terça-feira, 4 de julho de 2017

“BRASILEIRO NATO, CHEFE DE FAMÍLIA E COM CARREIRA ELOGIÁVEL”

 
“Brasileiro nato, chefe de família, com carreira política elogiável”... A definição imortal de 
Marco Aurélio, do STF, para uma casta

Por Kiko Nogueira 

O segundo artigo mais imbecil sobre a crise política — o primeiro é de um lobista metido em 
operação da PF chamado Mario Rosa — é de Carlos Heitor Cony.
Imbecil, pero revelador.
Cony resume numa crônica 500 anos de Brasil, numa defesa canalha de Aécio Neves, Sérgio Cabral 
e Rodrigo Maia.
Ele escreve que “sem entrar no mérito pessoal, político e administrativo, sinto-me obrigado a realçar 
três personagens que estão na boca das matildes nestes tempos de delações, propinas e acusações, 
nem todas provadas. São relativamente jovens e têm em comum uma ascendência brilhante”.
“Não sou amigo pessoal de nenhum deles, mas tive e tenho respeito pelos nomes que herdaram de 
seus pais”, ressalta.
Aécio, diz ele, pode ser considerado seu primo. “Temos um avô em comum”, revela. Cony torce para 
que o mineiro possa recuperar “o prestígio político e a simpatia que sempre teve.”
Os meninos do clube de Cony foram flagrados cometendo os mais diversos crimes. O pai do ex-
governador do Rio, aliás, renega o filho.
Mas para Cony são travessuras. A rapaziada tem autorização para fazer o que faz. Eles têm licença 
para matar porque são de famílias boas.
Cony produziu uma versão sub literária da sentença do ministro do STF Marco Aurélio Mello dando 
de volta para Aécio Neves a cadeira no Senado.
Para Marco Aurélio, Aécio, aquele mesmo que foi flagrado acertando propina com um empresário 
bandido — sem contar a vida pregressa em Minas —, é “brasileiro nato, chefe de família, com 
carreira política elogiável”.
Continua: “Deputado federal por quatro vezes, ex-presidente da Câmara dos Deputados, governador 
de Minas Gerais em dois mandatos consecutivos, o segundo colocado nas eleições à Presidência da 
República de 2014 – ditas fraudadas”.
Aécio tem “fortes elos com o Brasil”.
Acima de qualquer suspeita, enfim.
Geddel Vieira Lima pertence a essa casta. É um coronel baiano cuja família sobrevive da rapinagem 
naquele estado há décadas. Tradicionalíssimos.
Formado em administração de empresas pela Universidade de Brasília, é natural de Salvador. Iniciou-
se como assessor do pai, o ex-deputado Afrísio Vieira Lima, morto neste ano.
Na década de 80 foi nomeado diretor do antigo Banco do Estado da Bahia pelo então governador 
Antônio Carlos Magalhães, cuja família era aliada à dele. Pouco tempo depois foi demitido por 
ACM, acusado de repassar informações privilegiadas para investidores.
Em 1990, filiou-se ao PMDB, partido pelo qual foi eleito cinco vezes deputado federal. No 
Congresso, foi líder de bancada, presidente da Comissão de Finanças e Tributação e primeiro 
secretário da Mesa Diretora.
Presidente do PMDB na Bahia, foi um dos que se manifestaram pelo rompimento do partido com o 
governo Dilma. O irmão, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), é suspeito de receber R$ 1 
milhão da Odebrecht.
Aos 57 anos, o braço direito de Temer é alvo de denúncias desde os 25.
A certeza de que fazia parte da patota do Cony, a dos inimputáveis, fez com que Geddel delinquisse 
até o fim.
Como cravaria o ministro Marco Aurélio Mello, ele é “brasileiro nato, chefe de família, com carreira 
política elogiável”.
Um amigo que atualmente mora no Rio me falou que cruza com Carlos Heitor Tony em sua corrida 
diária na cenográfica Lagoa Rodrigo de Freitas.
O velho desce do prédio de sunga preta, numa cadeira de rodas, e fuma um charuto ao sol. É 
escoltado por dois cuidadores, um negro e uma negra altos e fortes, solenemente ignorados até a hora 
em que voltam a ser úteis.
As babás sabem que ali está um cidadão de bem que precisa ser preservado da Justiça.
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