirada erigida pela Globo para ocultar os fatos centrais, soprada
a fumaça, tornam à baila as suspeitas iniciais sobre aqueles que usam o mesmo tipo
submetralhadora utilizado no crime, e que estariam aptos a desligar câmeras, ou eliminar
informações colhidas por elas, motivados pelas denúncias que Marielle acabara de fazer
sobre crimes análogos ao de sua execução.
Explicar-se-ia assim, não só o crime, mas a cumplicidade de “nossos” meios de
comunicação para com os ilustríssimos assassinos, tão diligentemente poupados, até
agora, dos mais ínfimos transtornos.
Umas constatações marginais
Um breve apanhado no noticiário político revela o mesmo estratagema baseado na
definição prévia dos nomes que devem ser omitidos das páginas policiais e dos bodes
expiatórios predestinados a ocupar seus lugares, ali.
Vem-me à mente que o estratagema poderia, também, lançar luz sobre um estranho
enigma nunca referido por “nossos” meios de comunicação, sempre ávidos por alardear
episódios de corrupção protagonizados pela Petrobrás e outras empresas brasileiras: como
as petrolíferas internacionais, estas empresas ilibadas, nunca referidas em tais escândalos
por “nossos” meios de comunicação, têm conseguido receber dádivas tão obsequiosas de
políticos notoriamente corruptos?
Uns raciocínios meio óbvios nos dão a nítida sensação de que “nossos” maiores meios de
comunicação tenham sido plantados aqui com o propósito de omitir informações e inventar
farsas para encobrir a realidade do país.
O mais aterrorizante, ao desvendar o perfil dos ilustríssimos assassinos, no entanto, é
contrastar a prestimosa deferência outorgada a eles por “nossos” meios de comunicação,
com o tratamento impingido a outros, como o ex-presidente Lula, vilipendiado
grosseiramente nas páginas policiais, tão diligentes em poupar de qualquer incômodo os
facínoras, deixando clara a opção de seus pré-julgamentos. Tal constatação revela tanto a
direção para a qual o país tem sido tangido, quanto a nojeira asquerosa na qual já estamos
imersos até o pescoço.
ATENTEMOS: os merecedores de tão prestimosas atenções da Globo, a ponto de induzi-la a
forjar cortinas de fumaça para encobrir seus crimes hediondos, são os ilustríssimos
assassinos de Marielle – dize-me com quem andas… .
Longe de atestar dificuldades para o desvendamento do caso, o despropositado atraso de 4
meses, para o resultado das investigações de uma execução cometida descaradamente,
para estabelecer quem manda e mata, sob a certeza de impunidade, revela apenas a
intensidade do arraigamento de forças tenebrosas em instituições estatais regidas e
camufladas por “nossos” mais eminentes meios de comunicação. Assim, não é nenhuma
dificuldade técnica, mas um poder tão imenso quanto hediondo, que tem impedido a
apresentação condigna da solução do caso.
Urge que se desenraíze e exponha, o mais rápido possível, toda a longa trama tecida em
torno deste crime, toda a vasta rede de cumplicidade que sustenta tão pavorosos agentes.

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