sábado, 23 de junho de 2018

A surpreendente história da mãe de Trump, que chegou aos EUA com US$ 50 no bolso


Mary Anne MacLeod tinha 50 dólares no bolso 
quando desembarcou em Nova York, em 11 de 
maio de 1930.

Ángel Bermúdez da BBC Mundo

A mulher que anos mais tarde daria à luz a Donald
Trump, o virtual candidato do Partido Republicano 
à Presidência dos Estados Unidos, entrou 
legalmente no país, vinda da Escócia.
Mas, ao contrário da versão de que primeiro visitou 
o país como turista para depois voltar uma segunda 
vez e se casar com o empreiteiro Fred Trump, os 
documentos históricos da alfândega indicam que, 
desde o princípio, Mary Anne tinha intenções de se 
radicar no país.
Seu nome aparece em registros de imigração 
digitalizados pela ONG Fundação Estátua da 
Liberdade - Ilha de Ellis, que armazena informações 
de mais de 51 milhões de viajantes que chegaram a 
Nova York por via portuária entre 1892 e 1957.
Segundo os documentos, MacLeod embarcou no 
Porto de Glasgow em 2 de maior de 1930 rumo aos 
EUA, onde chegou nove dias depois, a bordo do 
navio Transilvania.
"Veio com um visto de imigrante para obter residência permanente", afirmou à BBC Mundo, serviço 
em espanhol da BBC, Barry Moreno, historiador do Museu Nacional de Imigração da Ilha de Ellis.
O visto de imigrante, de número 26698, tinha sido emitido em Glasgow em 17 de fevereirio de 1930.
Direito de imagemFUNDAÇÃO ESTATUA DA LIBERDADE-ILHA ELLISImage 
captionFundação americana tem dados de mais de 51 milhões de pessoas que chegaram aos 
EUA entre 1892 e 1957
Os papéis aduaneiros mostram que MacLeod não pensava em regressar a seu país de origem e tinha 
a intenção de viver permanentemente nos EUA. 
"Desde o momento em que chegou, ela se via morando de vez no país. Isso se chama emigrar. Não 
há a menor dúvida a este respeito", disse à BBC a escritora Gwenda Blair, autora do livro The 
Trumps: Three Generations of Builders and a Presidential Candidate ("Os Trumps: Três Gerações de 
Construtores e um Candidato Presidencial").
Os meios de comunicação americanos frequentemente ressaltam que Trump sempre disse que sua 
mãe viajara para os EUA inicialmente como turista, sem a intenção de se radicar no país.
Para algumas pessoas, isso é uma distinção importante diante da retórica anti-imigração que marca a 
campanha de Trump para as eleições presidenciais de novembro.
Seus ataques contra imigrantes mexicanos, a quem tacha de delinquentes, provocaram discórdia, 
bem como sua promessa de proibir temporariamente a entrada de muçulmanos nos EUA.
Empregada doméstica
Nascida em Tong, um povoado na ilha de Tong, no norte da Escócia, a mãe de Trump tinha 18 anos 
quando seguiu os passos de três de suas irmãs, que já se encontravam nos EUA: Christina, Mary 
Joan e Catherine.
É o nome de Catherine, por sinal, que está na ficha de entrada nos EUA como a pessoa que receberia 
Mary Anne em Nova York.
No campo profissão, a ficha registra Mary Anne como doméstica.
"Isso pode significar uma pessoa que trabalhava em casa ou alguém que trabalhava em uma casa de 
família, limpando e cozinhando", explicou Moreno.
Trump y su madreDireito de imagemPA
Image captionUm recorte de jornal onde aparecem a irmã de Trump, Mary Anne, e a mãe deles

Qualquer que seja o sentido do termo, o certo é que McLeod voltou a utilizá-lo em setembro de 1934, quando desembarcou pela segunda vez no Porto de Nova York, novamente vindo da Escócia.
O documento de imigração desta segunda viagem, a bordo do Camerônia, revela outros aspectos relevantes de seus primeiros anos em território americano.
Em primeiro lugar, que ela permaneceu ininterruptamente nos EUA de maio de 1930 até junho de 1934, e que declarou Nova York como seu local de residência.
Moreno ressalta que, antes de viajar para a Escócia, MacLeod obteve uma permissão para reingressar nos EUA, o que teria facilitado os trâmites aduaneiros.
Origens humildes
"Ela vinha de uma família muito pobre. Houve grande emigração do povoado em que ela vivia porque, no final da Primeira Guerra Mundial, a maior parte dos homens morreu no naufrágio do barco que os trazia de volta do front", explica Michael D'Antonio, autor do livro Never Enough: Donald Trump and the Pursuit of Success("Nunca suficiente: Donald Trump e a Busca do Sucesso").
"Foi uma grande tragédia, e muitas mulheres decidiram partir ao perceber que não teriam com quem se casar. Foram para o Canadá e os EUA."
D'Antonio também menciona razões econômicas: muitos fazendeiros da ilha de Lewis perderam suas terras e tiveram que se mudar.
Porém, com base nos documentos de viagem, Moreno acredita que a situação econômica de Mary Anne não era totalmente precária na época da primeira chegada.
"Tinha dinheiro suficiente para pagar uma passagem de segunda classe, viajando em uma cabine compartilhada com outra mulher e evitando a terceira classe. Mesmo vindo como imigrante, não era tão pobre".
Cotas migratórias

Apesar de um histórico de grandes movimentos imigratórios, os EUA já tinham restrições em vigor na época em que Mary Anne chegou da Escócia.
"Havia cotas para o número de imigrantes de cada país", explica Moreno.
O controle de passageiros registrava informações que iam das cores de olhos e cabelos à quantidade de dinheiro trazida. Cada um dos recém-chegados precisava provar que trazia pelo menos US$ 50, montante que equivale a US$ 700 em valores atuais.
Mary Anne declarou esta mesma quantidade nas duas entradas.
"Se você tivesse menos de US$ 50, poderia haver dúvidas sobre sua capacidade de sobreviver nos EUA até conseguir um trabalho", diz o historiador.
Inteligente e ambiciosa
Em seu livro A Arte da Negociação, Donald Trump se refere à mãe como uma dona de casa tradicional, mas que tinha plena consciência do mundo que estava ao redor dela.
D'Antonio, por sua vez, se refere a Mary Anne como uma mulher inteligente e ambiciosa.
"Trump me disse que ele era muito competitiva e tão ambiciosa como o pai. Mas naquela época era difícil para as mulheres terem uma carreira e serem tão ambiciosas como hoje."
A mãe de Trump encontrou na caridade espaço para deixar sua marca no mundo. Quando ela morreu, em agosto de 2000, o jornal The New York Times publicou um obituário em que a descreve como filantropa, além de narrar como a família contribuia para hospitais e uma série de organizações como o Exército da Salvação e os escoteiros.
Nada mal para uma imigrante que chegou aos EUA com apenas 18 anos e US$ 50 no bolso.

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