quarta-feira, 5 de novembro de 2008

GOLEADA!!!!

Yes! We can!

Paulo Henrique Amorim

A vitória de Obama é espantosa.
Foi preciso o neoliberalismo de Ronald Reagan-Margaret Thatcher-Pinochet-Fernando Henrique Cardoso ser enterrado na mesma vala em que se depositou o Muro de Berlim.
Foi preciso que os Estados Unidos perdessem duas guerras – a do Iraque e a do Afeganistão.
Foi preciso haver um presidente Bush, o mais impopular dos presidentes americanos, que explorou o medo como expediente eleitoral e construiu a coalizão mais reacionária da recente historia política americana.
Foi preciso fazer a mais profunda intervenção estatal na economia americana para salvar Wall Street.
Só assim, numa situação-limite, à beira do precipício, a sociedade americana foi capaz de eleger um negro, de esquerda, Presidente dos Estados Unidos.
De forma esmagadora.
Obama ganhou nos Estados Unidos inteiro: ele não é apenas um presidente da costa Leste (Nova York) e da costa Oeste (Califórnia).
Ele É um presidente de todos os americanos.
Em Nova York, onde foi a festa?
No Harlem!
A mensagem de inclusão política e social de Obama derrotou os Republicanos, e também o Establishment democrata, controlado pelo casal Clinton.
Obama tem dois modelos à frente dele: Franklin Roosevelt e Jimmy Carter.
Roosevelt assumiu em 1932, com a economia americana em frangalhos e se tornou um dos maiores presidentes americanos.
Jimmy Carter sucedeu Richard Nixon, 1000 vezes mais inteligente que George Bush, e, mesmo assim, deposto depois do escândalo de Watergate.
Carter assumiu como se fosse a vassoura que ia limpar Washington.
Fez um governo medíocre e se tornou melhor ex-presidente do que Presidente, o que o Fernando Henrique Cardoso nem isso conseguiu ser: melhor fora do que dentro.
Obama vai mostrar logo cedo se é Roosevelt ou Carter.
Ao assumir no ponto mais profundo da Crise de 29, Roosevelt fechou os bancos por três dias – para ver quem comprava quem – e lançou um agressivo programa de intervenção estatal na economia, uma espécie de PAC + Bolsa Família, multiplicado por 100 – os “Cem Dias”
Neste momento em que escrevo, 1H30 da manha, Obama vai ter maioria no Senado.
Não será como o Presidente Lula, que não tem maioria no Senado, é repudiado pelo PiG, e tem que cortejar esse conjunto de mercadores reunidos no PMDB.
Obama tem o PiG ao lado dele (por enquanto ...).
Pode, portanto, governar, imprimir a marca na Historia.
Se tem maioria no Senado, pode mudar a inclinação do Supremo Tribunal Federal.
Os brasileiros começam a se dar conta de que uma das – se não A mais importante – funções do Presidente da Republica é compor o Supremo.
Num Supremo que, no momento, é presidido pelo Supremo Presidente, o empresário Gilmar Mendes, que, na verdade, reproduz no Supremo as crenças e os interesses econômicos (leia-se Daniel Dantas) de seus patronos – Fernando Henrique Cardoso e Nelson Jobim -, nesse Supremo, o Presidente Lula, por exemplo, teve a chance histórica de escolher 6 ministros em onze e construiu um dos Supremos mais conservadores da Historia da República.
É bom lembrar que Carlos Alberto Direito não foi para o Supremo por decisão de Garrastazu Médici e seu Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, mas por Lula e Jobim.
Obama vai poder refazer a construção conservadora de Bush no Supremo americano.
No Brasil, só nos resta rezar ...
Uma palavra final sobre as pesquisas de opinião pública.
As pesquisas do IBOPE e do Datafolha e a forma como o PiG as analisa são um dos instrumentos do PiG para manipular a opinião publica.
O simples fato de só haver duas instituições de pesquisa de opinião pública eleitoral - nos Estados Unidos houve mais de 700 !!! nessa campanha - já é uma demonstração da parcialidade do processo – do partido a que as pesquisas servem.
SÓ, SÓ, SÓ no Brasil se leva pesquisa tão a sério.
Como SÓ, SÓ, SÓ no Brasil se dá tanta importância à corrida de Fórmula 1 !!!
É a mesma coisa: como manipular a opinião pública para tomar uma grana.
As pesquisas e o PiG beneficiam o candidato conservador.
A F-1 dá uma grana à Globo.
As pesquisas de opinião pública erraram nos Estados Unidos: não previram a vitória de goleada do Obama.
Especialmente a vitória ampla e indiscutível, tão cedo, no Colégio Eleitoral.
Como no primeiro turno de São Paulo: o IBOPE e o Datafolha disseram que a Marta ia ganhar e não ganhou.
As pesquisas são o que são: um flagrante.
Duas horas da manhã: OBAMA É O NOVO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS !!!
Eu Vi!
Ninguém imaginou que a essa hora, duas horas da manha em Brasília, um negro pudesse ser considerado presidente dos Estados Unidos, tão cedo.
Eu gostaria de estar no Grant Park, em Chicago, à beiro do lago Michigan onde já corri como pseudo maratonista.
E re-encontrar Jesse Jackson, em prantos, ele que foi um dos pioneiros dessa batalha dos negros americanos, na geração pós-Martin Luther King Jr.
E estar ali na multidão e dizer: EU VI!
Ou entoar aquele canto de inspiração bíblica: Yes! We can!
Obama não será um Lula.
Obama não vai se eleger pela esquerda e governar pela direita.
A proposta de Obama é outra: ele é presidente de TODOS os americanos!
Hoje, no mundo inteiro, todos votaram em Obama!
Yes, we can!


Nenhum comentário: