segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

EFEITO BOLSONARO NO DESASTRE MAIS MÉDICO: 30% DOS BRASILEIROS INSCRITOS NEM SE APRESENTAM E OUTROS 30% DEIXARA VAGAS NA SAÚDE DA FAMILIA


Jamais faria um acordo com Cuba nestes termos (como o assinado em 2013 para a criação do 
Mais Médicos). Isso é trabalho escravo. […] Duvido que alguém queira ser atendido pelos 
cubanos. Presidente eleito Jair Bolsonaro.
.....Bolsonaro, meu filho, quando o Sr. diz que Cuba fica com meu salário eu só penso nas 
seguintes questões: eu aceitei os termos de um contrato por livre e pessoal determinação; ciente de 
que, com esse dinheiro, minha mãe, irmãos, sobrinhos, primos, tios , vizinhos, famílias todas tem 
garantido cuidado de sua saúde, sem pagar nada; ciente de que minha formação como médico é 
graças à criação de universidades públicas em todo o território nacional. Onde filhos de pedreiros, 
advogados, fazendeiros, faxineiras, empregados dos correios, médicos, etc compartilham a mesma 
sala de aulas sem discriminação por sexo, cor, ideologia, ou riqueza. Isso, Bolsonaro, chama-se 
igualdade. Médico cubano Yonner González Infante, em resposta a Bolsonaro.....
Um terço dos brasileiros inscritos no Mais Médicos não se apresenta para trabalhar
Adesão ao Mais Médicos cria buraco de 2.800 médicos em 
postos do Saúde da Família. […] Segundo o balanço, de 7.271 
médicos que já tinham selecionado vagas no Mais Médicos até 
segunda-feira (26), 2.844 já pertenciam, aos quadros do 
programa Estratégia Saúde da Família. Folha de S. Paulo
do Deutsche Welle

Prazo para apresentação dos que suprirão saída dos médicos cubanos se encerrou sem 
comparecimento de muitos. Brasileiros ligados ao programa relatam total desassistência em 
comunidades, sobretudo do Norte.
A médica de família Marina Abreu admite que não conhecia a real complexidade do Brasil até 
começar a trabalhar como tutora de coordenadores do programa Mais Médicos.
No Norte do país, ela conheceu locais que nunca tinham recebido um médico, aonde só se pode 
chegar após longas viagens em barcos com furos e sem assentos. Ela se emociona ao falar sobre a 
situação das comunidades que voltaram a ficar sem atendimento após a saída dos profissionais 
cubanos no último mês.
“O programa vinha avançando e tinha passado da fase de novidade pela chegada dos médicos. Havia 
projetos em andamento e uma forte adesão aos tratamentos pela população, que criou vínculos com 
os profissionais. Estavam sendo feitos procedimentos como a colocação de DIU, que é simples, mas 
não era feito antes por uma série de limitações. O médico já conhecia aquela população e conseguia 
fazer um trabalho específico.”
Visando à reposição dos profissionais cubanos, o governo brasileiro abriu um edital para os médicos 
interessados em participar do programa.
Na última sexta-feira (14/12), acabaria o prazo para que os 8.411 inscritos se apresentassem nos 
novos postos de trabalho. Entretanto, 2.520 (cerca de 30%) não compareceram.
A situação levou o Ministério da Saúde a prorrogar para a próxima terça-feira a data limite para 
início das atividades.
Outras 106 vagas do edital sequer tiveram interessados.
Elas correspondem a 31 localidades, sendo 23 municípios do Amazonas, Pará, Piauí e Rondônia, 
além de oito Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), unidades de responsabilidade sanitária 
federal correspondentes a uma ou mais terras indígenas.
Marina trabalhou até fevereiro deste ano como supervisora de DSEIs no município de Marechal 
Thaumaturgo, no Acre. Há voos comerciais duas vezes por semana para lá, num avião que comporta 
de seis a oito pessoas. A alternativa é a viagem de barco, que dura oito horas.
“A maioria dos barcos não tem cobertura ou assento para encostar as costas. É bem precário e toma 
tempo. No Norte do Brasil, o clima define muito o que dá para fazer. Se chove muito, o rio fica cheio 
demais e se torna perigoso, pois a correnteza é forte e descem troncos e árvores inteiras que se 
soltaram. Quando chove pouco, o motor do barco não circula, e aí o barco pode virar porque o rio 
está barrento. A logística era difícil, complicada, e dá uma ideia de como é complexo fazer o 
atendimento em áreas indígenas.”
Como supervisora, Marina recebia relatos de situações em que não fora possível transportar 
pacientes para uma cidade maior, com melhor estrutura.
Se fosse necessário, os profissionais realizavam partos e suturas, pois não haveria tempo de chegar a 
um local com condições mais adequadas. Além dessa adequação, o trabalho nas DSEIs também 
demanda uma compreensão dos costumes da comunidade.
“Estávamos levando a medicina do homem branco para uma área indígena, e isso traz conflitos de 
medicação. A ideia não era impor a medicina do homem branco, e sim contribuir e colaborar com o 
que eles já praticam na medicina deles. No caso de etnias com pajés, o médico só entrava na aldeia 
com autorização dele. Há grupos que não têm o costume de ter banheiro, outras que não têm 
construções. O médico se adaptava àquilo e fazia o trabalho de orientação, principalmente. Quando 
necessário, fazia intervenção mesmo, com tratamento medicamentoso, sempre com consentimento 
ou de forma compartilhada com os pajés e demais lideranças.”
As áreas contempladas pelo Mais Médicos na região Norte apresentam um perfil populacional 
heterogêneo. Além dos povos indígenas, há ribeirinhos, quilombolas e também muitas comunidades 
de agricultores. No sul do Pará, está localizada a comunidade Vila Estrela, no município de Cumaru 
do Norte, onde trabalha o enfermeiro Valdir dos Reis. Ele conta que a população local está 
desassistida desde a saída do médico cubano que lá estava.
“O doutor Humberto García está fazendo muita falta. Nossa unidade funciona de 7h às 11h e de 14h 
às 17h. Ele cumpria rigorosamente os horários, o que infelizmente não se via entre os brasileiros que 
passaram por aqui. Nós ficamos de sobreaviso para qualquer eventualidade, qualquer emergência 
que surgir no período noturno e finais de semana também. A população não precisava mais ir para 
outras cidades para fazer esse tipo de atendimento, porque aqui tinha.”
Com a partida do profissional cubano, Valdir só consegue prestar os atendimentos primários e 
encaminhar os pacientes para o hospital mais próximo, que fica a 120 quilômetros de distância, 
sendo 80 quilômetros em estrada de terra. A comunidade conta com uma ambulância antiga, 
desgastada e pouco confortável. Mesmo serviços mais básicos, como atestados e pedidos de exames, 
não vêm mais sendo oferecidos.
No edital do governo, foram abertas três vagas para o município de Cumaru do Norte, sendo uma 
delas justamente na Vila Estrela. Elas haviam sido preenchidas, entretanto os profissionais desistiram 
após conhecer a realidade do local. Hoje, o Brasil tem cerca de 5 mil médicos especializados em 
Saúde da Família, para atender a mais de 25 mil unidades de saúde.
Marina Abreu, que estudou Medicina em Cuba, destaca a valorização que essa especialidade recebe 
no país caribenho.
“Antes de fazer outra especialização, todos os médicos que se formam em Cuba precisam fazer dois 
anos de residência em Saúde da Família. Além disso, o curso é completamente voltado para a 
medicina de família e comunidade. A disciplina de Medicina Geral e Integral é oferecida em todos 
os anos. Desde 2014 vem se tentando no Brasil fazer com que essa área seja a principal disciplina do 
curso, o que é feito desde sempre em Cuba.”
Além de prorrogar o prazo de apresentação dos médicos inscritos no edital até a próxima terça-feira, 
o Ministério da Saúde também estendeu a inscrição até este domingo.
Houve picos de instabilidade no site, causados pelo grande número de acessos, o que pode ter 
ocasionado dificuldades no momento da inscrição. Estrangeiros formados no exterior e sem registro 
no Brasil também podem participar.
A DW Brasil entrou em contato com o Ministério da Saúde para indagar se há um planejamento 
específico da pasta para as áreas mais remotas que não vêm atraindo interesse dos médicos 
brasileiros. Até o fechamento da reportagem, não houve retorno.

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