quinta-feira, 14 de março de 2019

Site de extremista brasiliense deu dicas a autores de massacre em Suzano

Página era comandada por Marcelo Mello até maio de 2018, quando policiais federais o 
prenderam. Mas o site continua ativo
Os autores do massacre em uma escola de Suzano (SP) receberam dicas de um extremista 
brasiliense. Guilherme Taucci Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, 25, atiradores que 
mataram oito pessoas e depois se suicidaram na Escola Estadual Raul Brasil, na Região 
Metropolitana de São Paulo, usaram o Dogolachan, maior fórum de propagação de ódio na internet 
brasileira, para juntar dicas e fazer planos para o ataque. 
A página foi criada por Marcelo Valle Silveira Mello, condenado por racismo, coação, associação 
criminosa, incitação ao cometimentos de crimes, divulgação de imagens de pedofilia e terrorismo 
cometidos na internet. Entre outros, ele havia anunciado um atentado na Universidade de Brasília 
(UnB) e feito ameaças a uma professora da instituição.
O Dogolachan só é acessível na dark net, conhecido por ser um espaço para debate sobre prática de 
crimes, violação de direitos humanos, propagação de racismo, homofobia e misoginia. Nesta quinta-
feira (13/3), após o atentado em Suzano, integrantes do fórum celebraram os assassinatos no interior 
de São Paulo, incitando mais ações como essa.
Uma semana antes, um dos atiradores publicou um agradecimento ao administrador do fórum, 
conhecido como DPR. "Muito obrigado pelos conselhos e orientações, DPR. Esperamos do fundo 
dos nossos corações não cometer esse ato em vão. (...) Nascemos falhos, mas partiremos como 
heróis. (...) Ficamos espantados com a qualidade, digna de filmes de Hollywood", diz a mensagem.
Um tópico com as dicas pedidas pelos atiradores enquanto planejavam o massacre foi classificado 
como secreto por DPR, que mudou sua URL para não ser achado em futuras investigações de 
autoridades, revelou o portal de notícias R7.
O administrador deu detalhes de como ajudou os dois atiradores a conseguirem armas, além de 
descrever Guilherme como um "um bom garoto que acabou descobrindo da pior forma possível que 
brincadeiras podem ser tornar pesadelos reais".
Segundo o mesmo texto de DPR, o "Luiz entrou em contato para buscar um canal onde ele obtivesse 
fácil acesso a um revolver calibre 22", e logo depois lhe apresentou Guilherme. Ele encerra a 
publicação afirmando que as conversas foram deletadas e jamais irá revelar o teor exato delas.
Mais tarde, DPR, o administrador, descreveu trocas de e-mails com Luiz, que teria interesse em 
comprar uma arma com facilidade, e que também foi apresentado à Guilherme por Luiz. Segundo o 
administrador, Luiz era conhecido no fórum como "luhkrcher666", e Guilherme como "1guY-
55chaN". DPR diz ainda que cortou o contato com Luiz por e-mail pois ele deixava muitos "rastros" 
digitais, que facilitariam a identificação de todos os membros.
Por fim, DPR diz que Luiz era um "rapaz injustiçado", enquanto Guilherme, era "inocente a ponto de 
transparecer sua natureza completamente infantil". Ele afirma que todas as conversas foram 
deletadas e jamais irá revelar o teor exato delas.
Prisões e condenações
O brasiliense Marcelo Valle Silveira Mello, também conhecido como Psy ou Batoré, criou o 
Dogolachan em 2013 . Mello é conhecido por crimes de ódio e foi a primeira pessoa condenada pela 
Justiça do Brasil por crime de racismo na internet, em 2009. Ele se posicionou contra as cotas raciais 
de maneira preconceituosa e foi condenado a um ano e dois meses de prisão.
O site era comandado por Marcelo Mello até maio de 2018, quando policiais federais o prenderam na 
Operação Bravata. Desde então, DPR se tornou o administrador principal e tornou o fórum ainda 
mais sigiloso. O Dogolachan está ligado também ao Massacre de Realengo, onde Wellington 
Menezes de Oliveira — considerado um herói no fórum — matou 12 crianças, antes de se matar.
Ex-aluno da Universidade de Brasília (UnB), Marcelo Valle Silveira Mello foi condenado a 41 anos, 
seis meses e 20 dias por racismo, coação, associação criminosa, incitação ao cometimentos de 
crimes, divulgação de imagens de pedofilia e terrorismo cometidos na internet. 
A decisão do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, 
proferida em dezembro de 2018, também o condena à reparação de danos no valor de R$ 1 milhão e 
ao pagamento de 678 dias-multa (no valor de um décimo de salário mínimo de dezembro de 2016). 
Segundo a sentença, a indenização será destinada a programas educativos da área e programas de 
combate aos crimes cibernéticos.
Marcelo Mello, de acordo com a sentença, também costumava denunciar às autoridades postagens 
anônimas produzidas por ele mesmo, a fim de tentar de manter longe de suspeitas.
Segundo o magistrado, a periculosidade de Marcelo Mello é "inequívoca": solto, ele pode ser uma 
"verdadeira ameaça à ordem social". "Não só na condição de autor de delitos como divulgação de 
imagens de pedofilia, racismo e líder de associação criminosa virtual, mas também como grande 
incentivador de cometimento de crimes ainda mais graves por parte de terceiros, como homicídios, 
feminicídios e terrorismo", completou o juiz.
O magistrado afirmou, ao fixar a reparação de danos, que, mesmo condenado uma vez, Marcelo 
Mello voltou a praticar crimes semelhantes e que apenas a pena corporal "não é suficiente".
Ameaças na UnB
Em março de 2012, Marcelo foi detido por planejar uma chacina contra estudantes do curso de 
ciências sociais da UnB. Durante buscas realizadas em Brasília e em Curitiba, os policiais 
encontraram um mapa apontando uma casa de festas frequentada pelos universitários no Lago Sul. 
Local onde, segundo a PF, poderia ocorrer a matança.
Por esses crimes, ele havia sido condenado a seis anos e sete meses de prisão em regime semiaberto. 
A Justiça do Paraná entendeu que ele havia praticado os crimes de indução à discriminação ou 
preconceito de raça; incitação à prática de crime; e publicação de vídeos e fotografias de crianças e 
adolescentes em cenas de sexo.
Marcelo Mello ficou detido por um ano e seis meses no Paraná, ganhou o direito de cumprir pena em 
liberdade e voltou a criar páginas com conteúdo racista e discriminatório na internet. Ele também é o 
autor de um blog misógino que incitava crimes de violência sexual, física, psicológica e moral contra 
mulheres na UnB.
Em 2017, uma conta de e-mail com o nome Marcelo Valle Silveira Mello enviou mensagens 
ameaçando de morte o apresentador e jornalista Fernando Oliveira, mais conhecido como Fefito. O 
motivo do ataque seria homofobia.

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