Dia do golpe de 64
por : Paulo Nogueira
Está em curso um golpe? Ou, mais precisamente, uma tentativa de golpe?
Sim.
A direita brasileira faz sempre isso. Ou tenta fazer.
Não se pode alegar surpresa. 1954 foi assim. 1964 foi assim.
É sempre assim.
Quando imagina que velhas mamatas e privilégios estão em risco, a direita brasileira – uma das mais
predadoras do universo — parte para o golpe.
Isso, ao longo da história, se provou mais fácil do que o penoso caminho das urnas.
Mudam as circunstâncias. Em 1954, você tinha a voz de Carlos Lacerda, o Corvo, símbolo da
Isso, ao longo da história, se provou mais fácil do que o penoso caminho das urnas.
Mudam as circunstâncias. Em 1954, você tinha a voz de Carlos Lacerda, o Corvo, símbolo da
imprensa reacionária nacional.
Você tinha também militares formados sob a égide da Guerra Fria, visceralmente conservadores – e
loucos para sair das casernas.
Em 1964, você tinha, fora Lacerda e os militares, os Estados Unidos, ávidos por consolidar países
Em 1964, você tinha, fora Lacerda e os militares, os Estados Unidos, ávidos por consolidar países
como o Brasil como seu quintal.
Em 2015, não existe mais Lacerda, não existem mais militares depois do fracasso espetacular da
Em 2015, não existe mais Lacerda, não existem mais militares depois do fracasso espetacular da
ditadura, não existem mais tropas americanas dispostas a assegurar a vitória dos golpistas num eventual
confronto no Brasil.
Mas existem duas coisas. Uma é velho hábito da direita de tirar da frente qualquer ameaça à sua abjeta
Mas existem duas coisas. Uma é velho hábito da direita de tirar da frente qualquer ameaça à sua abjeta
hegemonia política e econômica.
E a outra são novas formas de fazer o que sempre gostaram de fazer. O nome da arma, agora, é
E a outra são novas formas de fazer o que sempre gostaram de fazer. O nome da arma, agora, é
impeachment.
Você – a direita — venezueliza o país: cria uma situação de polarização extrema. Promove, pela mídia,
Você – a direita — venezueliza o país: cria uma situação de polarização extrema. Promove, pela mídia,
uma lavagem cerebral na opinião pública. E depois instala um processo de impeachment no Congresso.
A fórmula foi testada, com sucesso, no Paraguai. Mesmo no Brasil funcionou para derrubar Collor.
É o que está ocorrendo?
Dura questão. Mas você conhece a história do elefante. Você não sabe se é mesmo um elefante o que
A fórmula foi testada, com sucesso, no Paraguai. Mesmo no Brasil funcionou para derrubar Collor.
É o que está ocorrendo?
Dura questão. Mas você conhece a história do elefante. Você não sabe se é mesmo um elefante o que
avistou. Mas tem trompa de elefante, orelhas de elefante, peso de elefante, patas de elefante, andar de
elefante.
Em 1954 era um elefante, em 1964 também e agora cada um dê seu palpite.
Este expediente não foi usado contra Lula, no Mensalão, por medo, por covardia. Havia o receio de
Este expediente não foi usado contra Lula, no Mensalão, por medo, por covardia. Havia o receio de
que as forças sociais petistas – sindicatos, UNE etc – paralisassem o país.
O tempo passou, e hoje a direita parece descrer do poder de mobilização social do PT.
Nos protestos de 2013, a Maré Vermelha do PT foi um fiasco diante da capacidade de aglutinação de
O tempo passou, e hoje a direita parece descrer do poder de mobilização social do PT.
Nos protestos de 2013, a Maré Vermelha do PT foi um fiasco diante da capacidade de aglutinação de
grupos como o Passe Livre.
É dentro desse quadro que a direita se anima agora. A militância petista parece, para muitos, gorda,
É dentro desse quadro que a direita se anima agora. A militância petista parece, para muitos, gorda,
envelhecida e de alguma forma deslocada no tempo.
Hora, portanto, de fazer o que sempre foi feito: apear a esquerda, ou aquilo que um dia foi esquerda.
O desfecho só não será o clássico caso as forças sociais petistas demonstrem claramente que não estão
Hora, portanto, de fazer o que sempre foi feito: apear a esquerda, ou aquilo que um dia foi esquerda.
O desfecho só não será o clássico caso as forças sociais petistas demonstrem claramente que não estão
gordas, envelhecidas e deslocadas no tempo.
Que ainda pulsam. Que ainda vivem. Que são capazes de defender a democracia e o voto de 54
Que ainda pulsam. Que ainda vivem. Que são capazes de defender a democracia e o voto de 54
milhões de brasileiros.
Há um lugar, um único lugar, para mostrar que uma eventual tentativa de golpe receberia a devida
Há um lugar, um único lugar, para mostrar que uma eventual tentativa de golpe receberia a devida
resposta: as ruas.
As ruas têm que gritar para eles: sem aventuras, amigos, sem aventuras.
Se este grito não for dado, 2015 pode repetir 1954 e 1964, por outros meios mas com os mesmos
As ruas têm que gritar para eles: sem aventuras, amigos, sem aventuras.
Se este grito não for dado, 2015 pode repetir 1954 e 1964, por outros meios mas com os mesmos
ingredientes.
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