Sócrates e Jesus foram ambos condenados à morte por se oporem aos interesses e paixões
humanas que se contrapõem ao amor desinteressado pela verdade (Sócrates) e ao amor
desinteressado pelo próximo (Jesus).
Pela volta de Jesus e Sócrates na terceira década do terceiro milênio!
Um voto do Sr. Semana.
A possibilidade de uma guerra entre os Estados Unidos/Israel e o Irã deve estar alimentando
expectativas milenaristas em meios evangélicos fundamentalistas. Muitos fieis dessas igrejas
consideram o fortalecimento de Israel, com a tomada completa de Jerusalém dos palestinos
majoritariamente muçulmanos, condição sine qua non para a segunda vinda de Cristo. Como se
sabe, entre as principais fontes internacionais de apoio ao movimento sionista e ao governo de
extrema direita de Netanyahu estão igrejas pentecostais e neopentecostais bastante influentes
messiânicos e outros grupos cristãos ultradireitistas combatem o crescimento da população
muçulmana no ocidente e a modernidade das luzes por acharem que esses movimentos
ameaçam, o primeiro direta e o segundo indiretamente, a supremacia branca cristã. Ao
apontarem o cristianismo como o principal pilar do ocidente cuja cultura alegam querer salvar de
influências que consideram exógenas, cometem dois erros fundamentais. O primeiro é tomarem
o cristianismo apenas na sua tradição institucional histórica vinculada ao poder temporal
(cruzadas, legitimação de reis absolutistas, caça às bruxas, autos de fé, etc.), ignorando a
mensagem bíblica de despojamento, de amor incondicional, de perdão e misericórdia. O
segundo é ignorarem—de fato se oporem a—um segundo pilar da civilização ocidental, anterior
ao pilar cristão, que é a tradição filosófica-científica originada na Grécia antiga. O cristianismo
surge em uma cultura helenizada, estando o pensamento filosófico grego presente, em graus
variados, nos textos dos evangelhos (todos escritos em grego), nos da patrística e em toda
tradição teológica até os dias de hoje.
Sim, Jesus precisa voltar. Não na crença supersticiosa no aparecimento de um novo homem
do que ele deve representar na vida dos cristãos: um ideal, de fato irrealizável em sua plenitude,
mas que é um dever cristão buscar, de caridade, de amor ao próximo, de compaixão, de
desprendimento dos valores materiais de poder e de riqueza. E Sócrates também precisa voltar.
deve representar na vida de todo ser humano (e não somente do cristão): um ideal, de fato
irrealizável em sua plenitude, mas que deve ser buscado, de racionalidade, de compromisso
supremo com a verdade, de combate a todo preconceito, a toda opinião carente de evidência
empírica ou racional.
Sócrates e Jesus foram ambos condenados à morte por se oporem aos interesses e paixões
humanas que se contrapõem ao amor desinteressado pela verdade (Sócrates) e ao amor
desinteressado pelo próximo (Jesus). Que o sacrifício de ambos não tenha sido em vão! Sim,
sacrifício, pois ambos poderiam ter evitado a morte caso abrissem mão dos ideais que
encarnavam, sucumbindo aos interesses e paixões meramente humanas como a vontade de
viver e o medo de morrer. É urgente que o que representam, respectivamente, as dimensões
racional e amorosa da vida humana, ganhe relevância na terceira década do terceiro milênio.
sionismo e no conservadorismo da extrema direita norte-americana (especialmente no governo
Reagan), ver David Katz e Richard Popkin, Messianic Revolution: radical religious politics to the
end of the second millennium. Londres: Penguin, 1999.
mais oportuno.
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