terça-feira, 18 de dezembro de 2018

MADAME BOLSONARO, NÃO SE META COM OS ORIXÁS!


Os orixás pelas mãos de dois mestres: Djanira e Ricardo Stuckert
Por Marcos Rezende, baiano, historiador, Coordenador Geral 
do Coletivo de Entidades Negras e religioso de Matriz Africana
A intolerância e o racismo religioso da família Bolsonaro, que se apresenta ao País como evangélica 
e usa esse fator como diretriz para governar, retirará do Palácio da Alvorada obras sacras históricas. 
O critério para a decisão? A dificuldade de lidar com a diversidade.
Peças barrocas católicas, como um par de anjos e quatro estátuas de santos, serão afetadas. Mas, na 
notícia publicada pela Folha de S. Paulo, o que chamou atenção, especialmente da comunidade negra 
e de religiosos de matriz africana, é que mais uma vez a religião dos orixás será desrespeitada pelo 
Estado e pela ultradireita.
Michelle Bolsonaro, que frequenta a Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro, deu um jeito de livrar-
se da pintura 'Orixás', de Djanira, que ocupa o Salão Nobre do Palácio.
É mais um paralelo entre a família Bolsonaro, adepta da ditadura militar, e o regime sanguinário que 
silenciou o Brasil por 21 anos e tenta retornar nos anos 2000.
Diz a história que o luterano Ernesto Geisel - que, aqui, é lembrado como o que "mandava matar"
pediu que tirassem de circulação a mesma obra, que tem grandes proporções e representa entidades 
do candomblé brasileiro.
O quadro só voltou a ser exposto pelas mãos da primeira dama Ruth Cardoso, no governo do tucano 
FHC, e serviu de pano de fundo para momentos históricos de resistência. Alguns deles até recentes 
na nossa memória.
Dos mais próximos, talvez o mais simbólico foi quando Dilma anunciou a volta do presidente Lula 
ao governo – no mesmo episódio em que o juiz Moro divulgou áudios de grampos ilegais para a 
Globo, o que, como se diz aqui, se fosse nos Estados Unidos, tinha sido torrado numa cadeira 
No Salão Nobre do Alvorada, o anúncio, registrado em foto, mostra 'Orixás', de Djanira, ao fundo de 
Dilma – confirmando que as energias das religiões tradicionais africanas estão do lado correto da 
história.

Agora, no entanto, Michelle repetirá a história protagonizada por Geisel como tragédia. A tela 
histórica que representa as religiões afro deverá ir para o Masp (Museu de Arte de São Paulo), em 
fevereiro.
Para os Bolsonaro, não bastam os dados divulgados pelo Disque 100, que registrou crescimento 
vertiginoso da violência religiosa contra as religiões de matrizes africanas, o que, inclusive serviu de 
base para denúncias feitas à OEA. Não bastassem também as correntes de oração cristã, transmitidas 
em rede nacional, inclusive após a vitória eleitoral, que deixaram os defensores do Estado laico 
preocupados.
Agora, com essa atitude, a família fantoche da elite econômica cria um clima propício para acentuar 
o fundamentalismo religioso e o desrespeito à diversidade religiosa.
O fato revela o racismo religioso da família Bolsonaro, que pretende ficar, nesses quatro anos de 
mandato, em sintonia com a tradição Casa Grande vs Senzala, e governar para os evangélicos e os 
homens brancos das elites nacionais e internacionais, com direito a capitão do mato - e bem longe 
das pautas do povo preto.
Povo preto, nunca é demais lembrar, que construiu esse País e representa, segundo o IBGE, 54% da 
população brasileira (sendo a maioria dos que vivem desalentados, desempregados, no mercado 
informal, abaixo da linha da pobreza e assassinados).
Mas, com fé em Oxalá e foco nas lutas do povo, Deus ou os deuses que dizem ser brasileiros, 
independente de religião, haverão de dar providências!
Não é recomendável se meter com os orixás!
Axé!
Marcos Rezende, baiano, historiador, Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras e 
religioso de Matriz Africana

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