segunda-feira, 5 de novembro de 2018

“O BRASIL FICOU LOUCO”, DIZ SEBASTIÃO SALGADO


Um dos maiores fotógrafos do mundo, o brasileiro Sebastião Salgado, que fugiu do Brasil 
durante a ditadura militar, avaliou os fatores que levaram à ascensão da extrema-direita e à 
eleição de Jair Bolsonaro; em entrevista a uma rádio francesa, Salgado disse que o Brasil já 
estava dando "sinais de insanidade"; "Quando Dilma Rousseff, eleita democraticamente, foi 
destituída, praticamente em um golpe de estado, e um governo totalmente corrupto foi 
colocado no lugar, começamos a perder o controle do país", declarou; "Colocamos na prisão 
aquele que poderia ser eleito diretamente no 1° turno, por corrupção, praticamente sem 
provas", disse; para ele Lula se tornou "praticamente um prisioneiro político".

Rádio França Internacional - Em entrevista à rádio francesa France Inter, o fotógrafo brasileiro 
Sebastião Salgado, que fugiu da ditadura nos anos 60 no Brasil para morar na França, falou sobre a 
vitória de Jair Bolsonaro e o fatores que levaram a extrema-direita ao poder no país.
Para o premiado fotógrafo brasileiro, entrevistado pela apresentadora Lea Salamé, "o Brasil ficou 
louco", mas já estava dando sinais de insanidade. "Quando Dilma Rousseff, eleita democraticamente, 
foi destituída, praticamente em um golpe de estado, e um governo totalmente corrupto foi colocado 
no lugar, começamos a perder o controle do país", declarou."Colocamos na prisão aquele que 
poderia ser eleito diretamente no 1° turno, por corrupção, praticamente sem provas", disse, em 
referência ao presidente Lula. Para Salgado, Lula se tornou "praticamente um prisioneiro político".
O premiado fotógrafo brasileiro ressalta que houve "muita corrupção do PT e que, para governar, o 
partido comprou muito apoio político". Isso, em sua opinião, "se voltou contra as forças 
democráticas". Ele também lembrou da alta taxa de rejeição de Bolsonaro, e de como, em poucos 
meses, ele se tornou o favorito das eleições presidenciais no Brasil, vencendo com cerca de 55% dos 
votos. "Mas também teve muita gente que não foi votar", disse Salgado, se referindo à alta taxa de 
abstenção (21%) e votos nulos (2%) e brancos (7%), lembrando que, no total, mais de 87 milhões de 
brasileiros não votaram para Bolsonaro.
Ele também comentou a nomeação de alguns membros do governo, incluindo o juiz federal Sérgio 
Moro, que conduziu as investigações da operação Lavo-Jato que levaram à prisão de Lula, e de 
antigos militares. Segundo Sebastião Salgado, as Forças Armadas estiveram neutras no processo 
eleitoral. Os generais que participam do governo Bolsonaro, diz, são "velhos generais aposentados, 
muitos que se identificam com o golpe de estado de 1964, mas não são as Forças Armadas, são 
antigos militares", sublinha.
Questionado sobre o papel dos militares de hoje na proteção do país e contra decisões arbitrárias de 
Bolsonaro, o fotógrafo respondeu que as forças armadas de hoje não são as mesmas de antigamente. 
"São modernas, como as da França, que participam de missões técnicas e internacionais com a ONU. 
É diferente. Não são Forças Armadas golpistas de uma República das Bananas. Isso mudou."
"Não há um retorno da ditadura"
Sebastião Salgado não enxerga a eleição de Bolsonaro como um retorno à ditadura. "Longe disso. O 
Brasil tem todas as instituições de um país democrata. Tudo o que ele pensa poder fazer no país 
necessita da aprovação do Congresso, onde ele não tem a maioria, e precisará fazer uma série de 
concessões. Falar é uma coisa, fazer é outra", afirma.
Em relação à proposta da criação de um Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura, que pode ser 
abandonada, o fotógrafo acredita que é uma prova de que Bolsonaro terá que voltar atrás de suas 
decisões. "Isso mostra a pressão que existe nos negócios internos. O Brasil se tornou o maior 
produtor agrícola do mundo e exporta carne, soja, café", destaca. "O agrobusiness é enorme e 
depende do mercado externo. Acabar com o Ministério do meio-ambiente e destruir uma parte da 
Amazônia traz efeitos para a economia, haverá um movimento planetário de boicote", lembra.
Sebastião Salgado, que está à frente de uma ONG que milita pelo reflorestamento, não acredita que a eleição de Bolsonaro terá um efeito negativo em seu trabalho. "Esse movimento é independente do 
governo, plantaremos 150 milhões de árvores e não precisamos de dinheiro público", sublinha. "O 
grande problema ecológico de Bolsonaro é a Amazônia, porque ele prometeu uma abertura da 
Amazônia ao agrobusinness. Mas eu me pergunto se o agrobusinness precisa da Amazônia. Eles têm 
as terras mais férteis do mundo", diz.
Segundo Salgado, as próprias Forças Armadas defendem a Amazônia e criaram a Funai. "As Forças 
Armadas são a principal instituição presente na Amazônia, e eu conheço um certo número de jovens 
generais que são contra a abertura da Amazônia", afirma.

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