Publicado no IHU
O testemunho do arcebispo Carlo Maria Viganò prova uma coisa: o ex-núncio do Vaticano nos Estados Unidos está para a crise de abusos sexuais do clero como Oliver Stone está para o assassinato do presidente John Kennedy, um traficante de teorias conspiratórias que mistura fato, ficção e veneno para produzir algo explosivo, mas também suspeito. Quando você terminar de ler este testemunho, como no final do filme de 1991 de Stone, “JFK”, você pode apenas concluir que o produto nos fala mais sobre o autor do que sobre o assunto.
A reportagem é de Michael Sean Winters, jornalista, publicado por National Catholic Reporter, 26-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Viganò está certamente correto em dizer que o cardeal Angelo Sodano, durante muito tempo secretário de estado do papa João Paulo II, era patrono do ex-cardeal Theodore McCarrick. Stone reconheceu que o assassinato ocorreu em Dallas. Mas por que Viganò não menciona o papel fundamental desempenhado pelo cardeal Stanislaus Dsiwisz na proteção de McCarrick?
Viganò alega que o papa Francisco suspendeu as sanções contra McCarrick que foram impostas pelo papa Bento XVI. De fato, a manchete da história de Edward Pentin que deu a notícia desse testemunho diz: “O ex-núncio acusa o papa Francisco de não agir contra o abuso de McCarrick”. Mas, Francisco agiu sim. Ele é quem removeu McCarrick do ministério em junho. O foco central deste testemunho é a afirmação de que Bento XVI impôs sanções contra McCarrick: “o cardeal deveria deixar o seminário onde ele estava morando, estava proibido de celebrar [a missa] em público, de participar de reuniões públicas, de dar palestras, viajar, com a obrigação de se dedicar a uma vida de oração e penitência”, escreve Viganò.
Durante o papado de Bento XVI, com meus próprios olhos, testemunhei McCarrickcelebrando a missa em público, participando de reuniões, viagens, etc. Mais importante ainda, o mesmo aconteceu com o papa Bento XVI! Se Bento impôs essas penalidades, ele certamente não as aplicou. Ele continuou a receber McCarrick com o resto da Fundação Papal, continuou a permitir que ele celebrasse a missa publicamente no Vaticano, até mesmo concelebrando com Bento XVI em eventos como consistórios. Mas, como Viganò conta, é tudo culpa do papa Francisco.
Viganò é mais do que um pouco obcecado com a homossexualidade e cita o nome de prelados que ele acusa de apoiar os esforços de “subverter a doutrina católica sobre a homossexualidade”. O cineasta Stone estava obcecado com uma colina coberta por grama. Nos meus dias de seminário, quando um dos seminaristas dava sinais desse tipo de obsessão, fazendo declarações exaltadas sobre a homossexualidade, suas fontes e seus efeitos, ignorando os dados científicos e psicológicos emergentes, o resto de nós olhava um para o outro e alguém dizia algo como: “Eu gostaria de saber com quem ela gostaria de dançar”.
Algo semelhante está acontecendo durante todo esse verão. Bispos e arcebispos falam sobre pessoas gays com tanto ódio, que você se pergunta como um ministro do Evangelho poderia falar tão maldosamente sobre outros seres humanos, mas então passa por sua cabeça: eles não estão falando sobre outros seres humanos. E você tem que se perguntar se o que você está vendo é uma manifestação de auto-ódio.
Infelizmente, a rede de desinformação de Viganò deixará sua marca. No meio de um tumulto de eventos, ninguém vai parar para fazer perguntas básicas e até mesmo os jornalistas podem esquecer-se de realizar tarefas básicas, como buscar por confirmação ou analisar as perguntas que surgem de um texto como o de Viganò. Aqui estão algumas das minhas perguntas:
Viganò diz que ele deve desabafar sua consciência agora. Porque agora? Se ele se sentia tão perturbado pela imundície quanto afirma, por que ele não disse nada publicamente ou, pelo menos, à conferência dos bispos? Lembro-me de alguns anos atrás, em uma reunião da conferência dos bispos, sentado do lado de fora do salão de festas em Baltimore conversando com um monsenhor da nunciatura. Ele estava esperando por Viganò, que estava na sessão executiva da reunião dos bispos. Por que ele não disse nada naquele momento?
Se, como ele afirma, McCarrick teve uma influência tão grande em Francisco, como ele explica as brigas de McCarrick com os bispos argentinos sobre o padre Carlos Buela e o Instituto do Verbo Encarnado? Quando os bispos argentinos, sob a liderança do então cardeal Bergoglio, se recusaram a ordenar os seminaristas do Verbo Encarnado, McCarrick interveio para fazê-lo.
McCarrick não teve nada a ver com a escolha do bispo Blase Cupich para se tornar arcebispo de Chicago, nem com o arcebispo Joseph Tobin indo para Newark. É verdade que essas principais sedes foram preenchidas sem o consentimento ou opinião do núncio, o que diz apenas que Francisco conseguiu reconhecer o quão doente ele era antes que o resto de nós o reconhecesse. Meu cachorro, Ambrose, tem mais influência sobre o papa Francisco do que McCarrick teve.
Viganò chega até a recrutar o falecido padre jesuíta Bob Drinan para sua conspiração, bem como os signatários da declaração da Land O’Lakes de 1967 sobre o ensino superior católico. Sério? Lembro-me de uma velha piada de Joan Rivers sobre o fato de que um OVNI nunca aterrissou em Harvard, Yale ou Stanford. São sempre três broncos em uma pick-up bebendo cerveja: “Eu vi! Estava ali!”. Church Militant, Cardinal Newman Society, LifeSiteNews, esses são os bêbados da igreja e ficou claro que, por algum tempo, Viganò concordou com esses personagens. Lembram como ele tentou arruinar uma viagem anterior do papa? Foi ele quem, em 2015, levou Kim Davis, a funcionária do condado de Kentucky que se recusou a emitir certidões de casamento para casais do mesmo sexo, a se encontrar com Francisco e falsamente a apresentou como defensora da liberdade religiosa. Na verdade, Davis foi mandada para a prisão porque tentou impor suas opiniões religiosas aos outros.
E, como meu colega Joshua McElwee apontou, sabemos o quanto Viganò se preocupa com as vítimas do abuso sexual do clero. Em Minnesota, Viganò encorajou o bispo auxiliar Lee Piche a destruir documentos relacionados à investigação do arcebispo John Nienstedt.
Viganò é um ex-empregado insatisfeito. Pessoas assim estão sempre com um pouco de raiva. Eles também costumam ser pouco confiáveis. Ele sempre foi um excêntrico. Mas não se engane: este é um ataque coordenado contra o papa Francisco. Uma conspiração está em andamento e se os bispos dos EUA, como um corpo, não defenderem o Santo Padre nas próximas 24 horas, estaremos nos encaminhando para uma cisão muito antes da reunião dos bispos em novembro. Os inimigos de Francisco declararam guerra.
Nota de IHU On-Line: Na viagem de retorno de Dublin, o Papa Francisco se referiu ao testemunho de Viganò, afirmando:
“Li na manhã de hoje esse comunicado de Viganò. Digo sinceramente isto: leiam-no atentamente e tirem suas conclusões pessoais. Não direi nenhuma palavra sobre isto. Creio que o documento fala por si mesmo. Vocês têm a capacidade jornalística suficiente, com sua maturidade profissional, para tirar suas conclusões”.
“Hoje a nova geração de católicos estadunidenses de direita (tanto leigos quanto padres e
seminaristas, mas também alguns bispos) interpreta um catolicismo teologicamente neo-
ortodoxo, moralmente neointegralista, politicamente antiliberal e anti-internacionalista,
esteticamente neomedieval.” A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor da
Villanova University, nos Estados Unidos. O artigo foi publicado em HuffPost.it, 27-08-2018. A
tradução é de Moisés Sbardelotto.
O catolicismo nos Estados Unidos e a tentativa de golpe contra Francisco
O catolicismo nos Estados Unidos e a tentativa de golpe contra Francisco
Na sua carta de 20 de agosto a todo o povo de Deus, Francisco identificou no clericalismo a verdadeira chaga da Igreja: prova disso é a tentativa de golpe de Estado do fim de semana, com o memorial publicado pelo ex-núncio nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò.
A manobra foi estudada minuciosamente tanto nos tempos quanto nos modos – especialmente olhando para os jornalistas hostis a Francisco que se prestaram a isso – e fracassou, pelo menos quanto à tentativa de empurrar o papa a renunciar. Mas, para entender o que está acontecendo na Igreja, este momento deve ser analisado na rota entre os Estados Unidos e o Vaticano.
Por um lado, a manobra mostra uma soldagem entre uma agenda pessoal, fruto de sonhos de carreira despedaçados por parte de grupelhos adversos no pequeno mundo vaticano, e um vasto projeto ideológico e teológico que toma forma nos Estados Unidos desde as primeiras semanas do pontificado de Francisco.
Ainda em julho de 2013, antes mesmo de Francisco tomar a iniciativa mais significativa do pontificado, uma parte da Igreja e do episcopado estadunidense não hesitou em manifestar o seu descontentamento em relação a um pontificado, o de Francisco, não suficientemente conservador e alinhado com o conservadorismo político que havia se radicalizado desde 2008, ou seja, após a eleição à presidência de Barack Obama. Esses bispos e intelectuais católicos veem no Papa Francisco, desde o início, uma espécie de Obama da Igreja e adotam com Francisco uma tática semelhante à adotada para Obama: a deslegitimação.
Lidando com o escândalo dos abusos sexuais nos Estados Unidos desde 2002, os bispos estadunidenses nomeados por João Paulo II e Bento XVI não podem se irritar com o papado por ter criado uma classe episcopal inepta para tratar da única questão em relação à qual deveriam ser confiáveis, ou seja, “lei e ordem”. O momento oportuno para atacar Francisco foi oferecido pela tempestade perfeita do verão de 2018 – o rescaldo da viagem ao Chile, as revelações sobre o ex-cardeal Theodore McCarrick, as investigações sobre alguns seminários nos Estados Unidos e, finalmente, o relatório do Grande Júri da Pensilvânia.
Quem pensou essa operação aceita o risco de apontar para o Papa Francisco sem se importar com o fato de que um ataque a Francisco sobre a questão dos abusos necessariamente envolveria os seus dois antecessores imediatos. A tentativa de golpe contra Francisco fala sobre o estado em que se encontra a oposição extremista contra Francisco, especialmente nos Estados Unidos: o fato de a ala tradicionalista aceitar o risco de prejudicar Bento XVI e João Paulo II – no panteão católico estadunidense, vistos como o oposto de Francisco – diz muito sobre o seu desespero.
A escolha do Papa Francisco de não se defender das acusações contidas no memorial, durante a coletiva de imprensa da volta da Irlanda, também deve ser lida como uma recusa a levar em consideração as acusações contra outros – incluindo Bento XVI – formuladas nesse documento.
Muitos no Vaticano, mais cedo ou mais tarde, terão que dar explicações: mas essa é uma questão que não afeta Francisco em primeira pessoa, que sempre se manteve longe dos grupelhos curiais postos em questão pelo ex-núncio. Viganò e um certa direita católica nos Estados Unidos, que o núncio em Washington frequentou entre 2011 e 2016, às vezes dando a impressão de trabalhar mais pelos ideólogos daquela ala do que pelo papa (como no caso do encontro entre o papa e Kim Davis, durante a visita de Francisco aos Estados Unidos), usaram-se reciprocamente.
Tanto Viganò quanto essa parte da Igreja contestam Francisco por uma atitude diferente da Igreja em relação à questão homossexual, que, na opinião deles, faz parte do problema da pedofilia na Igreja. Mas é uma convergência de interesses que não tem nada a ver com a luta contra a chaga dos abusos sexuais.
Depois, há um segundo elemento da operação. Além dessa convergência entre a agenda pessoal de Viganò e a agenda ideológica do mundo estadunidense e anglo-saxão hostil a Francisco, o outro elemento-chave para compreender a operação e o motivo pelo qual ela fracassou é a transição de um certo tipo de catolicismo conservador para outro nos Estados Unidos.
Observando as publicações e os artigos de jovens jornalistas e intelectuais da nova geração de católicos estadunidenses (nascidos nos anos 1980-1990), é perceptível como eles não representam mais o catolicismo neoconservador “das antigas” (um nome acima de todos: George Weigel), aquele que chegou ao poder com o Partido Republicano, especialmente com George W. Bush em 2000 e nos Estados Unidos pós-11 de setembro de 2001.
Mas hoje a nova geração de católicos estadunidenses de direita (tanto leigos quanto padres e seminaristas, mas também alguns bispos) interpreta um catolicismo teologicamente neo-ortodoxo, moralmente neointegralista, politicamente antiliberal e anti-internacionalista, esteticamente neomedieval.
É o catolicismo cada vez mais visível na revista-farol da reação conservadora à teologia liberal, First Things, na qual as duas tendências e as divergências entre si são visíveis. Nessa transição de um tipo de conservadorismo católico para outro, nota-se uma diferença de ênfases nas críticas ao Papa Francisco. Ambos são muito críticos à teologia do Papa Francisco. A nova ala extremista e neointegralista, que lembra em alguns aspectos a Action Française de Charles Maurras nos anos 1920 (condenada por Pio XI), não hesita em identificar no Papa Francisco um papa herege ou não católico. Mas a velha geração de católicos neoconservadores não está disposta a arruinar a Igreja a fim de se livrar do Papa Francisco: e foi aí que faltou o apoio à operação Viganò.
O ataque ao Papa Francisco do último fim de semana também deve ser lido dentro da luta pela supremacia dentro do catolicismo estadunidense conservador, entre a velha escola neoconservadora e o novo integralismo medievalista. O ataque contra o Papa Francisco fracassou, mas não está claro o que acontecerá com a cultura católica conservadora nos Estados Unidos: se ela recuará para um neoconservadorismo que ainda mantém algum sentido das instituições (eclesiásticas ou não), ou se tomará o caminho de um jacobinismo católico que não tem medo de flertar com a ideia de um novo cisma do Ocidente.
A manobra foi estudada minuciosamente tanto nos tempos quanto nos modos – especialmente olhando para os jornalistas hostis a Francisco que se prestaram a isso – e fracassou, pelo menos quanto à tentativa de empurrar o papa a renunciar. Mas, para entender o que está acontecendo na Igreja, este momento deve ser analisado na rota entre os Estados Unidos e o Vaticano.
Por um lado, a manobra mostra uma soldagem entre uma agenda pessoal, fruto de sonhos de carreira despedaçados por parte de grupelhos adversos no pequeno mundo vaticano, e um vasto projeto ideológico e teológico que toma forma nos Estados Unidos desde as primeiras semanas do pontificado de Francisco.
Ainda em julho de 2013, antes mesmo de Francisco tomar a iniciativa mais significativa do pontificado, uma parte da Igreja e do episcopado estadunidense não hesitou em manifestar o seu descontentamento em relação a um pontificado, o de Francisco, não suficientemente conservador e alinhado com o conservadorismo político que havia se radicalizado desde 2008, ou seja, após a eleição à presidência de Barack Obama. Esses bispos e intelectuais católicos veem no Papa Francisco, desde o início, uma espécie de Obama da Igreja e adotam com Francisco uma tática semelhante à adotada para Obama: a deslegitimação.
Lidando com o escândalo dos abusos sexuais nos Estados Unidos desde 2002, os bispos estadunidenses nomeados por João Paulo II e Bento XVI não podem se irritar com o papado por ter criado uma classe episcopal inepta para tratar da única questão em relação à qual deveriam ser confiáveis, ou seja, “lei e ordem”. O momento oportuno para atacar Francisco foi oferecido pela tempestade perfeita do verão de 2018 – o rescaldo da viagem ao Chile, as revelações sobre o ex-cardeal Theodore McCarrick, as investigações sobre alguns seminários nos Estados Unidos e, finalmente, o relatório do Grande Júri da Pensilvânia.
Quem pensou essa operação aceita o risco de apontar para o Papa Francisco sem se importar com o fato de que um ataque a Francisco sobre a questão dos abusos necessariamente envolveria os seus dois antecessores imediatos. A tentativa de golpe contra Francisco fala sobre o estado em que se encontra a oposição extremista contra Francisco, especialmente nos Estados Unidos: o fato de a ala tradicionalista aceitar o risco de prejudicar Bento XVI e João Paulo II – no panteão católico estadunidense, vistos como o oposto de Francisco – diz muito sobre o seu desespero.
A escolha do Papa Francisco de não se defender das acusações contidas no memorial, durante a coletiva de imprensa da volta da Irlanda, também deve ser lida como uma recusa a levar em consideração as acusações contra outros – incluindo Bento XVI – formuladas nesse documento.
Muitos no Vaticano, mais cedo ou mais tarde, terão que dar explicações: mas essa é uma questão que não afeta Francisco em primeira pessoa, que sempre se manteve longe dos grupelhos curiais postos em questão pelo ex-núncio. Viganò e um certa direita católica nos Estados Unidos, que o núncio em Washington frequentou entre 2011 e 2016, às vezes dando a impressão de trabalhar mais pelos ideólogos daquela ala do que pelo papa (como no caso do encontro entre o papa e Kim Davis, durante a visita de Francisco aos Estados Unidos), usaram-se reciprocamente.
Tanto Viganò quanto essa parte da Igreja contestam Francisco por uma atitude diferente da Igreja em relação à questão homossexual, que, na opinião deles, faz parte do problema da pedofilia na Igreja. Mas é uma convergência de interesses que não tem nada a ver com a luta contra a chaga dos abusos sexuais.
Depois, há um segundo elemento da operação. Além dessa convergência entre a agenda pessoal de Viganò e a agenda ideológica do mundo estadunidense e anglo-saxão hostil a Francisco, o outro elemento-chave para compreender a operação e o motivo pelo qual ela fracassou é a transição de um certo tipo de catolicismo conservador para outro nos Estados Unidos.
Observando as publicações e os artigos de jovens jornalistas e intelectuais da nova geração de católicos estadunidenses (nascidos nos anos 1980-1990), é perceptível como eles não representam mais o catolicismo neoconservador “das antigas” (um nome acima de todos: George Weigel), aquele que chegou ao poder com o Partido Republicano, especialmente com George W. Bush em 2000 e nos Estados Unidos pós-11 de setembro de 2001.
Mas hoje a nova geração de católicos estadunidenses de direita (tanto leigos quanto padres e seminaristas, mas também alguns bispos) interpreta um catolicismo teologicamente neo-ortodoxo, moralmente neointegralista, politicamente antiliberal e anti-internacionalista, esteticamente neomedieval.
É o catolicismo cada vez mais visível na revista-farol da reação conservadora à teologia liberal, First Things, na qual as duas tendências e as divergências entre si são visíveis. Nessa transição de um tipo de conservadorismo católico para outro, nota-se uma diferença de ênfases nas críticas ao Papa Francisco. Ambos são muito críticos à teologia do Papa Francisco. A nova ala extremista e neointegralista, que lembra em alguns aspectos a Action Française de Charles Maurras nos anos 1920 (condenada por Pio XI), não hesita em identificar no Papa Francisco um papa herege ou não católico. Mas a velha geração de católicos neoconservadores não está disposta a arruinar a Igreja a fim de se livrar do Papa Francisco: e foi aí que faltou o apoio à operação Viganò.
O ataque ao Papa Francisco do último fim de semana também deve ser lido dentro da luta pela supremacia dentro do catolicismo estadunidense conservador, entre a velha escola neoconservadora e o novo integralismo medievalista. O ataque contra o Papa Francisco fracassou, mas não está claro o que acontecerá com a cultura católica conservadora nos Estados Unidos: se ela recuará para um neoconservadorismo que ainda mantém algum sentido das instituições (eclesiásticas ou não), ou se tomará o caminho de um jacobinismo católico que não tem medo de flertar com a ideia de um novo cisma do Ocidente.
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