terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O papel decisivo de Lula em Copenhague

Obama chegou a Copenhague decidido a pressionar a China a aceitar um controle externo sobre emissões de gás carbónico.
Por isso, sua primeira reunião bilateral foi com o primeiro ministro chinês Wen Jiabao.
Em pouco tempo, presidente americano percebeu que o chinês não cederia em nada.
Obama saiu da reunião tão indignado, que pediu outra entrevista bilateral com Wen e disse aos assessores que, daí em diante, só falaria com Wen cara a cara.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos tentavam organizar uma reunião com Lula, Manmohan Singh (da Índia) e Jacob Zuna, da África do Sul.
Nessa altura, a confusão era monumental.
Ninguém sabia quem estava onde, e que delegação permanecia em Copenhague.
Uma reunião de Obama com Wen foi agendada para às sete da noite.
Quando Obama saiu de um encontro com líderes europeus, e foi em busca de Wen, lhe informaram que a sala prevista já estava ocupada.
E na sala estavam Wen, Lula, Singh e Zuma.
Obama abriu a porta, entrou e perguntou a Wen, em voz alta – essa parte foi gravada por emissoras de televisão: “Você está pronto para a nossa conversa ?”
E entrou.
Não havia sequer cadeira para o presidente americano. Obama disse que não tinha problema.
Ele se sentaria ao lado do amigo Lula.
E Lula lhe cedeu a cadeira de um dos assessores.
Na verdade, arrumou duas cadeiras, porque Obama veio com Hillary.
Obama decidiu que essa era a oportunidade para falar com todos de uma vez só.
E sua ousadia acabou por lhe ajudar.
Obama anunciou que se eles cinco não fechassem um acordo ali, na hora, ele, Obama, faria um acordo em separado com os europeus.
Não se sabe o que passou a acontecer na reunião.
Mas, daquela reunião saiu o único acordo que hoje se pode celebrar.

Lula não é apenas um lince da política.
Quando ele percebeu que a reunião tinha entrado em ponto morto, pronunciou um ovacionado discurso e, pela primeira vez, para surpresa de seus próprios assessores, anunciou que o Brasil estava disposto a contribuir para um fundo verde global.
Lula sabia que, com isso, deixava Obama com um perfil baixo.
Uma vez mais, Lula soube jogar suas cartas com astúcia e sem estridência.
Não é à toa que Obama disse que ele é “o homem do momento”.
Em seu discurso, Lula disse que o Brasil não aceitaria que as figuras mais importantes do planeta assinassem um documento qualquer só para decidir que nós outros também o assinamos.
Disse que, como crê em Deus e em milagres, “se se produz o milagre, quero fazer parte dele”.
(El País, página 40, domingo, 20 de dezembro de 2009)

Obama se fechou por cinquenta e cinco minutos com Wen.
A Casa Branca anunciou que haveria um segundo encontro.
Na hora marcada para esse segundo encontro, Obama constatou que Lula, o primeiro ministro da Índia Singh, e o presidente sul-africano Zuma estavam já reunidos com Wen.
E estes cinco lideres negociaram o acordo de três paginas que foi apresentado à sessão final.

O que aconteceu em Copenhague ?
A Europa defendeu objetivos ambiciosos que ela não pode e não soube compartilhar com os outros países.
A Europa foi marginalizada por uma coalizão que testemunha a divisão do poder político no mundo de hoje: os Estados Unidos, a China, a Índia, o Brasil e a África do Sul.
(Le Monde, paginas 6 e 2, domingo, 20 de dezembro de 2009)

De volta ao Brasil, me contam que o PiG menosprezou o papel decisivo de Lula em Copenhague.
Criou uma falsa gafe de Dilma.
Deu destaque ao não-evento, que foi o memorável encontro do Zé Alagão com o Berlusconi da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.
(Clique aqui para ler sobre “o que Zé Alagão foi fazer com o Schwarzenegger” )
E disse que Copenhague foi um fracasso.
(Clique aqui para ler “O meio ambiente é um assunto muito sério para ficar com a Marina e Miriam”)
Esses foram alguns dos pequenos crimes que o PiG (*) cometeu ultimamente.
Na categoria “grandes crimes” se inclui mentir.

Paulo Henrique Amorim


Em tempo:
amigo navegante, imagine quantos dedos da mão daria o Farol de Alexandria para participar dessa reunião dos cinco grandes. E, amigo navegante, sabe por que ele vai entrar para a História sem ter participado de uma reunião dessas ? Porque a política externa dele era a “Política da Dependência”.
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