Ele também achava que ia faturar o eleitor com um espetáculo de quinta
O Huck do FHC gagá não passa de um adepto fervoroso da intervenção estatal em seu bolso, como
O Huck do FHC gagá não passa de um adepto fervoroso da intervenção estatal em seu bolso, como
demonstrou o Fernando Brito: dos juros nanicos do BNDES às tetas da Lei Rouanet
Agora, a sempre brilhante Maria Cristina Fernandes mostra no PiG cheiroso as diferenças e as
Agora, a sempre brilhante Maria Cristina Fernandes mostra no PiG cheiroso as diferenças e as
semelhanças entre o Huck e o Silvio Santos, também provisoriamente candidato a Presidente em
1989, quando se salvou da irrelevância por decisão da Justiça: "são ambos invencionice de quem
quer faturá-lo pela astúcia".
A candidatura Silvio Santos caiu junto com o muro de Berlim. Em 9 de novembro de 1989 o TSE
impugnou a candidatura do apresentador sob a justificativa de que seu partido não realizara
convenções no número de Estados e municípios exigidos pela lei. Naquela data, Marcos Coimbra,
diretor da Vox Populi, já havia feito três pesquisas, num intervalo de 10 dias, para avaliar o potencial
do candidato do Partido Municipalista Brasileiro, cuja sigla mimetizava a do PMDB.
Na primeira, Silvio Santos ultrapassara o líder das pesquisas, Fernando Collor de Mello. Na segunda,
Na primeira, Silvio Santos ultrapassara o líder das pesquisas, Fernando Collor de Mello. Na segunda,
caíra e, na terceira, despencara. Na lembrança de Coimbra, o apresentador ficou aliviado com o veto
da Justiça Eleitoral. O risco de virar traço era enorme.
Os patrocinadores de Luciano Huck o associam a Emmanuel Macron, ministro das Finanças da
Os patrocinadores de Luciano Huck o associam a Emmanuel Macron, ministro das Finanças da
França antes de virar presidente da República. Mas a falida candidatura de Silvio Santos é a
experiência mais próxima do movimento que teima em se encorpar em torno do apresentador. Ao
contrário do homem do baú da felicidade, porém, o comandante do caldeirão das tardes de sábado
não estourou as paradas de sucesso ao ter seu nome incluído nas pesquisas. Tem um sétimo das
preferências do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, na ausência deste, alcança menos da
metade do potencial líder da disputa, o deputado Jair Bolsonaro.
Quando Silvio Santos registrou sua candidatura, na reta final da campanha, os candidatos dos dois
Quando Silvio Santos registrou sua candidatura, na reta final da campanha, os candidatos dos dois
principais partidos governistas, Ulysses Guimarães (PMDB) e Aureliano Chaves (PFL) patinavam
nas pesquisas. Mais ou menos como Geraldo Alckmin, cuja incapacidade de ultrapassar os 20% das
intenções de voto no Estado que comanda pela quarta vez soou o alarme dos partidos que gravitam
em torno do governo.
Pela direita, parecia não haver rivais à postulação do governador de Alagoas. Collor agregava mais
Pela direita, parecia não haver rivais à postulação do governador de Alagoas. Collor agregava mais
apoio no empresariado, na imprensa e nos partidos do que Bolsonaro, o atual líder do seu campo
político. Por mais antissistema que fosse considerado, tratava-se de um governador. De um golfo,
como desejara Graciliano Ramos, mas governador.
O país em que os partidos que representam 80% do Congresso Nacional são incapazes de somar 20%
O país em que os partidos que representam 80% do Congresso Nacional são incapazes de somar 20%
das intenções de voto numa campanha presidencial é o mesmo em que as escolas de samba e os
blocos tomaram o lugar das agremiações partidárias na mediação da vontade do eleitor.
Os partidos afundaram mas seus caciques vão bem, obrigado. Fernando Henrique Cardoso de então
Os partidos afundaram mas seus caciques vão bem, obrigado. Fernando Henrique Cardoso de então
era o ex-presidente José Sarney. Um foi eleito pela inflação que o outro produziu. Em comum aos
dois estrategistas dos planos para entregar o país a um animador de auditório, está a preocupação
com os sinais de que o nome a ser indicado por Lula estaria no segundo turno.
Pesquisa não é urna. A campanha é decisiva na definição do eleitor, mas como a deste ano será a
mais curta da história, terá menor capacidade de mudar aquilo que está escrito nas pesquisas.
Luciano Huck tem a vantagem de ser conhecido numa campanha em que haverá pouco tempo para a
apresentação de candidaturas, mas as pesquisas de hoje não indicam um potencial de votos explosivo
para o apresentador. As de ontem mostraram que este potencial, quando existe, não custa a derreter
sob o escrutínio do eleitor.
Se Silvio Santos teve um comportamento errático nas pesquisas quando o país tinha 20% de
analfabetos, não se deve esperar uma avenida desimpedida para sua versão 2018. E a principal razão
é que a parcela dos brasileiros acima de 15 anos que não sabem ler ou escrever está reduzida a
praticamente um terço do registrado em 1989. Nesse período, os brasileiros deixaram de ter uma
expectativa de vida à la Sri Lanka para um padrão húngaro. Viveram para ver o que fizeram de sua
esperança na democracia.
Frequentemente comparada à eleição de 1989, pelos candidatos a mais, a disputa de outubro tem
Frequentemente comparada à eleição de 1989, pelos candidatos a mais, a disputa de outubro tem
abissais diferenças. Mas talvez a mais gritante delas é que ruma para ter eleitores a menos. Única
eleição solteira e primeira para presidente da República em 28 anos, 1989 teve um grau de
comparecimento e de votos válidos que não seria igualado na redemocratização. Já a de outubro
ameaça um alheamento amazônico, para tomar de empréstimo o desempenho dos votos em branco,
nulos e da abstenção que venceram a eleição no Amazonas em 2017.
Quando grassa a indiferença, quem resiste e comparece é o eleitor menos suscetível de ser capturado
Quando grassa a indiferença, quem resiste e comparece é o eleitor menos suscetível de ser capturado
por um animador de auditório. Quem faz questão de votar, Marcos Coimbra não tem dúvidas em
cravar, é o eleitor mais ideológico, que toma posição contra ou a favor, de Lula, do impeachment, de
Michel Temer, de Sergio Moro, temas insípidos quando misturados num caldeirão.
Luciano Huck não é Silvio Santos e 2018 também não é 1989. Saem o terno e o cabelo engomado.
Luciano Huck não é Silvio Santos e 2018 também não é 1989. Saem o terno e o cabelo engomado.
Entram a calça jeans e a informalidade. Sai o "Tudo por dinheiro", entra o "Especial Inspiração".
Saem as dançarinas e a humilhação do garoto fã de pagode. Entram histórias de superação premiadas
com uma audiência com o papa, a reforma de uma biblioteca comunitária e a recauchutagem de um
chevette 88. Sai o dono de uma concessão pública, entra um endividado do BNDES.
Sílvio e Luciano têm, em comum, o currículo de apresentadores de sucesso do país em que a política
Sílvio e Luciano têm, em comum, o currículo de apresentadores de sucesso do país em que a política
virou um espetáculo. São, ambos, invencionice de quem quer faturá-lo pela astúcia. O vencedor de
1989 é candidato a nanico este ano. Seu principal adversário, que demoraria mais 13 anos para
alcançar a Presidência e dominaria o tablado como ninguém, estará, provavelmente, impedido de
disputar.
Sua sucessora tinha pouco talento para faturar a distribuição de casas recorde de seu governo, mas
Sua sucessora tinha pouco talento para faturar a distribuição de casas recorde de seu governo, mas
caiu por uma disputa de bilheteria. A turma que abreviou seu tempo mudou as regras para dificultar
o acesso ao palco, mas continua sem uma atração para comandar a temporada.
Até porque neste espetáculo quem vai ficar até o fim já viu de tudo. Três décadas depois, a plateia se
deu conta de que não há show grátis. Aprendeu mais do que aqueles que ficaram atrás das cortinas e
ainda acreditam que é possível faturar o eleitor com um espetáculo de quinta.
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