segunda-feira, 30 de abril de 2018

José Dirceu ao Congresso em Foco: “Com Lula preso, não há chance de eu deixar o Brasil”



Do Congresso em Foco, por Fábio Gois e Basília Rodrigues

“Como vou deixar o país se o Lula está preso? Não se abandona um companheiro assim. Há erros 
que você pode cometer. Outros, não.”
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, 72 anos, condenado a mais de 40 na Operação Lava Jato
fez a afirmação acima durante encontro, em Brasília, com a reportagem do Congresso em Foco. 
Respondia a uma questão que lhe tem sido apresentada com frequência: quais as chances de fugir do 
país para descumprir uma pena que ele e seus correligionários atribuem a um processo de 
“perseguição política” ao PT e à esquerda?
Dirceu diz não ver sentido em tal ideia porque Lula, o Partido dos Trabalhadores e a “luta” se 
tornaram sua vida. Ele admite que deixar o Brasil é um conselho que tem recebido, pessoalmente ou 
por meio de mensagens, de várias pessoas, mas insiste: “A vida não é assim. Com Lula preso, não há 
chances de deixar o Brasil”.
(…)
Provocado a comentar a possibilidade de se refugiar em Cuba, onde o remanescente regime 
socialista da América Latina certamente lhe daria guarida, Dirceu solta um riso largo e ironiza:
“Tem muita gente querendo que eu vá para Cuba mesmo”, comenta, referindo-se à frase que se 
tornou recorrente entre os adversários do PT: “Vai pra Cuba!”. Enquanto recebe o repórter, aliás, 
Dirceu ouve a lendária banda cubana Buena Vista Social Club, a mesma que contribuiu para a 
aceitação de ritmos como salsa e rumba pela alta intelectualidade do Ocidente. Lembra que já morou 
em Cuba, que, para ele, é uma mistura de Minas com Bahia.
(…)
Em um primeiro momento, instantes depois da chegada da reportagem, a porta da sala se entreabriu 
para o entra e sai do advogado. Na antessala, sorvete de chocolate e água regam a expectativa sobre 
que ele diria, ou mesmo se diria algo, depois da entrevista a Mônica Bergamo, colunista da Folha 
de S.Paulo. Desde então o petista foi aconselhado por sua defesa a não mais falar com a imprensa. O 
ex-ministro sai rapidamente, dirige algumas palavras de cumprimento, mas volta para a sala para 
mais meia hora de conversa privada com seu interlocutor.
À espera do cárcere
Sim, Dirceu aceitaria falar mais uma vez. Com uma camisa preta sem estampa, calça jeans e 
mocassim escuro, o petista – que, apesar das restrições impostas pela vida de condenado, conserva 
grande influência em seu partido – parece bem humorado, apesar da perspectiva de ter de ficar, 
segundo seus cálculos, “quatro ou cinco anos” preso. Dirceu espera ser beneficiado não só pela 
progressão de pena por bom comportamento, mas também por trabalhos e estudos que podem levar à 
diminuição do tempo de detenção. Em tese, pode receber até anistia ou indulto, apesar do 
endurecimento imposto ao benefício pelo Supremo Tribunal Federal no final do ano passado.
Com fala grave e pausada marcada pelo acentuado sotaque mineiro, José Dirceu diz ter voltado a ver 
muitas séries de TV depois de um ano e nove meses preso no Complexo Médico Prisional de 
Pinhais, região metropolitana de Curitiba (PR), onde cumpria pena antes de receber habeas corpus do 
STF em 2 de maio de 2017. E é justamente isso o que quer fazer na iminência de ser preso 
novamente: passar mais tempo com a família, de preferência vendo seriados. “Quero me divertir”, 
diz, sem esconder um tanto de resignação em saber que voltará ao cárcere a qualquer momento.
Menciona algumas das obras que viu recentemente: a produção espanhola Casa de Papel, que narra 
um assalto à Casa da Moeda; a série Alienista, que relata a caçada a um serial killer que aterroriza 
Nova York; e, entre as que mais gostou, Marte, por se tratar de ficção científica. “Eu adoro assistir 
ficção científica”, completa.
(…)
Em vez de tristeza, resignação
Diante do repórter, demonstra grande cuidado com as palavras. Não quer fazer declarações políticas. 
Ressalta que não é de falar, mas de fazer. Na rua, conta que é muitas vezes reconhecido por 
motoristas de táxi e de Uber. Vários deles, acrescenta, pedem para tirar foto com ele. Receber 
amigos, determinados a visitá-lo e a serem fotografados com ele antes de o ex-ministro voltar à 
prisão, tem sido outro compromisso constante em sua agenda..
O olhar de Dirceu, assim como o estado de espírito de amigos que aguardam para encontrá-lo, não é 
de tristeza, mas de resignação. “Cada dia é um dia”, afirma o ex-ministro.
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