terça-feira, 18 de setembro de 2018

RANCOROSO? MINORADO? INVOLUÍDO? FRUSTRADO? AFINAL O QUE É UM FASCISTA? TENTE ENTENDER


Para compreender um fascista
por Walter Falceta

1) Frequentemente, o fascista se julga em uma cruzada santa contra o pecado e 
os pecadores.
2) Nesse campo da guerra dos costumes, ocorre a convergência entre a doutrina 
política conservadora e o credo evangélico.
3) Como se julga em uma missão santa, o fascista considera conveniente e até 
necessário agir de modo intolerante, impositivo e violento.
4) Há fascistas cultos, que são poucos, empenhados dia e noite em multiplicar a 
crença entre a massa de incultos.
5) A principal missão do fascista culto é fazer com que a massa se sinta 
prejudicada por qualquer política progressista.
6) O fascista articulador diz que negócios fracassam por causa do Bolsa Família.
7) Afirma que o branco não tem emprego em razão das políticas afirmativas de 
integração racial.
8) Sustenta que as aflições masculinas são resultado do empoderamento 
feminino.
9) Declara que os conflitos familiares decorrem de uma conspiração funesta 
urdida no campo da diversidade afetiva.
10) A "inteligência" fascista afirma, dia e noite, que há uma conspiração contra 
os valores tradicionais e que o pensamento progressista visa a perverter a 
juventude.
11) Uma expressão primitiva do fascismo condenou Sócrates (o filósofo), 
acusando-o de cometer este suposto delito.
12) Uma expressão recente do fascismo condenou Sócrates (o jogador), 
acusando-o de cometer o mesmo delito.
13) O fascismo tem obsessão com o tema da corrupção. A ideia é criminalizar e 
desqualificar o outro, aquele ideologicamente divergente, reduzindo-o à 
condição de bandido comum.
14) Em geral, o fascista acusa os adversários dos crimes que cotidianamente 
comete. Por este motivo, conhece muito bem o roteiro da argumentação 
caluniosa e do negacionismo. O fascismo nacional, por exemplo, tenta difundir a 
ideia de que Hitler era um esquerdista.
15) Ao martelar o tema da corrupção, o fascista diz aos estratos economicamente 
médios e inferiores que todos os seus fracassos e sofrimentos são de 
responsabilidade exclusiva dos progressistas.
16) O mote da corrupção é a resposta fácil para uma pergunta difícil: por que 
sofremos?
17) O fascista elimina todo o complexo debate sobre as razões estruturais da 
pobreza, do fracasso e da infelicidade social. Reduz a resposta à corrupção 
(supostamente praticada pelos outros) e à erosão dos costumes tradicionais.
18) O fascista e o neoliberal se entendem ao atribuir a infelicidade à preguiça e à 
falta de talento. Ambos isentam de culpa a exploração dos vulneráveis pelos 
mais fortes, sistema que preserva privilégios e regalias.
19) O fascista e o neoliberal apresentam exceções à regra para tentar justificar a 
doxa meritocrática.
20) O fascista trabalha sempre para que sua vontade supere o direito do outro 
(seja ele uma pessoa ou um grupo). Intimamente, o fascista se satisfaz quando 
impõe sua vontade acima da vontade dos diferentes.
21) Por tal razão, como lembra Eco, o fascista tem uma obsessão pelo 
militarismo, ou seja, por aquelas pessoas fisicamente fortes, fardadas e armadas 
que podem praticar a violência com o beneplácito do Estado.
22) O militar pode promover atrocidades que seriam motivo de punição para o 
cidadão comum. O mesmo se aplica aos profissionais encarregados de atuar em 
sessões de tortura e assassinatos políticos.
23) O fascismo aposta no rancor das massas. O rancor e o ressentimento são os 
combustíveis dos movimentos políticos reacionários.
24) O rancor é resultado, sobretudo, da negação sistemática da razão.
25) Novamente, a razão aponta a desigualdade e a exploração como causas do 
sofrimento humano.
26) A ausência da razão ajuda a difundir a tese de que o sofrimento é culpa dos 
diferentes.
27) O fascismo difunde uma falsa ideia de coletivo forte, de iguais empenhados 
em uma mesma missão. Na verdade, o fascismo elimina a democracia, concentra 
poderes, censura a opinião divergente e impõe uma uniformidade castradora da 
mente criativa.
28) Por este motivo, o fascismo tem tanto medo da arte. Incluída em uma peça 
do teatrólogo alemão Hanns Jost, simpático ao nazismo, é ilustrativa a frase 
erradamente atribuída a Goebbels: "quando ouço alguém falar em cultura, já 
saco o meu revólver".
29) A arte sugere o livre pensar e, inevitavelmente, estimula a subversão. Ao 
lidar com seus códigos de elaboração criativa, o artista identifica a maldade e a 
opressão. E pode ainda divulgar suas descobertas para a plateia. Toda arte 
verdadeira é, portanto, uma ameaça à farsa fascista.
30) O fascismo é frequentemente gestado no campo da limitação e da repressão 
da sexualidade. Na cama fascista, a relação carnal tende a reproduzir uma 
relação de poder desprovida de equivalências. No cotidiano, a libido suprimida 
gera frustração e, em seguida, um rancor difuso. Essa energia é, então, 
canalizada para o ódio contra os diferentes. A violência fascista tem como fonte 
os amores não realizados.

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