terça-feira, 29 de dezembro de 2009

De Sanctis dá orgulho aos brasileiros

Por Paulo Henrique Amorim

Por medida de higiene, o Conversa Afiada não lê a publicação “Conjur”.
Seu proprietário faz farte do “Sistema Dantas de Comunicação” , e acumula a propriedade de um “órgão de imprensa” com a de uma empresa de relações públicas.
Além disso, ele é amigo pessoal do Supremo Presidente do Supremo, a ponto de lançar uma publicação comercial de sua empresa no salão nobre do Supremo.
Viva o Brasil !
Mas, um amigo navegante se dedicou nos últimos tempos a acompanhar a perseguição ao corajoso Juiz Fausto De Sanctis através das páginas poluídas do “Conjur”.
A Justiça brasileira desfechou um ataque frontal ao corajoso Juiz De Sanctis que só pode ter um objetivo: desmoralizá-lo.
Desmoralizar De Sanctis vai significar retirá-lo do julgamento da Operação Satiagraha.
E, com isso, permitir que, em última análise, Daniel Dantas, o passador de bola apanhado (por De Sanctis) no ato de passar bola, realize o sonho de todo criminosos: escolher quem vai julgá-lo.
Por extensão, a desmoralização de De Sanctis significará a desmoralização da primeira instância em crimes de colarinho branco.
E o Brasil terá uma estrutura jurídica muito parecida com aquela com que sempre sonhou o Supremo Presidente do Supremo: só quem julga crime de rico é o Supremo.
Rico é assunto muito sério para ficar na mão de juizeco de primeira instância.
Vamos ao cerco a De Sanctis, segundo a minuciosa leitura do meu amigo navegante.
Dantas, o passador de bola apanhado no ato de passar bola, não recorreu imediatamente da condenação que De Sanctis lhe impôs por passar bola a um agente federal.
Um ano e meio depois, no dia 3 de setembro de 2009, Dantas entrou com um HC para afastar De Sanctis: trata-se de um juiz “parcial”.
Ou seja, para Daniel Dantas, o passador de bola, juiz que o condena é “parcial”.
O Ministério Público Federal pediu vistas no dia 14 de setembro.
Rapidamente, no dia 25 de setembro, o MPF considera que o pedido de Dantas que arguia a parcialidade de De Sanctis não tinha nenhum cabimento.
Às 20H52 do dia 18 de dezembro, um dia antes do recesso do Judiciário, o STJ dá a liminar a Dantas.
Ou seja, neste momento, toda a investigação a partir da Satiagraha está parada.
A Polícia Federal parou.
A Justiça parou.
Só quem se mexe é Dantas, o passador de bola.
Até que se julgue, em definitivo, se De Sanctis é “parcial” ou não.
Se, em última instância, De Sanctis for considerado “parcial”, a Satiagraha será extinta.
Porque toda ela será fruto de uma “parcialidade”.
Ou seja, o fruto podre contaminou toda a árvore.
Sumirá no espaço, como se fosse uma bolha de sabão.
E Daniel Dantas voltará aos salões da República, como um herói da Pátria – e de todos os partidos.
E De Sanctis será tratado como um excêntrico, uma aberração: um Juiz que manda prender rico, branco e de olhos azuis.
Onde já se viu isso ? Onde nós estamos ?
Quem ousa importunar o “brilhante” Dantas, na opinião de Fernando Henrique Cardoso ?
Condenar quem mereceu dois HCs de Gilmar Dantas (*) em 48 horas ?
Será possível uma vergonha dessas, amigo navegante ?
Será que o Brasil vai engolir essa patranha em seco ?
Bem, já engoliu coisa parecida e nada aconteceu.
O Ministro do Supremo Eros Grau tomou de De Sanctis todas as provas da Satiagraha que tenham sido extraídas de HDS, CDs, medias e pen-drives.
Não só as medias encontradas na casa e no banco de Dantas, mas também o farto material de propriedade do notório empresário Roberto Amaral, também indiciado por De Sanctis.
Amaral, esse, que sabe coisas do arco da velha …
Ou seja, o Supremo, agora, tem o câncer da República nas mãos.
Só o Supremo sabe quem Dantas seduziu – seja para investir ilegalmente em seus fundos, seja para participar de “mensalões”.
Foi uma violência sem precedentes.
Retirar as provas de dentro de um inquérito criminal.
Viva o Brasil !
Mas, como afastar um juiz por “parcialidade” ?
Isso é muito difícil, pensará o amigo navegante.
Não, amigo navegante, no Brasil isso é mamão com açúcar.
Os advogados de Boris Berezovsky, o mafioso russo que comprou o Corinthians, já afastaram o juiz De Sanctis.
Com a ajuda do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Regional Federal de São Paulo eles mandaram De Sanctis apitar na segundona.
Que argumento usaram?
Ora, amigo navegante, que pergunta ingênua.
Porque o corajoso Juiz Fausto de Sanctis foi “parcial”.
Ele é assim mesmo, muito “parcial”: tem a mania de prender rico.
Bastou uma simples liminar e uma Juíza, a Dra. Cecilia Mello que, por acaso, costuma tomar decisões que coincidem com os interesses de Daniel Dantas, expulsou De Sanctis do julgamento de Berezovsky.
Quem manda querer prender o Berezovsky, logo ele, que contratou José Dirceu para representá-lo no Brasil?
(É bom não esquecer que na Satiagraha e no Corinthians se encontraram De Sanctis e o ínclito delegado Protógenes Queiroz. Queiroz acompanha Dirceu de lá à Satiagraha …)
No caso do Corinthians, a desmoralização de De Sanctis foi completa.
Ele foi destituído NA MESMA HORA em que ouvia testemunhas sobre o Corinthians.
Quer dizer, os juízes do TRF-São Paulo não tiveram a gentileza de esperar ele acabar de ouvir a testemunha.
Ele saiu do processo no meio da audiência …
Para a felicidade dos advogados de Berezovsky.
(Um deles, o notório Dr Toron, aquele que não aceita algema nem em pobre, preto ou p…, também defende Dantas.)
Se a Justiça decidir que De Sanctis não pode julgar a Satiagraha porque é “parcial”, ficarão suspensas as investigações que De Sanctis pediu à Polícia Federal, depois de condenar Dantas a 10 anos de cadeia.
Neste momento, uma dessas investigações – a sobre os cotistas do Banco Opportunity – avança a passos rápidos e muita gente graúda já caiu na rede.
GRAÚDA !
Outra investigação que começaria a marchar no início de 2010 seria sobre as fazendas de gado de Dantas, que, segundo o ínclito delegado Protógenes Queiroz, são uma fachada para explorar riquezas minerais no Pará.
A investigação que não andou um centímetro foi a sobre a “BrOi”.
Mas, aí, há de se convir que o diretor geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Correa, se notabiliza por uma aguçada sensibilidade política.
E, se depender dele, a investigação sobre a “BrOi” andará com a rapidez com que o Pão de Açúcar se desloca na Baia de Guanabara.
O Brasil se aproxima do Estado ideal da impunidade.
(Nos Estados Unidos, o Madoff está na cadeia para cumprir 190 anos …)
De Sanctis não julga o Berezovsky.
Extingue-se a Satiagraha.
Por extensão – ou por conta da mesma “parcialidade” -, extingue-se também a “Operação Castelo de Areia”, em que De Sanctis meteu o dedo no câncer da empreitagem nacional.
E, cedo ou tarde, se extingue também a punição ao banqueiro Edemar Cid Ferreira, que De Sanctis teve a infeliz idéia de prender e mandar buscar as obras de arte que colecionava.
Esse De Sanctis, francamente.
Banqueiros, mafioso russos, Daniel Dantas – isso é coisa para o Supremo.
A primeira instância não tem nada a ver com isso.
O Supremo já decidiu que os brancos e ricos tem acesso irrestrito asa investigações.
O Brasil é o único país do mundo em que bandido sabe o que a Justiça e a Polícia vão fazer e quem vão ouvir.
O amigo navegante não acredita? É isso mesmo.
É o que se chama de Golpe de Estado da Direita.
É isso mesmo.
Bandido sabe quem o Juiz vai ouvir.
Chega lá, aperta o parafuso, e a testemunha chega mansinha diante do Juiz …
Viva o Brasil !
Quer dizer: se Daniel Dantas agora começar a escolher juiz, não se espante.
Dantas é o dono do Brasil, como disse a Carta Capital.
E o De Sanctis ?
O De Sanctis é um brasileiro que nos dá orgulho !
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