Assinado pelo dono das Organizações Globo, João Roberto Marinho, o item 5 do documento
proíbe que os jornalistas “revelem posicionamentos políticos, partidários ou ideológicos” nas
redes sociais que existem ou que “venham a existir”. Em caso de dúvida sobre o conteúdo
escrito, diz o texto, a única solução é consultar a chefia.
No último fim de semana as Organizações Globo baixaram um édito assinado pelo dono, João
Roberto Marinho, impondo censura a seus jornalistas no uso de redes sociais.
A censura patronal (denominada “Item 5 dos nossos Princípios Editoriais”) abrange não apenas as
A censura patronal (denominada “Item 5 dos nossos Princípios Editoriais”) abrange não apenas as
redes existentes, mas até as que ainda não foram inventadas.
“Isso se aplica a todas as redes — Twitter, Instagram, Facebook, WhatsApp” decretou Marinho, “ou
“Isso se aplica a todas as redes — Twitter, Instagram, Facebook, WhatsApp” decretou Marinho, “ou
qualquer outra que exista ou venha a existir”.
A imposição de censura seria uma reação da empresa ao vazamento, dois meses atrás, de um áudio
A imposição de censura seria uma reação da empresa ao vazamento, dois meses atrás, de um áudio
em que o jornalista Chico Pinheiro, do grupo Globo, protesta contra a prisão do ex-presidente Lula.
A seguir, o comunicado de Marinho aos “caros companheiras e companheiros”(kkkk) e os trechos
A seguir, o comunicado de Marinho aos “caros companheiras e companheiros”(kkkk) e os trechos
mais importantes das “diretrizes” estabelecidas.
“Caros companheiras e companheiros,
Ninguém discordará de que o advento das redes sociais é um dos fenômenos que definem o século
Ninguém discordará de que o advento das redes sociais é um dos fenômenos que definem o século
XXI. De uma maneira inédita na história da humanidade, elas conectaram pessoas em nível
planetário, permitindo a formação de comunidades, o compartilhamento de ideias, fatos e
opiniões, a aproximação de pessoas que frequentemente nem se conhecem. É algo extremamente
positivo e bem-vindo.
Como tudo, porém, logo descobrimos que elas têm também um lado sombrio: podem ser usadas
para manipular grupos, disseminar boatos e mentiras com fins antidemocráticos e permitir que a
intimidade das pessoas seja clandestinamente conhecida. Com a consciência desses defeitos,
porém, seus usuários se tornam cada vez mais capazes de produzir anticorpos para esses males.Na
balança entre o bem e o mal, nós acreditamos que o lado bom das redes sociais supera o lado
mau, embora seja necessário ainda muito estudo e atenção para combater os malefícios. Somos,
enfim, entusiastas do potencial positivo das redes sociais.
Nós, jornalistas, como todos os cidadãos, podemos fazer parte delas seja do ponto de vista pessoal
ou profissional. Podemos compartilhar impressões, sentimentos, fatos do nosso dia a dia, assim
como utilizá-las para fazer fontes, garimpar notícias, descobrir tendências. Não é novidade para
nenhum de nós, no entanto, que o jornalismo traz bônus e ônus.
O bônus é o prazer de exercer uma atividade fascinante cujo objetivo último é informar o público,
para que possa escolher melhor como quer viver, como fazer livremente escolhas, uma atividade
que nós, sem modéstia, consideramos absolutamente nobre. O ônus é justamente aquele que nos
impomos para poder fazer um bom jornalismo: em resumo, tentar ao máximo nos despir de tudo
aquilo que possa pôr em dúvida a nossa isenção.
Sei que não é preciso, mas dou aqui um ou dois exemplos. Todos os jornalistas que cobrem
economia (e aqueles que compõem a chefia da redação), por exemplo, se privam da liberdade de
aplicar em papéis de empresas específicas para que jamais levantem a suspeita no público de que
determinada notícia sobre esta ou aquela empresa tem por trás um interesse pessoal. Um
jornalista de cultura que seja parente de algum artista se considerará impedido de cobrir as
atividades dele.
Nós conhecemos bem as nossas restrições, aliás descritas em nossos princípios editoriais que o
Grupo Globo publicou em 6 de agosto de 2011. E nada disso nos perturba ou incomoda porque
temos a consciência de que o propósito é permitir que façamos um bom jornalismo e que sejamos
reconhecidos por isso.
As redes sociais nos impõem também algumas restrições. Diferentemente das outras pessoas,
sabemos que não podemos atuar nelas desconsiderando o fato de que somos jornalistas e de que
precisamos agir de tal modo que nossa isenção não seja questionada. Já no lançamento dos
Princípios Editoriais, previmos isso quando estabelecemos o seguinte: “A participação de
jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites
colaborativos deve levar em conta três pressupostos: (…) 3- os jornalistas são em grande medida
responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em
suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que
exercem a profissão com isenção e correção.”
Desde então, porém, o uso de redes sociais se universalizou de tal forma que é necessário detalhar
melhor como nós jornalistas devemos utilizá-las de modo a não ferir, de maneira alguma, aquele
que é um pilar da nossa profissão: a isenção. É por essa razão que estamos acrescentando uma
seção aos nossos Princípios Editoriais sobre o uso das redes sociais.
Essas recomendações sobre como devemos nos comportar nas redes não têm nada de
idiossincrático ou exclusivo. Na verdade, estão rigorosamente em linha com o que praticam os
mais prestigiados veículos jornalísticos do mundo, como “The New York Times” e BBC, para citar
apenas dois de dezenas de exemplos.
É fundamental que todos leiamos com atenção essas diretrizes e as sigamos com o rigor que nos
caracteriza em nossas atividades profissionais.
Dito isso, a Seção II de nossos Princípios Editoriais terá um novo item, de número 5, apresentado
ao fim desta carta.Tenho absoluta convicção de que todos nós entenderemos as razões dessas diretrizes mais
detalhadas e as seguiremos. Agradeço pela atenção e disponibilizo a seguir o texto que será
acrescentado, a partir de hoje, aos nossos Princípios Editoriais.Rio de Janeiro, dia 1 de julho de 2018.
João Roberto Marinho -Presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo”
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Como tudo, porém, logo descobrimos que elas têm também um lado sombrio: podem ser usadas
para manipular grupos, disseminar boatos e mentiras com fins antidemocráticos e permitir que a
intimidade das pessoas seja clandestinamente conhecida. Com a consciência desses defeitos,
porém, seus usuários se tornam cada vez mais capazes de produzir anticorpos para esses males.Na
balança entre o bem e o mal, nós acreditamos que o lado bom das redes sociais supera o lado
mau, embora seja necessário ainda muito estudo e atenção para combater os malefícios. Somos,
enfim, entusiastas do potencial positivo das redes sociais.
Nós, jornalistas, como todos os cidadãos, podemos fazer parte delas seja do ponto de vista pessoal
ou profissional. Podemos compartilhar impressões, sentimentos, fatos do nosso dia a dia, assim
como utilizá-las para fazer fontes, garimpar notícias, descobrir tendências. Não é novidade para
nenhum de nós, no entanto, que o jornalismo traz bônus e ônus.
O bônus é o prazer de exercer uma atividade fascinante cujo objetivo último é informar o público,
para que possa escolher melhor como quer viver, como fazer livremente escolhas, uma atividade
que nós, sem modéstia, consideramos absolutamente nobre. O ônus é justamente aquele que nos
impomos para poder fazer um bom jornalismo: em resumo, tentar ao máximo nos despir de tudo
aquilo que possa pôr em dúvida a nossa isenção.
Sei que não é preciso, mas dou aqui um ou dois exemplos. Todos os jornalistas que cobrem
economia (e aqueles que compõem a chefia da redação), por exemplo, se privam da liberdade de
aplicar em papéis de empresas específicas para que jamais levantem a suspeita no público de que
determinada notícia sobre esta ou aquela empresa tem por trás um interesse pessoal. Um
jornalista de cultura que seja parente de algum artista se considerará impedido de cobrir as
atividades dele.
Nós conhecemos bem as nossas restrições, aliás descritas em nossos princípios editoriais que o
Grupo Globo publicou em 6 de agosto de 2011. E nada disso nos perturba ou incomoda porque
temos a consciência de que o propósito é permitir que façamos um bom jornalismo e que sejamos
reconhecidos por isso.
As redes sociais nos impõem também algumas restrições. Diferentemente das outras pessoas,
sabemos que não podemos atuar nelas desconsiderando o fato de que somos jornalistas e de que
precisamos agir de tal modo que nossa isenção não seja questionada. Já no lançamento dos
Princípios Editoriais, previmos isso quando estabelecemos o seguinte: “A participação de
jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites
colaborativos deve levar em conta três pressupostos: (…) 3- os jornalistas são em grande medida
responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em
suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que
exercem a profissão com isenção e correção.”
Desde então, porém, o uso de redes sociais se universalizou de tal forma que é necessário detalhar
melhor como nós jornalistas devemos utilizá-las de modo a não ferir, de maneira alguma, aquele
que é um pilar da nossa profissão: a isenção. É por essa razão que estamos acrescentando uma
seção aos nossos Princípios Editoriais sobre o uso das redes sociais.
Essas recomendações sobre como devemos nos comportar nas redes não têm nada de
idiossincrático ou exclusivo. Na verdade, estão rigorosamente em linha com o que praticam os
mais prestigiados veículos jornalísticos do mundo, como “The New York Times” e BBC, para citar
apenas dois de dezenas de exemplos.
É fundamental que todos leiamos com atenção essas diretrizes e as sigamos com o rigor que nos
caracteriza em nossas atividades profissionais.
Dito isso, a Seção II de nossos Princípios Editoriais terá um novo item, de número 5, apresentado
ao fim desta carta.Tenho absoluta convicção de que todos nós entenderemos as razões dessas diretrizes mais
detalhadas e as seguiremos. Agradeço pela atenção e disponibilizo a seguir o texto que será
acrescentado, a partir de hoje, aos nossos Princípios Editoriais.Rio de Janeiro, dia 1 de julho de 2018.
João Roberto Marinho -Presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo”
LEIA MAIS NO NOCAUTE
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