FIDEL AUTOGRAFA A CAMISETA DE JON ALPERT NO DOCUMENTÁRIO
Fardado e de quepe, Fidel Castro participa de uma dessas cerimônias entediantes quando um
movimento peculiar atrai sua atenção: um grupo de jovens jornalistas gringos com um carrinho de
bebê. Como os equipamentos de TV pesavam como o diabo em 1976, o documentarista Jon Alpert
teve a ideia de carregá-los no insólito suporte, que carregava por toda parte. Curioso, Fidel se
aproxima e puxa assunto com Jon e sua mulher e parceira, a nipo-americana Keiko Tsuno. Nos anos
seguintes, o cineasta norte-americano conquistaria uma proximidade tão grande com o líder
revolucionário a ponto de viajar com ele, no mesmo avião, a Nova York. Ida e volta.
Cuba e o Cameraman, em cartaz no Netflix, mostra a relação amorosa que o documentarista
novaiorquino desenvolve com a ilha através dos encontros e reencontros com três famílias, além de
Fidel. Em primeiro lugar, os Borrego, Cristóbal, Angel, Gregorio e Lilo, camponeses das cercanias
de Havana; depois, o guia Luis Amores, típico “malandro” cubano que vive de bicos; por último, a
menina Caridad e, mais tarde, seu filho Wilder. O cineasta acompanha estas pessoas comuns ao
longo de 40 anos com enorme delicadeza; o carinho transborda da tela. Ao mesmo tempo,
acompanhamos os sucessos e fracassos da revolução. O retrato que ele traça é honestíssimo –e
tocante.
Um dos documentaristas mais importantes do mundo em atividade, Jon Alpert acabava de iniciar sua
carreira. cobrindo problemas de moradia e demandas trabalhistas em seu país natal, quando vai para
Cuba na ilusão de encontrar “a” solução. Mas aos primeiros anos de lojas cheias, com a revolução de
vento em popa, logo sobrevém as duas décadas de penúria pós-embargo e sobretudo pós-fim da
União Soviética. As visitas aos amigos cubanos são uma forma indireta de apontar os problemas: em
uma delas, Luis está preso por atuar no mercado negro; roubaram os bois dos Borrego, que não têm
como arar a terra; e o filho de Caridad sonha, como muitos, cruzar o oceano e ir para Miami.
Mas em 1979 as coisas ainda estavam bastante bem e um charmoso, sedutor Fidel Castro, no auge de
sua vitalidade aos 50 anos, está prestes a fazer um discurso histórico nas Nações Unidas. E convida
Jon & sua trupe a embarcar junto, algo inédito. A CNN fez um documentário apenas sobre a
viagem, Uma Viagem Com Fidel. Imperdível.
O Fidel que aparece nas cenas no avião e no hotel onde a comitiva está hospedada em Nova York, é
um Fidel nunca visto, antes ou depois. Absolutamente relaxado e visivelmente encantado com a
companhia dos jovens jornalistas, o líder cubano corteja a equipe e se abre como nunca diante das
câmeras. Literalmente: a certa altura do vôo, questionado se andava com colete à prova de balas,
Fidel abre a jaqueta verde-oliva e a camisa que leva por baixo para mostrar o peito, sem nenhuma
proteção.
No quarto, as perguntas simples de Jon (“você dormiu bem?”, “o que tem na geladeira?”) o deixam
tão à vontade que ele mostra tudo, até mesmo o quarto onde dorme. “Como você gosta de se vestir
quando está em casa?”, Alpert pergunta. “De pijamas”, diz Fidel, prenunciando seus últimos anos,
quando vai aparecer mais de agasalhos esportivos do que de uniforme.
FIDEL CASTRO COM A CAMISETA QUE GANHO DO CINEASTA EM 1979
A simpatia latina do líder cubano, o sorriso largo e as frases sarcásticas de Fidel conquistaram o
cineasta a ponto de o documentário ter sido massacrado pelos veículos conservadores dos EUA por
transmitir uma imagem positiva do “ditador”. “Moralmente tóxico”, vaticinou o Washington Post. “É
abundantemente claro que Alpert é um fã”, desdenha o jornal. Sim, Alpert é um admirador declarado
de Fidel, mas nunca esquece que em primeiro lugar é um jornalista. Em 1980, durante o Êxodo de
Mariel, quando Cuba abriu as portas para quem quisesse ir embora, o documentarista denunciou que
o governo também abrira as portas das cadeias e manicômios para que criminosos e enfermos
mentais migrassem aos EUA. A revelação lhe custou a proibição de entrar na ilha durante quatro
anos.
Além de Fidel Castro, Jon Alpert se tornaria também um dos últimos norte-americanos a entrevistar
Saddam Hussein, após a primeira Guerra do Golfo. Sua expertise em entrevistar homens fortes da
política mundial (para alguns, “ditadores”) o aproximou recentemente de outro peso pesado da
política mundial, Vladimir Putin, com quem conseguiu mais uma história inusitada para sua coleção
ao enfrentá-lo numa partida de hóquei no gelo em julho deste ano. O time de Putin ganhou, claro.
Segundo Alpert, o “flerte” com estas figuras é uma técnica para obter aproximação. “Se eu fui
amigável com Fidel? Claro. Nosso trabalho é conseguir chegar perto –e provavelmente ninguém
mais pode.”
ALPERT E PUTIN EM SOCHI
Enquanto assistimos e nos emocionamos com o desenrolar da vida do povo em Cuba e o
Cameraman, é inegável também a ansiedade que ficamos em saber se Fidel Castro irá reatar ou não a
relação com Jon. Conseguirá o amigo americano rever el comandante antes de sua morte? Como será
o reencontro? Assistam.
movimento peculiar atrai sua atenção: um grupo de jovens jornalistas gringos com um carrinho de
bebê. Como os equipamentos de TV pesavam como o diabo em 1976, o documentarista Jon Alpert
teve a ideia de carregá-los no insólito suporte, que carregava por toda parte. Curioso, Fidel se
aproxima e puxa assunto com Jon e sua mulher e parceira, a nipo-americana Keiko Tsuno. Nos anos
seguintes, o cineasta norte-americano conquistaria uma proximidade tão grande com o líder
revolucionário a ponto de viajar com ele, no mesmo avião, a Nova York. Ida e volta.
Cuba e o Cameraman, em cartaz no Netflix, mostra a relação amorosa que o documentarista
novaiorquino desenvolve com a ilha através dos encontros e reencontros com três famílias, além de
Fidel. Em primeiro lugar, os Borrego, Cristóbal, Angel, Gregorio e Lilo, camponeses das cercanias
de Havana; depois, o guia Luis Amores, típico “malandro” cubano que vive de bicos; por último, a
menina Caridad e, mais tarde, seu filho Wilder. O cineasta acompanha estas pessoas comuns ao
longo de 40 anos com enorme delicadeza; o carinho transborda da tela. Ao mesmo tempo,
acompanhamos os sucessos e fracassos da revolução. O retrato que ele traça é honestíssimo –e
tocante.
Um dos documentaristas mais importantes do mundo em atividade, Jon Alpert acabava de iniciar sua
carreira. cobrindo problemas de moradia e demandas trabalhistas em seu país natal, quando vai para
Cuba na ilusão de encontrar “a” solução. Mas aos primeiros anos de lojas cheias, com a revolução de
vento em popa, logo sobrevém as duas décadas de penúria pós-embargo e sobretudo pós-fim da
União Soviética. As visitas aos amigos cubanos são uma forma indireta de apontar os problemas: em
uma delas, Luis está preso por atuar no mercado negro; roubaram os bois dos Borrego, que não têm
como arar a terra; e o filho de Caridad sonha, como muitos, cruzar o oceano e ir para Miami.
Mas em 1979 as coisas ainda estavam bastante bem e um charmoso, sedutor Fidel Castro, no auge de
sua vitalidade aos 50 anos, está prestes a fazer um discurso histórico nas Nações Unidas. E convida
Jon & sua trupe a embarcar junto, algo inédito. A CNN fez um documentário apenas sobre a
viagem, Uma Viagem Com Fidel. Imperdível.
O Fidel que aparece nas cenas no avião e no hotel onde a comitiva está hospedada em Nova York, é
um Fidel nunca visto, antes ou depois. Absolutamente relaxado e visivelmente encantado com a
companhia dos jovens jornalistas, o líder cubano corteja a equipe e se abre como nunca diante das
câmeras. Literalmente: a certa altura do vôo, questionado se andava com colete à prova de balas,
Fidel abre a jaqueta verde-oliva e a camisa que leva por baixo para mostrar o peito, sem nenhuma
proteção.
No quarto, as perguntas simples de Jon (“você dormiu bem?”, “o que tem na geladeira?”) o deixam
tão à vontade que ele mostra tudo, até mesmo o quarto onde dorme. “Como você gosta de se vestir
quando está em casa?”, Alpert pergunta. “De pijamas”, diz Fidel, prenunciando seus últimos anos,
quando vai aparecer mais de agasalhos esportivos do que de uniforme.
FIDEL CASTRO COM A CAMISETA QUE GANHO DO CINEASTA EM 1979
A simpatia latina do líder cubano, o sorriso largo e as frases sarcásticas de Fidel conquistaram o
cineasta a ponto de o documentário ter sido massacrado pelos veículos conservadores dos EUA por
transmitir uma imagem positiva do “ditador”. “Moralmente tóxico”, vaticinou o Washington Post. “É
abundantemente claro que Alpert é um fã”, desdenha o jornal. Sim, Alpert é um admirador declarado
de Fidel, mas nunca esquece que em primeiro lugar é um jornalista. Em 1980, durante o Êxodo de
Mariel, quando Cuba abriu as portas para quem quisesse ir embora, o documentarista denunciou que
o governo também abrira as portas das cadeias e manicômios para que criminosos e enfermos
mentais migrassem aos EUA. A revelação lhe custou a proibição de entrar na ilha durante quatro
anos.
Além de Fidel Castro, Jon Alpert se tornaria também um dos últimos norte-americanos a entrevistar
Saddam Hussein, após a primeira Guerra do Golfo. Sua expertise em entrevistar homens fortes da
política mundial (para alguns, “ditadores”) o aproximou recentemente de outro peso pesado da
política mundial, Vladimir Putin, com quem conseguiu mais uma história inusitada para sua coleção
ao enfrentá-lo numa partida de hóquei no gelo em julho deste ano. O time de Putin ganhou, claro.
Segundo Alpert, o “flerte” com estas figuras é uma técnica para obter aproximação. “Se eu fui
amigável com Fidel? Claro. Nosso trabalho é conseguir chegar perto –e provavelmente ninguém
mais pode.”
ALPERT E PUTIN EM SOCHI
Enquanto assistimos e nos emocionamos com o desenrolar da vida do povo em Cuba e o
Cameraman, é inegável também a ansiedade que ficamos em saber se Fidel Castro irá reatar ou não a
relação com Jon. Conseguirá o amigo americano rever el comandante antes de sua morte? Como será
o reencontro? Assistam.
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