Um dos maiores fotógrafos do mundo, o brasileiro Sebastião Salgado, que fugiu do Brasil
durante a ditadura militar, avaliou os fatores que levaram à ascensão da extrema-direita e à
eleição de Jair Bolsonaro; em entrevista a uma rádio francesa, Salgado disse que o Brasil já
estava dando "sinais de insanidade"; "Quando Dilma Rousseff, eleita democraticamente, foi
destituída, praticamente em um golpe de estado, e um governo totalmente corrupto foi
colocado no lugar, começamos a perder o controle do país", declarou; "Colocamos na prisão
aquele que poderia ser eleito diretamente no 1° turno, por corrupção, praticamente sem
provas", disse; para ele Lula se tornou "praticamente um prisioneiro político".
Rádio França Internacional - Em entrevista à rádio francesa France Inter, o fotógrafo brasileiro
Rádio França Internacional - Em entrevista à rádio francesa France Inter, o fotógrafo brasileiro
Sebastião Salgado, que fugiu da ditadura nos anos 60 no Brasil para morar na França, falou sobre a
vitória de Jair Bolsonaro e o fatores que levaram a extrema-direita ao poder no país.
Para o premiado fotógrafo brasileiro, entrevistado pela apresentadora Lea Salamé, "o Brasil ficou
Para o premiado fotógrafo brasileiro, entrevistado pela apresentadora Lea Salamé, "o Brasil ficou
louco", mas já estava dando sinais de insanidade. "Quando Dilma Rousseff, eleita democraticamente,
foi destituída, praticamente em um golpe de estado, e um governo totalmente corrupto foi colocado
no lugar, começamos a perder o controle do país", declarou."Colocamos na prisão aquele que
poderia ser eleito diretamente no 1° turno, por corrupção, praticamente sem provas", disse, em
referência ao presidente Lula. Para Salgado, Lula se tornou "praticamente um prisioneiro político".
O premiado fotógrafo brasileiro ressalta que houve "muita corrupção do PT e que, para governar, o
partido comprou muito apoio político". Isso, em sua opinião, "se voltou contra as forças
democráticas". Ele também lembrou da alta taxa de rejeição de Bolsonaro, e de como, em poucos
meses, ele se tornou o favorito das eleições presidenciais no Brasil, vencendo com cerca de 55% dos
votos. "Mas também teve muita gente que não foi votar", disse Salgado, se referindo à alta taxa de
abstenção (21%) e votos nulos (2%) e brancos (7%), lembrando que, no total, mais de 87 milhões de
brasileiros não votaram para Bolsonaro.
Ele também comentou a nomeação de alguns membros do governo, incluindo o juiz federal Sérgio
Moro, que conduziu as investigações da operação Lavo-Jato que levaram à prisão de Lula, e de
antigos militares. Segundo Sebastião Salgado, as Forças Armadas estiveram neutras no processo
eleitoral. Os generais que participam do governo Bolsonaro, diz, são "velhos generais aposentados,
muitos que se identificam com o golpe de estado de 1964, mas não são as Forças Armadas, são
antigos militares", sublinha.
Questionado sobre o papel dos militares de hoje na proteção do país e contra decisões arbitrárias de
Questionado sobre o papel dos militares de hoje na proteção do país e contra decisões arbitrárias de
Bolsonaro, o fotógrafo respondeu que as forças armadas de hoje não são as mesmas de antigamente.
"São modernas, como as da França, que participam de missões técnicas e internacionais com a ONU.
É diferente. Não são Forças Armadas golpistas de uma República das Bananas. Isso mudou."
"Não há um retorno da ditadura"
Sebastião Salgado não enxerga a eleição de Bolsonaro como um retorno à ditadura. "Longe disso. O
"Não há um retorno da ditadura"
Sebastião Salgado não enxerga a eleição de Bolsonaro como um retorno à ditadura. "Longe disso. O
Brasil tem todas as instituições de um país democrata. Tudo o que ele pensa poder fazer no país
necessita da aprovação do Congresso, onde ele não tem a maioria, e precisará fazer uma série de
concessões. Falar é uma coisa, fazer é outra", afirma.
Em relação à proposta da criação de um Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura, que pode ser
Em relação à proposta da criação de um Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura, que pode ser
abandonada, o fotógrafo acredita que é uma prova de que Bolsonaro terá que voltar atrás de suas
decisões. "Isso mostra a pressão que existe nos negócios internos. O Brasil se tornou o maior
produtor agrícola do mundo e exporta carne, soja, café", destaca. "O agrobusiness é enorme e
depende do mercado externo. Acabar com o Ministério do meio-ambiente e destruir uma parte da
Amazônia traz efeitos para a economia, haverá um movimento planetário de boicote", lembra.
Sebastião Salgado, que está à frente de uma ONG que milita pelo reflorestamento, não acredita que a eleição de Bolsonaro terá um efeito negativo em seu trabalho. "Esse movimento é independente do
governo, plantaremos 150 milhões de árvores e não precisamos de dinheiro público", sublinha. "O
grande problema ecológico de Bolsonaro é a Amazônia, porque ele prometeu uma abertura da
Amazônia ao agrobusinness. Mas eu me pergunto se o agrobusinness precisa da Amazônia. Eles têm
as terras mais férteis do mundo", diz.
Segundo Salgado, as próprias Forças Armadas defendem a Amazônia e criaram a Funai. "As Forças
Armadas são a principal instituição presente na Amazônia, e eu conheço um certo número de jovens
generais que são contra a abertura da Amazônia", afirma.
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