sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A ÉPOCA LULA SEGUNDO NOSSA VISÃO

Nunca poderei me esquecer daquele primeiro turno na eleição presidencial de 1989. Já era de madrugada e a manchete da Folha de S.Paulo iria cravar a ida de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao segundo turno, em lugar do até então provável Leonel Brizola (PDT).
A pesquisa do Datafolha prometia que Lula acabaria a apuração na frente de Brizola.
A História conta que o jornal cravou (sozinho) e acertou. Saberíamos depois que aquele momento fora um episódio fundador na moderna democracia brasileira.
O punhado de votos que levou Lula a ultrapassar Brizola e ir ao segundo turno contra Fernando Collor acabaria definindo o cenário das disputas político-eleitorais nas duas décadas seguintes. Às vezes a gente se esquece, mas, mantidas as regras do jogo, 2010 será a primeira eleição presidencial sem Lula.
Aliás, as sucessões presidenciais brasileiras desde a redemocratização só tiveram dois candidatos realmente competitivos: Lula e o anti-Lula. O segundo personagem foi interpretado por mais de um ator, enquanto o primeiro ator interpretou mais de um personagem. Começou como um radical, que recusou o apoio de Ulysses Guimarães no segundo turno de 1989, e chegou a 2002 como um moderado, da Carta aos Brasileiros e das alianças sem limites definidos.

O Lula de 2002 e dos anos seguintes (quando ficou claro que a Carta aos Brasileiros era para valer) exorcizou e liquidou o personagem anti-Lula. Acho que a oposição nunca quis compreender isso, ainda que todos os elementos a partir de 2003 tenham reforçado essa nova realidade.
Um dos problemas do PSDB e do PFL é se oferecerem como candidatos a um papel que já foi excluído do enredo da peça. Se no passado o anti-Lula era embalado e nutrido por medo do radicalismo do PT e de seu principal líder, hoje o antilulismo acabou se reduzindo a uma caricatura de si mesmo. O que se apresentava antes como resistência a uma possível radicalismo de esquerda, hoje não consegue escapar da armadilha de ser visto apenas como expressão de elitismo.
A oposição achou que voltaria ao poder surfando na rejeição a um Lula ferido pelos sucessivos escândalos da crise política. Descuidou de construir um programa alternativo para o país e uma aliança política verdadeiramente nacional.
No Brasil, quando se usa a palavra "nacional", é preciso incluir duas categorias: os pobres e o nordeste. A oposição apostou num messianismo às avessas, com base nas classes médias do sul e do sudeste. Nem aritmeticamente faz sentido.

Nenhum comentário: