Por: Miguel do Rosário
A entrevista de Thomas Piketty, economista francês que lançou, há pouco, o livro O capitalismo no
Século XXI, considerado um dos livros sobre economia política mais importantes das últimas décadas,
para o blog Diário do Centro do Mundo, constitui um marco para a comunicação no Brasil.
Mais um dentre tantos. Falemos disso, porém, em outra ocasião. Agora falemos da entrevista em si,
Mais um dentre tantos. Falemos disso, porém, em outra ocasião. Agora falemos da entrevista em si,
feita pelo jornalista Pedro Zambarda de Araújo.
Piketty é uma figura incômoda para a nossa mídia corporativa, dominada por uma direita hidrófoba,
plutocrata e malandramente udenista.
É um sujeito assumidamente de esquerda, progressista, profundamente democrático.
Não é, porém, maniqueísta, do tipo que associa a esquerda ao bem puro e a direita ao mal supremo.
Não é, porém, maniqueísta, do tipo que associa a esquerda ao bem puro e a direita ao mal supremo.
Uma esquerda, sobretudo, e acima de tudo, sensata.
Sabe que há vários tipos de esquerda e direita, e que o melhor lado de ambos se encontram em alguns
lugares da doutrina democrática, sobretudo quando há afinidade em questões de liberdade individual e
direitos humanos.
Em sua entrevista, respondeu diretamente às perguntas sobre o nosso governo e deixou bem claro:
“Tenho uma simpatia pelo PT, mas ele pode trabalhar de uma maneira melhor.”
“Tenho uma simpatia pelo PT, mas ele pode trabalhar de uma maneira melhor.”
Reproduzo abaixo os trechos que interessam mais ao nosso debate político imediato.
A íntegra pode ser lida aqui.
*
DCM: Você disse que a última reforma tributária no Brasil foi em 1960. Nós, brasileiros, estamos
DCM: Você disse que a última reforma tributária no Brasil foi em 1960. Nós, brasileiros, estamos
muito lentos para cuidar de nossos impostos contra a desigualdade social?
Piketty: Disse que a última grande alteração no Imposto de Renda brasileiro foi em 1960, mas
ocorreram algumas mudanças tributárias desde então. Mas é verdade que vocês precisam de uma
reforma ampla nos impostos pelo menos há 15 anos. Adaptações tributárias com taxas progressivas e
proporcionais podem ser boas para a realidade de hoje, de um novo século.
Nos anos de Lula e Dilma, não foram realizadas mudanças neste sentido. Eu acho que isso prossegue
como uma mudança importante e necessária ao Brasil. O sistema tributário brasileiro não é nada
progressista, possui muita taxação indireta que poderia se converter em impostos diretos adequados às
rendas. Vocês também têm uma taxação muito pequena na tributação sobre heranças e propriedades.
Para fazer isso, uma reforma nos impostos é uma necessidade.
Qual é a sua opinião da economia sob os governos do PT?
Eu acho que o Partido dos Trabalhadores fez um ótimo governo do ponto de vista social, mas poderia
fazer mais. E sinceramente não entendo o pessimismo econômico de algumas pessoas com mais um
governo de Dilma. Criticam os eleitores mais pobres por terem votado após receber benefícios estatais.
Eu acho justo votar em Dilma Rousseff por receber o Bolsa Família e não vejo, sinceramente, nenhum
problema nisso, assim como outras pessoas preferem outros candidatos. Mas parece algo das pessoas
aqui de São Paulo, enquanto outras regiões, como o norte e o nordeste, pensam de maneira diferente.
O que um segundo mandato de Dilma Rousseff pode fazer de diferente?
Pode fazer uma reforma tributária com impostos progressivos, taxando os mais ricos. O governo
também pode buscar uma transparência maior do ponto de vista da renda e da distribuição de riqueza.
É uma boa maneira de responder à onda de críticas sobre corrupção e falta de informações. Tenho uma
simpatia pelo PT, mas ele pode trabalhar de uma maneira melhor.
Existe um preconceito sobre os impostos para os mais ricos? Os integrantes do chamado 1% do
extrato social utilizam a grande mídia para impor sua opinião internacionalmente?
Sim, isso existe e é um problema. Quando você tem uma porção de desigualdades, eles [os ricos]
utilizam sua influência através da mídia, principalmente através dos veículos financiados de forma
privada, que são guiados pelo dinheiro, e isso se tornou grande sobretudo nos Estados Unidos. No
entanto, mesmo com isso, acredito que as forças democráticas se tornaram mais fortes e é um fato que,
dentro da história da desigualdade, a taxação descrita pelo meu livro provocará um embate de
movimentos de massa pacíficos para o futuro.
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