quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O FIM DO LULISMO ?



Luis Nassif


O professor da USP (Universidade de São Paulo) constatou que praticamente nenhum aluno tem a 
mais remota referência sobre a ditadura, as diretas, os comícios da Vila Euclides, o impeachment de 
Collor, o plano Real.
Ontem participei da Bienal da UNE (União Nacional dos Estudantes). A pauta está a léguas de 
distâncias dos embates PT x PSDB. Nos anos 60, os temas nacionais eram a seca do nordeste, a 
alfabetização dos adultos, conduzidos por lideranças que, a partir de São Paulo e Rio, tentavam 
comandar o mundo.
Hoje em dia, a inclusão de minorias, a integração e a diversidade cultural, o "empoderamento" (termo 
preferido) das políticas públicas, a democratização das mídias, a conquista dos espaços públicos 
tornaram-se bandeiras. Cada grupo é protagonista de si mesmo. Não se aceitam mais as lideranças 
providenciais.
***
Quando se sai do mundo virtual da mídia e da política tradicional e se mergulha nos diversos 
segmentos sociais, constata-se que fechou-se um ciclo, brilhantemente iniciado pela Constituição de 
1988 e brilhantemente concluído com o lulismo e a inclusão de 40 milhões de pessoas no mercado.
Foi o fecho de uma corrida inesquecível, que sepultou a ditadura, libertou o país da pesadíssima 
burocratização do regime militar, inaugurou a democracia, descobriu a democracia social, venceu a 
inflação e, pela primeira vez na história, atacou de frente o desafio de reduzir a desigualdade social.
É um período que entra para a história, no qual os protagonistas foram políticos como Ulisses, 
Tancredo, Covas, FHC, Lula, Dilma, empresários como Antonio Ermírio, Jorge Gerdau, Rolim 
Amaro, lideranças populares como João Pedro Stédile, sindicalistas como Vicentinho, Marinho, 
alemão, economistas, jornalistas, cada qual dando sua contribuição.
Mas esse ciclo acabou, tornou-se página da história, deixando plantadas novas virtudes políticas, 
mantendo velhos vícios, promovendo avanços inacreditáveis e paralisias chocantes, mas acabou. 
Repetindo a-c-a-b-o-u.
***
A nova política terá que se refazer em cima de novos valores, novos mitos e novos perfis de liderança.
Em seminário do ano passado, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo 
Lewandowski deu uma aula magistral sobre a "era dos direitos".
Ao longo da história, os direitos foram sendo aceitos lentamente no Brasil. Sabe-se lá se a herança 
escravagista, cartorial e outras pragas que, plantadas em tempos imemoriais, amarraram o florescimento 
do país como ervas daninhas sugando a árvore que se faz lentamente.
A herança maldita continua incólume, na cobertura anacrônica dos jornais, no preconceito e na 
intolerância que afloram nas redes sociais, na aridez dos partidos políticos. Mas são vagidos de fim de 
ciclo.
De repente, tudo fica velhíssimo, a erudição superficial de FHC, o racionalismo raso de Dilma, o rosto 
agourento de Serra, a sombra diluída de Lula.
O que virá pela frente, sabe-se lá. O novo está sendo precedido por terremotos, falta de rumos dos 
quais emergirão os Eduardos Cunhas e Renans. Mas o novo está vindo com toda força.
A caixa de Pandora da democratização está definitivamente escancarada.
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