segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013: A hora do PT: um ano novo digno desse nome

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Por Saulo Leblon

Os fatos caminham à frente das idéias. Mas é preciso ajudá-los com a materialidade destas para que a história possa girar a sua roda e sancionar os novos sujeitos, que por sua vez vão protagonizar os fatos fundadores do período seguinte. Assim sucessivamente.
O nascimento de um partido -- um verdadeiro partido -- representa de certa forma a fusão desses diferentes momentos. É ao mesmo tempo um fato, uma ideia e um sujeito.
Mas até quando?
A pergunta reverbera o divisor vivido hoje pelo PT. Em que medida o partido ainda persiste como portador do tríplice mandato da história?
Mais que isso: quais forças e que lideranças serão capazes de conduzir hoje a renovação desse mandato no horizonte dos desafios marmorizados na crise da ordem neoliberal?
Fundado em fevereiro de 1980, o PT completa 33 anos em 2013.
Quase um terço de sua existência se deu no comando da Nação. Isso propiciou aos quadros dirigentes um acervo único de experiência nas condições da política brasileira.
Com Dilma, o PT completa o terceiro mandato presidencial.Não se pode dizer mais, como se dizia em 2002, que esse partido não sabia governar o capitalismo brasileiro.
O aprendizado teve um preço e marcou o rosto e a alma petista. Ademais da experiência ímpar, ele gerou, também, um escopo de responsabilidades e compromissos cujo peso tende a frear o ímpeto renovador da legenda.
A frase 'o interesse dos gabinetes passa a predominar sobre as inquietações das bases' serve indistintamente a legendas progressistas que ascenderam ao poder.
Tampouco é estranha ao PT.
O quanto predominará no enfretamento da pauta pre-agendada para 2013 e 2014 é a interrogação que paira não apenas sobre o destino do partido.
Não se trata de questão particular aos petistas. Ela fala à democracia e ao destino do desenvolvimento na próxima década. Nesse sentido à presente e futura geração de brasileiros.
O PT enfrentará de agora em diante uma situação singular.
Seu peso específico na sociedade nunca foi tão relevante. A disjuntiva é única na história nacional: se esse partido progressista souber avançar à contrapelo da estagnação inerente à passagem pelo poder, mudar o horizonte brasileiro; se tropeçar ou se acanhar, seu fracasso será também em grande medida o fracasso da Nação.
A calcificação tem sido a regra histórica. Mas a história não é fatalidade. E o PT decide sua sorte em meio a contrapesos poderosos.
De alguma forma a trajetória do partido e a das forças progressistas reordenadas ao seu redor foi condicionada nessa última década por dois impulsos.
Um primeiro, de predominância defensiva, pode ser arbitrariamente delimitado entre a chegada ao governo, em 2002, até a reeleição, em 2006. O segundo, de transição, respondeu ao colapso da ordem neoliberal, partir de 2008, até os nossos dias.
Colapso cambial e cerco conservador marcaram o primeiro ciclo, de natureza quase reflexa, encerrado na reeleição de 2006, em meio às denúncias do chamado mensalão.
Inicia-se, então, e de novo com a ressalva da demarcação rudimentar, a travessia de uma agenda econômica defensiva para um registro de maior margem de manobra ideológica, ofertado ao partido pela desordem neoliberal capitalista.
A condenação sem provas de algumas de suas mais expressivas lideranças na Ação Penal 470, num grotesco episódio do Direito que maculou o Judiciário e anexou o STF ao ativismo midiático conservador, adiciona um complicador e uma ruptura a esse percurso,a partir de 2013.
Em que medida o partido saberá andar no trilho duplo, que permitirá encadear a reação ao arbítrio ao impulso renovador de sua agenda? Sem se perder na batalha do dia anterior, tampouco sacrificar e desguarnecer sua estrutura de quadros que ainda lhe são imprescindíveis?
Trata-se de um teste de superação da máquina e dos dirigentes petistas. Um teste único na história da esquerda brasileira. Vale a pena vivenciá-lo de forma engajada.
Nem de longe é um teste para ser travado exclusivamente em acertos de conta internos.
Seu êxito requer um aggionamento da vida democrática do partido, desde a base, até a reativaçao da caldeira intelectual, capaz --juntos-- de sacudir a modorra percolada dos gabinetes.
A questão é saber quem conseguirá catalisar essas transformações para dar um rosto novo ao PT.
Essa liderança não está pronta. O que pode ser dramático: temos agendas sem um núcleo porta-voz de peso. Mas também pode ser auspicioso:abre-se um espaço de renovação programática e militante.
Decorre daí a questão que nos leva de volta ao começo da conversa: em que medida o PT reúne energias e inquietações para voltar a ser, ao mesmo tempo, um fato, uma ideia e um sujeito do próximo ciclo do desenvolvimento brasileiro?
Se os desafios são imensos --emersos em um vale tudo do desespero midiático conservador- os trunfos de partida não são menores.
A consciência do divisor histórico sacode a modorra partidária em múltiplas frentes. O novo desponta em distintas dimensões.
O novo é Márcio Pochmann na direção da Fundação Perseu Abramo, que tem garra e talento para fazer desse tink thank petista, finalmente, um centro de reflexão da agenda da esquerda brasileira no século 21.
O novo é a caravana da cidadania de Lula, que deve percorrer e galvanizar o país --e afrontar o conservadorismo-- a partir de fevereiro próximo.
O novo é a mídia alternativa ser reconhecida de uma vez por todas --como já faz a direção atual do PT,sob o comando de Rui Falcão- como parceira indispensável na transição para um desenvolvimento que o país urge e pode construir, em meio ao colapso neoliberal e a sabotagem conservadora.
O novo é Fernando Haddad em SP ecoando o desassombro de administrações progressistas em todo o Brasil.
O novo é fazer da maior metrópole brasileira um laboratório de renovação de políticas e práticas públicas de abrangência e ousadia equivalentes ao tamanho do anseio brasileiro por democracia e justiça social.
O novo recobre de sentido histórico a virada mecânica do calendário.
Que 2013 seja um Ano Novo digno desse nome.
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