quinta-feira, 29 de maio de 2014

Demência: Alckmin se prepara para 'emergências nucleares' e terrorismo


Governo paulista põe à disposição do Mundial 11 hospitais, 120 médicos e chuveiros infláveis. Se 
faltar comunicação, cinco mil exemplares de dicionário em onze idiomas estarão à mão.A julgar 
pelo plano para a saúde durante a Copa, Alckmin espera por uma catástrofe.

São Paulo – O secretário estadual de Saúde de São Paulo, David Uip, anunciou ontem (28) o plano de saúde do governo estadual para o atendimento durante a Copa, que começa no próximo dia 12. Classificada como inédita para atender a vítimas de desastres e catástrofes em eventos de massa, a estratégia, que recebe o nome de "plano de contingência", reflete a expectativa de que o Mundial se transforme numa hecatombe.
Tanto que, conforme a própria página da Saúde, o estado está preparado para socorrer milhares de vítimas de bioterrorismo, armas químicas e biológicas, ações táticas e emergências nucleares.
O investimento anunciado é que parece menos ambicioso: R$ 8,2 milhões.
"A Copa é um evento de massa gigantesco, atraindo torcedores brasileiros e turistas dos quatro cantos do mundo. Os olhos de três bilhões e meio de pessoas se voltarão para o que acontecer no Brasil e em São Paulo. Por isso São Paulo se preparou para garantir a devida estrutura de resgate e atendimento a eventuais vítimas de desastres, com diversos profissionais altamente preparados para agir de forma rápida e eficiente", afirma David Uip.
Para dar conta de todo esse atendimento, nos dias de jogos serão colocados de prontidão médicos e enfermeiros no interior da Arena Corinthians (Itaquerão) e nas imediações, "num raio de um quilômetro". Esses profissionais contarão com "hospitais de campanha" que funcionarão em tendas infláveis, com diversos equipamentos especiais, kits de primeiros socorros e antídotos para assistência a vítimas de bioterrorismo e emergências químicas. E ainda contarão com a proteção de botas, luvas, máscaras e roupas especiais para emergências químicas e biológicas, tenda de pressão negativa e macas para transporte de vítimas contaminadas, entre outros materiais.
Torre de Babel
Conforme a secretaria, para facilitar o atendimento aos turistas estrangeiros, as equipes de saúde terão à disposição cinco mil exemplares de um dicionário que traduz em 11 idiomas nomes de partes do corpo humano, doenças, sintomas, diagnósticos e outras expressões usadas por médicos e enfermeiros
Ao longo de todo o Mundial, médicos do Grupo de Resgate e Atenção às Urgências e Emergências (Grau) – a "Tropa de Elite do resgate médico estadual" – estarão equipados com uma mochila contendo os principais materiais de atendimento pré-hospitalar, kits com diferentes tipos de antídotos para desintoxicação dos pacientes no caso de ataques ou acidentes com produtos tóxicos ou mesmo no caso de emergências químicas e bioterrorismo.
Para garantir a descontaminação de eventuais vítimas de emergências químicas e bioterrorismo, haverá duas barracas-chuveiro, com 10 chuveiros infláveis, que serão distribuídos a hospitais estratégicos conforme definição da própria secretaria. Esses hospitais, que contarão com apoio do Corpo de Bombeiros e das Forças Armadas, receberão ainda antídotos "específicos para os casos de envenenamento por cianeto e até mesmo por armas químicas, como gás sarin".
Prontidão
Ainda segundo a Secretaria de Saúde, em cada partida no Itaquerão dois médicos e dois enfermeiros da sua "Tropa de Elite" estarão de prontidão para auxiliar a equipe da Fifa em casos de contingências, na prestação do primeiro atendimento. Para isso terão apoio de um médico na Central de Regulação para o encaminhamento de vítimas aos hospitais da região. Também haverá um médico no Centro Integrado de Comando e Controle Regional.
Todos os 15 hospitais estaduais – sob gestão direta ou de OS – da região metropolitana entregaram à secretaria seus respectivos Planos de Contingência para atendimento de vítimas de desastres.
Na zona leste o governo contará com os hospitais Santa Marcelina (Itaquera), Geral de Vila Alpina, Geral do Itaim Paulista, Geral de São Mateus, Estadual de Sapopemba, Geral de Guaianases, além dos municipais do Tatuapé, Prof. Alípio Correa Neto, Tide Setúbal e Valdomiro de Paula. No ABC paulista, o governo estadual vai colocar de prontidão os hospitais Estadual de Santo André, de Diadema, Geral de Guarulhos e Padre Bento, em Guarulhos, e Regional de Ferraz de Vasconcelos. E em "situação excepcional, com milhares de vítimas, todos os hospitais da região metropolitana serão acionados". O hospital mais próximo do estádio é o Santa Marcelina de Itaquera.
A Fundação Pró-Sangue, responsável por abastecer 128 hospitais na Grande São Paulo, também foi escalada para elaborar um plano para gerenciamento de atendimento a desastres e catástrofes.
E como a gestão Alckmin considera a possibilidade de uma situação excepcional, com milhares de vítimas inclusive nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos e no porto de Santos, vai somar ainda outros onze, entre eles o Hospital das Clínicas, a Santa Casa de São Paulo e o Hospital São Paulo, hospital universitário ligado à Universidade Federal de São Paulo atualmente gerido pela OS SPDM, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, presidida pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, conhecido também por criticar a descriminalização das drogas.
Mão no fogo
Na última terça-feira, em reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa para a qual foi convidado a dar esclarecimentos sobre a falta de transparência na gestão dos hospitais estaduais pelas OSs e conflitos de interesse em ações da Secretaria de Saúde, Uip foi ferrenho ao defender Laranjeira.
Nas palavras do secretário, Laranjeira é um dos homens mais importantes e estudiosos, um dos grandes talentos do setor. "Indivíduo de absoluta seriedade. Tem compromisso com o estado sem ganhar um tostão. Pelo portal da transparência, quem quiser ver, acesse e verá que ele coordena um projeto sem ganhar um tostão. É um daqueles sonhadores beneméritos e é presidente de uma OS onde também não ganha nem um tostão.
Quem conhece Laranjeira, como eu conheço há 30 anos, sabe que é um homem bem-sucedido na clinica particular dele. E faz o que está fazendo por benemerência. Sou o primeiro a depor a favor: esse é um homem que vale a pena. Junta ciência, integridade, assistência de desprendimento, uma pessoa que eu viria aqui defender quantas vezes fossem necessárias. Um indivíduo muito acima da média. Fico até triste quando se cogita alguma coisa porque ele não é merecedor."
No começo de abril, a SPDM, uma das maiores OSs e das mais envolvidas em suspeitas de irregularidades, foi contratada para gerir o futuro hospital de dependentes químicos da Cracolândia, na região central da capital paulista. O hospital integra o programa estadual Recomeço, comandado por Laranjeira desde maio de 2013.
Uip também desconversou quando foi questionado pelo deputado Gerson Bittencourt (PT) sobre a falta de transparência nos relatórios das OSs. Segundo um levantamento do qual participou o parlamentar em 2012, há repasse de recursos por serviços que não foram prestados, verbas para custeio de medicamentos com preços acima dos informados nas bolsas eletrônicas de compras e falta de conselho gestor para fiscalizar e aprovar as contas envolvendo essas organizações. Foi detectado rombo financeiro em 12 dos 23 hospitais geridos por essas entidades no estado.
Em 2012, conforme Bittencourt, as unidades administradas pelo próprio estado receberam recursos da ordem de R$ 5,1 bilhões e as OSs, de R$ 4,6 bilhões. Chama a atenção, diz o deputado, que entre 2008 e 2012, os recursos repassados àquelas entidades aumentaram 268%.
Uip se limitou a dizer que a Secretaria de Saúde trabalha pela transparência e que vai aprimorar a difusão de informações.
Em oito meses à frente da pasta, o infectologista é autor de diversas medidas arrojadas. No final do ano passado ele criou o Conselho de Gestão, constituído por diversos empresários, como Alberto Saraiva, médico pela Santa Casa e dono do Habib's. Na ocasião, Uip se saiu com uma explicação curiosa: "Muitos me perguntaram o que o Habib's tem a ver com o conselho. Ora, se o cara vende mais de 600 milhões de esfirras por ano em 400 unidades, ninguém entende mais do que ele em atendimento e logística para ajudar a diminuir a fila pelo atendimento."
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