sexta-feira, 9 de novembro de 2018

EM SANTARÉM SOJEIROS AGROTÓXICOS AMEAÇAM COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS PARA IMPEDIR REUNIÃO COM POVOS INDÍGENAS. ASSISTA


Produtores de soja agem com truculência e tentam impedir comissariado de realizar reunião
com comunidade indígena durante visita da CIDH a Santarém (PA)

O DIRETOR DE AGRICULTURA DO 
SINDICATO DOS SOJEIROS - SIRSAN, 
SEMPRE EM DESTAQUE QUANDO O 
TEMA É PROVOCAÇAR
no site Comissão Pastoral da Terra, via Tânia Mandarino
Durante a visita à aldeia Açaizal, Território Munduruku do Planalto, a equipe da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos-OEA, foi
interpelada de forma intimidatória e ameaçadora por representantes dos produtores de soja do
Planalto Santareno, que tentaram impedir a realização da reunião com o povo indígena e expulsar o
comissariado da região.
Com a ocorrência deste fato, ficou evidente à CIDH e a todas as organizações e movimentos
populares presentes na visita, a situação de grave conflito e violência promovida pelos setores
ligados ao agronegócio, que historicamente atuam no sentido da apropriação e pilhagem das terras e
territórios dos povos tradicionais, originários, e dos povos do campo do Oeste do Pará em geral.
Apesar disso, a agenda foi mantida, a reunião realizada, assim como a audiência com as
organizações sociais e populares do oeste paraense, na sede do Ministério Público Estadual (MPE),
em Santarém (PA).


Em seu quarto dia de visitas ao Brasil para verificar a situação dos direitos humanos, a delegação da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos
(OEA) chegou ao oeste do Pará, no município de Santarém, na manhã de hoje, 08 de novembro.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) acompanharam os
representantes da CIDH ao território indígena Munduruku do Planalto Santareno.
O referido território é formado pelas aldeias Açaizal, Amparador, São Francisco da Cavada e
Ipaupixuna, que vivenciam graves conflitos em decorrência da presença de setores ligados ao
agronegócio, em especial produtores de soja, no território tradicional indígena.
Durante a visita à aldeia Açaizal, Território Munduruku do Planalto, a CIDH pôde presenciar um
pouco do cotidiano de violência e intimidação a que o povo Munduruku do Planalto Santareno é
historicamente submetido.
A reunião de escuta do povo indígena, antes mesmo de ser iniciada, foi interrompida pela
interpelação intimidatória e ameaçadora de representantes dos produtores de soja do Planalto
Santareno, que tentaram impedir a realização da mesma e expulsar o comissariado da região.
Apesar disso, fortalecidos pela ancestralidade e resistência, os povos presentes deram início à
reunião, apresentando suas principais pautas.
Destacaram que uma luta fundamental destes povos é a da própria existência, seja enquanto povo
que se reconhece e se afirma a partir da luta história e ancestral, seja enquanto território, espaço
fundamental para a reprodução econômica, social e cultural.
Ressaltam que é urgente a demarcação oficial do território Munduruku do Planalto, a qual deverá
referendar a autodemarcação realizada e que o papel da CIDH deve ser ao lado dos povos do campo,
buscando soluções para a garantia e efetivação dos seus direitos e para a proteção de seus lutadores e
lutadoras.
Em resposta, os representantes da CIDH afirmaram que o objetivo da visita é produzir um informe
sobre a situação dos Direitos Humanos no Brasil à OEA e a partir dele uma recomendação ao Estado
Brasileiro quanto à garantia efetiva dos DHs.
Em especial, a CIDH pretende realizar um informe e recomendação em relação à atuação do
Programa de Proteção aos/as defensores/as de direitos humanos e sobre a situação específica dos/as
ameaçados/as de morte, que não devem de forma alguma arcar com os custos da proteção.
Destacam também a importância de construção de ações e políticas voltadas para a incidência nas
situações urgentes e imediatas de proteção aos/as ameaçados/as de morte e legitimam a CPT como
interlocutora fundamental para manter a CIDH informada acerca da situação dos DH’s no Oeste do
Pará.
CIDH ouve organizações sociais e populares do Oeste do Pará
No período da tarde ocorreu a audiência com as organizações e movimentos populares em geral, na
sede do Ministério Público Estadual, as quais apresentaram à CIDH as seguintes violações aos
direitos humanos:
*atuação do agronegócio e dos grandes empreendimentos em desrespeito aos povos indígenas,
quilombolas, ribeirinhos e seus territórios, aos assentamentos de reforma agrária, à biodiversidade e
às águas, com destaque para a pretensa construção do Porto do Maicá, a ser destinado para o
escoamento de grãos;
*autorizações ilegais de manejo florestais e extração de madeira em territórios tradicionais, em
especial do território indígena Maró, e em assentamentos de reforma agrária de modo a provocar um
desmatamento desenfreado;
*atuação violenta de empresas e grandes fazendeiros em assentamentos rurais, de modo a promover
um processo intenso de concentração de lotes e reconcentração fundiária;
*ameaças à vida e integridade física dos povos do campo, das águas e da floresta e ausência de uma
atuação efetiva do PPDDH, o que tem aumentado as situações de violência e homicídios contra
lutadores/as;
*negativas permanentes aos direitos à saúde e educação dos povos indígenas e quilombolas, numa
total situação de descaso;
*ameaça constante ao direito de autoafirmação dos povos tradicionais;
*ausência de uma política efetiva de demarcação dos territórios indígenas, quilombolas e demais
territórios tradicionais, o que tem promovido um processo de minifundização, cercamento e
privatização destes territórios;
*inaplicabilidade da Convenção 169 da OIT, em especial quanto às determinações de garantia de
posse e propriedade dos povos tradicionais e de consulta prévia livre e informada e desrespeito aos
protocolos de consulta realizados por povos quilombolas, indígenas e ribeirinhos no Oeste do Pará;
*uso intensivo e desmedido de agrotóxicos de modo a promover o envenenamento das comunidades.
A equipe da CPT em Itaituba destacou, ainda, a situação do P.A. Areia e dos agricultores Osvalinda e
Daniel, que em decorrência de sua atuação em defesa de um modo de produção agroecológico e
sustentável e do enfrentamento à concentração fundiária e extração ilegal de madeira, têm sido
ameaçados e vivem em constante situação de risco.
Por esta razão encontram-se incluídos no PPDDH, o qual não tem garantido uma proteção efetiva, já
que o monitoramento remoto e a realização de rondas policiais não garantem a segurança necessária.
Neste sentido, a CPT ressaltou a importância da incidência da CIDH na política de proteção a
defensores/as de direitos humanos, destacando que o Pará conta com 16 pessoas ameaçados/as de
morte incluídos/as no PPDDH.

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