artigo do ex-ministro José Dirceu, ao portal Metrópoles:
Vivemos um novo ciclo político, podemos mesmo afirmar um novo período histórico: a coalizão de
Vivemos um novo ciclo político, podemos mesmo afirmar um novo período histórico: a coalizão de
centro-direita, a Aliança Democrática – que elegeu Tancredo, governou o país, sobreviveu a Collor,
reorganizada depois sob a hegemonia do PSDB nas vitórias e nos governos FHC –, não existe mais.
Ela foi derrotada quatro vezes pelo PT, apoiado e aliado aos partidos de esquerda, no sentido amplo,
Ela foi derrotada quatro vezes pelo PT, apoiado e aliado aos partidos de esquerda, no sentido amplo,
e na eleição e na reeleição de Dilma ao PMDB, força política hegemônica no governo Sarney e
parceira também de FHC.
Essa coalizão de centro-direita não existe mais, foi substituída pela aliança entre Bolsonaro,
representando a extrema-direita, Moro e a Lava Jato, Guedes e o capital financeiro bancário, sob
tutela e vigilância dos militares. Não vê quem não quer.
Mais do que uma coalizão eleitoral ou de governo, representa uma aliança da nova força que emerge
Mais do que uma coalizão eleitoral ou de governo, representa uma aliança da nova força que emerge
no país, o conservadorismo fundamentalista com as forças tradicionais e modernas das elites
empresariais e de classe média brasileiras, já que o PSDB perdeu seu eleitorado para o PSL e o
bolsonarismo.
Bolsonaro e o conservadorismo, aliado ao fundamentalismo religioso, apesar de ser a principal força
Bolsonaro e o conservadorismo, aliado ao fundamentalismo religioso, apesar de ser a principal força
social e eleitoral, representam uma ruptura histórica com a forma da hegemonia burguesa e das
elites, daí a total concordância de todas forças políticas e sociais que apoiam Bolsonaro com o
programa ultraliberal de Guedes, mas com dissensão praticamente em todos os demais temas, seja a
política externa e o alinhamento total com Trump, o meio ambiente, a cultura, as terras e os
indígenas, a escola sem partido, as mulheres, LGBTs e uma política de segurança que reprime e tem
licença para matar nas periferias uma juventude em sua maioria desempregada e negra. Setores do
chamado centrão e a oposição liberal, seja no parlamento ou em parte importante da mídia, se opõem
abertamente à agenda de costumes do presidente, e no Congresso, no Judiciário, no STF, o governo
soma derrotas. Mas atenção: não em seu programa econômico.
A questão principal é que essa aliança agora hegemônica conta com apoio não só eleitoral, mas
inclusive social, para levar adiante seu programa ultraliberal mesmo por meios autoritários, como
tem ameaçado e encontrado resistência não apenas na esquerda, mas no centro, no STF e em parte da
mídia.
As esquerdas e os democratas, começando pelo PT – o maior partido não só em termos eleitorais –,
primeiro precisam concordar que vivemos um risco real do autoritarismo e do militarismo, de
desmonte do Estado Nacional e de uma regressão social e cultural, dada a ameaça real do
conservadorismo religioso.
Assim, a questão democrática está colocada na ordem do dia, mas não há como desligá-la da questão
Assim, a questão democrática está colocada na ordem do dia, mas não há como desligá-la da questão
social e nacional. Outro desafio é o apoio popular organizado e mobilizado a uma agenda de
reformas estruturais e saber quais são essas mudanças, onde seguramente não haverá acordo com
todas as forças políticas e sociais de oposição liberal ao projeto de país da coalizão de direita que
hoje nos governa.
O desafio não é apenas eleitoral, a extrema-direita e o conservadorismo disputam conosco a
hegemonia na sociedade em geral, daí o ataque total à educação, às universidades, à cultura e mesmo
à parte da mídia, para controlar a formação e informação educacional e cultural, hegemonizar a
sociedade brasileira e moldar nosso povo à ideologia de extrema-direita, sem limites, com tentativas
de censura, ameaças reais de repressão e a real captura do Coaf [hoje Unidade de Inteligência
Financeira do Banco Central], da Receita Federal, da Polícia Federal e do Ministério Publico. Hoje,
isso é uma realidade.
Não bastam, portanto, candidaturas – e elas existem e são legítimas – como a de Lula e Ciro. As
Não bastam, portanto, candidaturas – e elas existem e são legítimas – como a de Lula e Ciro. As
esquerdas e os democratas precisam de povo organizado e na luta, precisam que partidos alinhados
com esse objetivo principal e com base no acúmulo histórico de lutas e da experiência de quatro
governos construam um programa de reformas estruturais para o nosso povo e o Brasil.
Não nos iludamos, as pesquisas recentes revelam a realidade, onde a direita tem mais de uma opção,
Não nos iludamos, as pesquisas recentes revelam a realidade, onde a direita tem mais de uma opção,
além de Bolsonaro: tem Moro, e ela não é única; o centrão e o chamado centro democrático são
também alternativas a Bolsonaro, digamos assim, e contra seus “excessos”, pois concordam no
principal, que é manter a histórica atual ordem econômica e social, iníqua, desigual, intolerável –
como as revoltas no Equador, Chile e na Colômbia provam.
Mas tenhamos esperanças, as pesquisas também revelam que as esquerdas são uma alternativa, mas
Mas tenhamos esperanças, as pesquisas também revelam que as esquerdas são uma alternativa, mas
não sem Lula e o PT.
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