segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Por que o lulismo cresceu e Dilma recuou?

Por Rodrigo Vianna

Houve nas últimas semanas um duplo movimento, aparentemente contraditório, na disputa eleitoral que se trava no Brasil.
De um lado, nos Estados, a onda lulista só cresceu:
- na eleição para o Senado, a oposição deve sofrer uma derrota estrondosa (Cesar Maia, Artur Virgilio, Heráclito Fortes, Marco Maciel, Mão Santa e até Tasso Jereissati saíram derrotados);
- o lulismo conquistou as duas vagas para o Senado no Paraná, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas… Enfim, uma vitória que mudará completamente a correlação de forças no Senado;
- a centro-esquerda pode eleger também quase 200 deputados para a Câmara – marca histórica; isso sem contar o PMDB;
De outro lado, entretanto, Dilma recuou nas pesquisas. E acabou com 47% dos votos válidos (ela chegou a ter 55% dos votos totais, ou 60% dos válidos em algumas pesquisas, há um mês).
O que explica que, diante da avalanche lulista nos Estados, Dilma tenha caído?
Na minha modesta opinião, a estratégia de desconstruir o PT (tentada pela mídia) não deu certo. O povão é PT, é Lula, e não abre! Até pelos resultados concretos na economia. Essa estratégia deu certo apenas em certos setores da classe média.
No entanto, uma outra estratégia parece ter sido eficaz: lançar dúvidas não sobre o PT, ou sobre o lulismo, mas sobre a candidata. Será que ela é confiável, será que é a favor do aborto, será que é contra a religião?
Como venho dizendo aqui, a bala de prata não foi uma só. Foram várias, e sua ação não foi imediata. No caso do terrorismo moral e religioso, a ação foi lenta e quase imperceptível. Mas é isso que explica a lenta queda de Dilma, enquanto o lulismo só prosperou.
Com a eleição no segundo turno, a tarefa imediata do lulismo será conter o sangramento causado por essa bala de prata “moral” – sabendo que outras virão, muitas outras.
A tênue trégua conseguida com a mídia (há informação segura de que um alto dirgente petista reuniu-se na terça-feira, no Rio, com a família Marinho, e acertou essa trégua pra última semana de campanha; reparem como o tom do noticiário mudou mesmo) pode se romper num eventual segundo turno.
A campanha voltará a ficar suja e sangrenta.
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