sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

ANALISE: O Cerco Final ao Esquema Bolsonaro


Todos os personagens envolvidos no caso Marielle tem relação direta ou indireta com o 
esquema Flávio Bolsonaro. Daí, a convicção da Polícia Civil sobre o envolvimento dos 
Bolsonaro com a morte de Marielle.
Por Luis Nassif
Vamos entender melhor as razões da Polícia Civil do Rio de Janeiro ter firmado convicção de um 
envolvimento maior de Jair Bolsonaro nas trapalhadas de seus filhos.
Peça 1 – o fim da rachadinha
As revelações sobre Flávio Bolsonaro, divulgadas nos últimos dias, confirmam que, através de 
seu gabinete, ele financiava a família de Adriano Nóbrega (foragido), o chefe do Escritório do 
Crime, e Fabrício Queiroz, entre outros. Com os escândalos estourando, o esquema foi desfeito. 
E os parceiros aparentemente ficaram à míngua.
No dia 27 de outubro passado, os jornais divulgaram áudio de Queiroz.
“Resolvendo essa pica que está vindo na minha direção, se Deus quiser vou resolver, vamos ver 
se a gente assume esse partido aí. Eu e você de frente aí. Lapidar essa porra”, afirmou ele ao 
interlocutor.
Ele se referia à formação do PSL no Rio de Janeiro. A “pica vindo em minha direção (…) do 
tamanho de um cometa” são as investigações do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro.
O início do áudio é significativo do seu estado de espírito: “O cara lá está hiper protegido, mas 
não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar aí”.
Peça 2 – o cerco ao laranjal
O mesmo apuro está passando Adriano Nóbrega. Apesar de foragido, continua sócio de duas 
pizzarias em Rio Comprido, zona de atuação das milícias, o Tatyara e a Pizzaria Rio Cap.
Ambas as pizzarias repassaram dinheiro para Fabrício Queiroz. Um de seus sócios é Francisco 
da Rocha Veras – mesmo sobrenome da mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, que 
também aparece como sócia de uma das pizzarias.
Tanto a mãe de Adriano, Raimunda, como a esposa Danielle Mendonça, ficaram lotados no 
gabinete de Flávio Bolsonaro na ALERJ de setembro de 2007 a novembro de 2018.
O curioso é que, segundo a nota do G1, “o MP suspeita que Adriano da Nóbrega seja sócio oculto
dos dois restaurantes”. Bastaria uma consulta ao CNPJ para constatar que Adriano aparece como 
sócio visível dos dois estabelecimentos.
As investigações foram fundo no esquema de lavagem de dinheiro de Adriano e Queiroz, 
sufocando-os financeiramente, no momento em que a “pica do tamanho de um cometa” parte em 
sua direção.
Peça 3 – os PMs que vendiam segurança
Outro modus operandi do grupo já havia sido atingido ainda na gestão do ex-Secretário de 
Segurança José Maria Beltrame. Era um esquema de PMs que cobravam para retirar moradores 
de rua das calçadas dos prédios da Zona Azul.
Uma das empresas é a Santa Vigilância, registrada como Santa Clara Serviços LTDA., que tem 
entre os seus sócios o cabo da PM Diego Sodré de Castro Ambrósio. Ontem, o PM, lotado na 
Diretoria Geral de Pessoal (DGP) da Polícia Militar, foi exonerado da Secretaria estadual de 
Direitos Humanos, para onde havia sido cedido em 2014.
Quem é Diego Sodré de Castro? É justamente o sargento da PM que pagou R$ 16,5 mil de um 
imóvel adquirido pela esposa de Flávio Bolsonaro.Segundo matéria de O Globo de ontem:
Em 2014, o policial abriu a empresa de vigilância Santa Clara Serviços. Nos anos seguintes 
(2015 a 2018), foram identificados transferências bancárias e depósitos em cheque do próprio 
Ambrósio e da Santa Clara para a conta corrente da loja de chocolates de propriedade de Flávio 
Bolsonaro. Segundo a investigação, a contabilidade da loja era usada por Flávio para mascarar 
dinheiro devolvido por seus asssessores na Alerj. Os promotores também identificaram, em 
2016, transferências do policial para dois assessores de Flávio.
O esquema era claro.
Possivelmente a pedido de Flávio, um deputado (no caso o deputado estadual Pedro Fernandes) 
requisita o PM. Daí, ele é liberado para fazer bico e arrecadar dinheiro.  Pedro Fernandes é de 
uma família de políticos, e, apesar de ser do PDT, foi nomeado Secretário de Educação do 
governo Wilson Witzel.Em maio passado, a Receita anunciou a constituição de uma equipe 
especial para mapear o notável crescimento patrimonial de Flávio Bolsonaro e também as 
denuncias de que parte do dinheiro de Queiroz foi parar na conta da primeira dama. Até agora, 
nada foi divulgado.
Peça 4 – a armação do COAF
Como mostram as investigações do MPE, o esquema era amplo, pegando vários parentes 
próximos dos Bolsonaro. Já em janeiro, se soube que o COAF havia identificado R$ 7 
milhões em movimentação nas contas de Queiroz, e não apenas o R$ 1,2 milhão divulgados. 
Evidentemente a interrupção do fluxo de recursos de tal ordem desestruturou a organização e 
abriu flancos perigosos nos laços de lealdade do grupo.
Além disso, as investigações do MPE trouxeram à tona outro possível crime administrativo 
cometido em 2018, para blindagem da candidatura de Jair Bolsonaro.
Até agora já se sabe que na conta do Queiroz foram depositados, no mínimo, mais de R$ 2 
milhões (a suspeita final é de R$ 7 milhões). Significa que a movimentação financeira dele é no 
mínimo R$ 4 milhões, pois a movimentação é a soma de débitos e créditos na conta da pessoa.
O primeiro relatório do COAF sobre Queiroz apontou uma movimentação de apenas R$ 1,2 
milhão. Obviamente foi fraudado.
O relatório COAF é um resumo de um conjunto de indícios de irregularidades que apontam para 
as autoridades investigativas uma situação que precisa ser esclarecida. Se uma parte desses 
relatórios são manipulados para esconder das autoridades investigativas a real situação de uma 
pessoa, seja para blinda-la, ou para colocá-la em evidência, então as autoridades investigativas 
são enganadas e induzidas ao erro.
Trata-se de um erro gravíssimo cujo objetivo foi deixar Queiroz e Flávio Bolsonaro de fora da 
lista de alvos da Operação Furna da Onça, comandada pela Lava Jato do Rio de Janeiro.No 
Caso Queiroz, está evidente. Se o primeiro relatório COAF estivesse correto, é possível que todo 
o resultado eleitoral de 2018 teria sido diferente
Quem foi a autoridade que encomendou aquele relatório COAF manipulado?
A coordenação da Lava Jato?O Ministério Público do RJ?
O núcleo de inteligência fiscal da Receita Federal que tinha acesso direto ao COAF?
Recorde-se que o chefe da inteligência da Receita Federal de Curitiba, Roberto Leonel, seria 
nomeado por Sérgio Moro para presidente do COAF. E o chefe da inteligência fiscal do Rio de 
Janeiro, Marco Aurélio Canal, também homem de confiança da lava jato, foi preso naquela 
operação extorquindo empresários alvos da Lava Jato
Peça 5 –  o desmanche da ORCRIM   O modelo 
financeiro ruiu. Os principais parceiros – Queiroz e 
Adriano – ficaram desamparados. 
Ao se retirar da defesa de Fabricio Queiroz, o advogado Paulo Klein deu sinal de debandada 
final do sistema.
É aí que se entra na parte mais delicada.
Tudo tem a ver com a falta de dinheiro no esquema. Vários assessores tiveram que ser 
demitidos. Queiroz teve que ser mantido e tiveram que bancar todas as suas despesas.
Há os milicianos que perderam suas tradicionais fontes de renda. Há os foragidos que nem o 
Adriano do escritório do crime que têm que ser bancado.
De onde vem o dinheiro?
Peça 6 – o pedido de quebra de sigilo
Vamos desbastar mais um ponto da história.
Ontem à tarde, o Ministério Público Federal do Distrito Federal, a pedido do Ministro Sérgio 
Moro, divulgou uma denúncia contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Felipe 
Santa Cruz. Moro havia entrado há tempos com a representação. A divulgação foi ontem, horas 
depois de uma nota em O Globo, na qual  Felipe havia pedido abertura do sigilo de Jair e seus 
filhos Flávio, Carlos e Eduardo.
— As acusações são muito graves, mas devemos garantir aos Bolsonaro a presunção de 
inocência. Agora seria a hora do presidente e seus filhos abrirem seu sigilos e dos gabinetes da 
família provando que são inocentes. É hora de o presidente Bolsonaro abrir o sigilo e provar que 
não deve nada. É o momento do presidente desmonstrar que a prática não era sistêmica nos 
gabinetes da família.
Santa Cruz vai mais longe.Acha que deveriam ser abertos também os sigilos dos parentes de 
Bolsonaro que moram no Vale da Ribeira, em São Paulo. Completa Santa Cruz:
— Tem que abrir inclusive do núcleo do Vale do Ribeira que explora atividades comerciais. Só 
assim Bolsonaro pode acalmar o país. À mulher de Cesar não lhe basta ser séria, tem que 
parecer séria. Basta que o presidente apresente ao ministro Sérgio Moro e ao MP a 
documentação necessária para auditoria.
Ali, pegou no nervo exposto e chega-se a um dos pontos enigmáticos do tema:  o aumento 
exponencial dos gastos do cartão corporativo da presidência.
Até novembro, a Presidência gastou R$ 14,5 milhões com cartões corporativos.
Em novembro, o STF ordenou que se abrisse o sigilo do cartão. O Palácio simplesmente decidiu 
ignorar a decisão do STF. Recorreu à Lei de Acesso à Informação para fundamentar o grau de 
sigilo aplicado às despesas.
Alega que “as informações passíveis de pôr em risco a segurança do presidente, do vice-
presidente e dos respectivos cônjuges e filhos serão carimbadas como reservadas, ficando sob 
sigilo até o término do mandato em exercício ou do último mandato, em caso de reeleição”. Que 
despesas poderiam colocar em risco a família do presidente?
Ouvida na ocasião, a  secretária executiva do Fórum de Direito de Acesso a Informações 
Públicas, Marina Atoji, sustentou que o trecho da LAI citado pelo Planalto para manter os gastos 
com cartão corporativo em segredo não justifica essa decisão.
“Simplesmente porque as informações que eles classificaram sob essa justificativa não colocam 
em risco a segurança do presidente. Elas só são divulgadas depois que a compra foi feita. Ou 
seja, se alguém quisesse usá-las para atentar contra a vida dele (Bolsonaro), por exemplo, 
precisaria ter uma máquina do tempo (…) No máximo, uma ou outra despesa recorrente, a ponto 
de revelar brechas de segurança, trajetos ou outra coisa que comprometa a segurança dele, 
poderia ser enquadrada nesta lei. Mas todas serem dessa natureza, é impossível. Ou o cartão 
está sendo usado de forma indiscriminada”.
Seria muito, mesmo para uma família sem senso algum como os Bolsonaro, imaginar o uso do 
cartão corporativo para bancar amigos colocados ao relento, mesmo sabendo-se do desespero 
do grupo com a desestruturação financeira.
Mas é evidente que o cerco se fechou sobre os Bolsonaro. Desse enorme novelo sairão os fios 
capazes de se chegar ao mistério maior, da morte de Marielle.
Todos os personagens envolvidos no caso Marielle tem relação direta ou indireta com o esquema 
Flávio Bolsonaro. Daí, a convicção da Polícia Civil sobre o envolvimento dos Bolsonaro com a 
morte de Marielle.

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