segunda-feira, 12 de junho de 2017

AS RUAS E AS URNAS


Em visita recente, o produtor Luiz Carlos
Barreto lembrou-me de que o filme "Terra em 
Transe", clássico de Glauber Rocha, completa 
meio século. Não pude deixar de comentar que, 
novamente, o Brasil está em transe.
A única solução razoável, antes como agora, é 
uma catarse, uma revolução política, econômica, 
social e cultural. Não é possível um acordo com 
quem rasgou o pacto constitucional de 1988 e 
atropelou a soberania popular.
Os golpistas e seus avalistas, ao derrubarem um 
governo legal e legítimo no intuito de revogar direitos e conquistas históricas do povo brasileiro, 
puxaram a faca e cometeram crime de alta traição à democracia.
Romperam o fio da história e colocaram em risco nossa soberania. Querem nos reduzir, de novo, à 
linha auxiliar do império.
A coalizão golpista deu origem a um governo abarrotado de históricos corruptos. Nada disso, porém, 
importa aos falsos santarrões que incensam a Operação Lava Jato, desde que os usurpadores fossem 
úteis para a aplicação de reformas que destruíssem o legado petista, a herança trabalhista e os êxitos 
do último processo constituinte.
Olhando e revisitando a história de nosso país, sabemos o que está em jogo: o desmonte do recente e 
precário Estado de bem-estar social, previsto na Constituição de 1988 e implementado durante as 
administrações de Lula e Dilma Rousseff.
Assalta-se a renda do trabalho para garantir o pagamento de juros exorbitantes, a ampliação da taxa 
de lucro das grandes corporações e a retomada dos fundos públicos pelas camadas mais ricas.
Os golpistas não hesitaram em sabotar o governo Dilma. Decretaram verdadeiro apagão nos 
investimentos e créditos, ampliando a recessão, levando pânico aos cidadãos e paralisando o país.
Tratou-se de um vale-tudo para recuperar o comando do Estado e impor uma agenda rejeitada pelos 
eleitores desde 2002.
Não se vacilou em pisotear as regras democráticas e forjar um arremedo de regime policial, no qual 
se opera a serviço de objetivos político-ideológicos.
O Brasil precisa de liberdade para decidir seu futuro, com eleições diretas, um novo governo popular 
e a convocação de Constituinte soberana. É vital romper a camisa de força do rentismo e da 
concentração de riqueza, reformar os sistemas financeiro e tributário. Só assim viabilizaremos o 
desenvolvimento econômico, social e cultural.
Essa tarefa é histórica e pressupõe superar os limites comprovados dos governos petistas -apesar dos 
avanços reformistas, ainda não transformamos as estruturas de nossa sociedade e do poder político.
Não há espaço para conciliação. É necessário, para o bem-estar social do país, dar fim à armadilha de 
uma falsa harmonia nacional e um ludibrioso salvacionismo contra a corrupção.
O horizonte das forças populares e de esquerda deve ir além das próximas eleições presidenciais, 
agora ou no próximo ano. Podemos até vencer, mas sem ilusões: sob quaisquer circunstâncias, nosso 
norte é o avanço no rumo de uma revolução política e social, democrática.
A meta é lutar, resistir e preparar um governo de amplas reformas. Sob a proteção de um novo pacto 
constitucional, originário das urnas, se a casa-grande voltar ao leito da democracia. Pela força 
rebelde das ruas, se nossas elites continuarem de costas para a nação.



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