sábado, 23 de novembro de 2019

OPINIÃO: DIÁLOGO DE SURDOS!! ESQUERDA E DIREITA FALAM SÓ PARA BOLHAS DE CONVERTIDOS


POR RICARDO KOTSCHO
Em entrevistas e discursos, é sempre a mesma coisa, sem novidades: esquerda e direita se equivalem 
na mesmice das mensagens, falando para os já convertidos.
Como os dois lados têm o apoio de um terço do eleitorado cada um, segundo as pesquisas, sobram 
40% que estão esquecidos e já nem prestam mais atenção.
A maioria silenciosa, que decide eleições, apenas assiste bestificada a esse diálogo de surdos.
Nas redes sociais, todos os levantamentos mostram um massacre da extrema-direita, cada vez mais 
radicalizada: são idiotas falando para idiotas empoderados pelo bolsonarismo.
A esquerda está numa encruzilhada, e não se trata só de ter os mesmos recursos humanos, 
tecnológicos e financeiros para montar estrutura semelhante.
O problema é o conteúdo: para lutar com as mesmas armas, a esquerda analógica teria que abrir mão 
de princípios e partir também para a baixaria, que é o que rende cliques e audiência, alimentando os 
algoritmos da selva da internet.
É impossível concorrer no mesmo nível com Bolsonaro, Weintraub, Araújo, Salles, Damares e esse 
bando todo que não tem o menor compromisso com os fatos e com o país.
Mesmo que quisesse, onde a esquerda iria encontrar similares para rebater as atrocidades e 
barbaridades dos atuais ocupantes do poder?
Bolsonaro já avisou que é preciso destruir tudo o que está aí para começar a construir do zero uma 
nova sociedade, e a sua equipe de vândalos sem controle cumpre esta missão à risca.
Sim, trata-se de inominável loucura, mas eles fazem isso com método, distribuindo os papéis para 
cada um, e obrigando todo mundo a falar deles o dia inteiro.
Já me propus várias vezes a não falar mais do capitão e seu desgoverno, mas é impossível.
Por suas palavras e atos, eles decidem nossas vidas, criam uma nova realidade, mudam leis a seu bel 
prazer, fazem-nos reagir às ações mais insanas para acabar com direitos e implantar uma nova 
ordem, baseada no fundamentalismo político, miliciano e religioso.
A esquerda estava acostumada a polarizar com o PSDB, que também é analógico, e está perdido em 
seus labirintos, com prazo de validade vencido.
Agora a disputa não é mais feita em comícios, palanques e atividades partidárias à luz do dia, mas 
nos subterrâneos ainda desconhecidos da guerra virtual.
As lideranças de oposição estão com os mesmos discursos de antes das eleições e do tsunami 
provocado pela assunção da extrema direita sem partido.
Dividida e sem novas propostas para tirar o Brasil do buraco, a esquerda alterna-se entre o vitimismo 
e o salvacionismo, incapaz de apresenta qualquer nova proposta, uma ideia original que seja, para 
tirar o país do buraco e devolver esperança ao povo.
Dia após dia, é sempre mais do mesmo, cada um gritando para um lado, e daqui a pouco vamos 
completar um ano dessa insanidade, em marcha batida para o caos econômico e social.
Um dos mais lúcidos e raros pensadores brasileiros, o teólogo e filósofo Leonardo Boff, em artigo 
publicado hoje no Brasil 247, pergunta-se, perplexo:
“O que virá depois do conservadorismo atroz da direita? Será mais do mesmo? Mas isso é muito 
perigoso, pois podemos ir ao encontro de um armagedom (o fim do mundo bíblico) ecológico-social 
pondo em risco o futuro comum da Terra e da Humanidade”.
Parece que ninguém mais está parando para pensar nesta desgraceira que avança sob nossos olhos.
Se a Amazônia bate recordes de desmatamento e queimadas, o napoleão do Planalto limita-se a dizer 
que esse é um problema “cultural”, e não há o que fazer para parar as moto-serras.
Se as investigações sobre o assassinato de Marielle estão chegando ao seu filho Carlucho, o 02 chefe 
da milícia virtual, o capitão tem a coragem de dizer, como fez hoje:
“Parece que à esquerda não interessa resolver o caso Marielle. Interessa continuar usando a morte 
dela em causa própria”.
O que dá para responder a uma imbecilidade dessas?
Mas também não dá para ignorar o método existente nesta loucura, repetindo discursos de 
antigamente, que não comovem as bolhas atômicas do bolsonarismo, nem mobilizam os 
descontentes.
“Estamos imersos numa angustiante crise civilizatória que ganha corpo nas várias crises (climática, 
alimentaria, energética, econômico-financeira, ética e espiritual”, escreve Boff.
Que caminhos a esquerda tem a propor para sairmos de todas essas crises, além de combater as 
injustiças e iniquidades praticadas pela Lava Jato?
Num ponto, direita e esquerda se encontram: ao olhar para trás e evocar o passado, dos tempos da 
ditadura ou da democracia, respectivamente, num festival de nostalgia que não deixa espaço para 
discutir o futuro.
De Lula se espera que nos próximos pronunciamentos apresente ao PT, no Congresso Nacional do 
partido neste final de semana, em São Paulo, as bases de um projeto nacional, voltado às novas 
gerações, para manter acesa uma chama de esperança.
O Brasil não merece ficar nas mãos desses trogloditas saídos das tumbas da ditadura.
Vida que segue.

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