Cardeal d. Odilo Scherer
Publicado originalmente 31/08 às 18h e atualizado com a manifestação da
Reitora da PUC-SP, Maria Amalia Andery .‘Golpe contra a PUC vem, justamente,
com movimentos conservadores da igreja que tentam afastar Papa Francisco’,
avalia José Arbex Jr
Jornal GGN - Na última quarta-feira (29) a reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Amália Pie Abib Andery, foi surpreendida com um pacote medidas encaminhado pela Fundação São Paulo, mantenedora da instituição de ensino. Dentre as novas regras do decreto, está que, a partir da próxima gestão, o reitor não será mais eleito pela comunidade da PUC, assim como todos os cargos intermediários de chefia. O cardeal d. Odilo Scherer será o responsável direto pela escolha e, os demais cargos, serão definidos pelo reitor escolhido diretamente pelo líder da igreja Católica em São Paulo.
Em depoimento gravado em vídeo, o escritor, jornalista e professor da PUC-SP, José Arbex Júnior, destacou que a avaliação interna é de um levante dos setores de católicos conservadores contra o sistema democrático exercido pela instituição à décadas.
Pelas regras instituídas até então, alunos, funcionários e professores participavam diretamente da votação. Os três candidatos mais bem votados eram, então, submetidos à decisão do cardeal, arcebispo de São Paulo e presidente da Fundação São Paulo, d. Odilo.
"Na nossa opinião não é por acaso que esse golpe contra a PUC vem, justamente, em um momento em que os sistemas mais conservadores e fundamentalistas da Igreja Católica em todo o mundo, querem a demissão do Papa Francisco", pontuou Arbex Jr completando que, em São Paulo, o mesmo movimento se insurgem contra "espaços de liberdade que estão existindo hoje na igreja graças à militância do Papa Francisco".
Outro ponto preocupante do pacote é a aposentadoria compulsória de todos os professores com mais de 75 anos. Seria com o objetivo de apagar a sucessão da cultura histórica democrática da PUC-SP? Arbex lembra que, na instituição, já trabalharam nomes como o de Perseu Abramo e Paulo Freire.
"É difícil explicar, para quem não conhecer a história, a importância que tem a PUC. Durante a ditadura militar, quando a cúria aqui em São Paulo era comandada por Dom Paulo Evaristo Arns, a PUC representou um espaço importantíssimo de resistência à ditadura", pontuou o professor.
Há pouco mais de 40 anos, a PUC-SP protagonizou um dos eventos mais decisivos à derrocada da ditadura militar. Em 22 de setembro 1977, a mando do coronel Erasmo Dias, centenas de policiais, investigadores civis e tropas de choque invadiram a instituição de ensino, na ocasião em que ocorria o 3° Encontro Nacional dos Estudantes, e uma das pautas era a reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE), então proibida pelo regime.
Durante a invasão professores e estudantes foram atacados com cassetete e bombas de gás, vários estudantes foram pisoteados e mais de 500 foram levados para um batalhão da PM, o Tobias de Aguiar, na avenida Tiradentes. A ação obrigou Dom Paulo Evaristo Arns a voltar com urgência de Roma realizando, nos dias posteriores, uma série de entrevistas contra a truculência dos militares.
Com a decisão mais recente, Arbex acredita que a comunidade da PUC-SP terá que resistir e "fazer o que for possível para barrar mais essa medida autoritária".
"Vai ser difícil, mas com o apoio da sociedade brasileira eu acho possível barrar esse golpe", concluiu. Veja seu depoimento a seguir.
Abaixo, a posição de Maria Amalia Andery, Reitora da PUC-SP:
Esclareço que em 29 de agosto informei o Conselho Universitário da PUC/SP que a Universidade iniciará amplo processo de discussão de reforma de seu estatuto, a partir de documento de trabalho que contém proposta de reformulação feita pelo Conselho Superior da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC/SP.
A discussão, que envolverá todos os segmentos da comunidade universitária, ocorrerá nos próximos 60 dias e a proposta elaborada pelo Conselho Universitário será enviada ao Grão Chanceler e ao Conselho Superior.
Inicia-se, pois, um processo que deverá envolver a comunidade universitária, consolidando nossas práticas participativas que têm sido exemplares no contexto universitário nacional e que, tenho convicção, resultarão em um projeto em que se vinculam organicamente nosso compromisso social, relevância acadêmica e comprometimento com princípios éticos que sempre marcaram a trajetória da PUC/SP.
Maria Amalia Andery
Reitora da PUC-SP
A discussão, que envolverá todos os segmentos da comunidade universitária, ocorrerá nos próximos 60 dias e a proposta elaborada pelo Conselho Universitário será enviada ao Grão Chanceler e ao Conselho Superior.
Inicia-se, pois, um processo que deverá envolver a comunidade universitária, consolidando nossas práticas participativas que têm sido exemplares no contexto universitário nacional e que, tenho convicção, resultarão em um projeto em que se vinculam organicamente nosso compromisso social, relevância acadêmica e comprometimento com princípios éticos que sempre marcaram a trajetória da PUC/SP.
Maria Amalia Andery
Reitora da PUC-SP
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