quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

NARIGUDO HUCK E O SILVIO SANTOS DE 1989


Ele também achava que ia faturar o eleitor com um espetáculo de quinta

O Huck do FHC gagá não passa de um adepto fervoroso da intervenção estatal em seu bolso, como 
demonstrou o Fernando Brito: dos juros nanicos do BNDES às tetas da Lei Rouanet
Agora, a sempre brilhante Maria Cristina Fernandes mostra no PiG cheiroso as diferenças e as 
semelhanças entre o Huck e o Silvio Santos, também provisoriamente candidato a Presidente em 
1989, quando se salvou da irrelevância por decisão da Justiça: "são ambos invencionice de quem 
quer faturá-lo pela astúcia".
A candidatura Silvio Santos caiu junto com o muro de Berlim. Em 9 de novembro de 1989 o TSE 
impugnou a candidatura do apresentador sob a justificativa de que seu partido não realizara 
convenções no número de Estados e municípios exigidos pela lei. Naquela data, Marcos Coimbra, 
diretor da Vox Populi, já havia feito três pesquisas, num intervalo de 10 dias, para avaliar o potencial 
do candidato do Partido Municipalista Brasileiro, cuja sigla mimetizava a do PMDB.
Na primeira, Silvio Santos ultrapassara o líder das pesquisas, Fernando Collor de Mello. Na segunda, 
caíra e, na terceira, despencara. Na lembrança de Coimbra, o apresentador ficou aliviado com o veto 
da Justiça Eleitoral. O risco de virar traço era enorme.
Os patrocinadores de Luciano Huck o associam a Emmanuel Macron, ministro das Finanças da 
França antes de virar presidente da República. Mas a falida candidatura de Silvio Santos é a 
experiência mais próxima do movimento que teima em se encorpar em torno do apresentador. Ao 
contrário do homem do baú da felicidade, porém, o comandante do caldeirão das tardes de sábado 
não estourou as paradas de sucesso ao ter seu nome incluído nas pesquisas. Tem um sétimo das 
preferências do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, na ausência deste, alcança menos da 
metade do potencial líder da disputa, o deputado Jair Bolsonaro.
Quando Silvio Santos registrou sua candidatura, na reta final da campanha, os candidatos dos dois 
principais partidos governistas, Ulysses Guimarães (PMDB) e Aureliano Chaves (PFL) patinavam 
nas pesquisas. Mais ou menos como Geraldo Alckmin, cuja incapacidade de ultrapassar os 20% das 
intenções de voto no Estado que comanda pela quarta vez soou o alarme dos partidos que gravitam 
em torno do governo.
Pela direita, parecia não haver rivais à postulação do governador de Alagoas. Collor agregava mais 
apoio no empresariado, na imprensa e nos partidos do que Bolsonaro, o atual líder do seu campo 
político. Por mais antissistema que fosse considerado, tratava-se de um governador. De um golfo, 
como desejara Graciliano Ramos, mas governador.
O país em que os partidos que representam 80% do Congresso Nacional são incapazes de somar 20% 
das intenções de voto numa campanha presidencial é o mesmo em que as escolas de samba e os 
blocos tomaram o lugar das agremiações partidárias na mediação da vontade do eleitor.
Os partidos afundaram mas seus caciques vão bem, obrigado. Fernando Henrique Cardoso de então 
era o ex-presidente José Sarney. Um foi eleito pela inflação que o outro produziu. Em comum aos 
dois estrategistas dos planos para entregar o país a um animador de auditório, está a preocupação 
com os sinais de que o nome a ser indicado por Lula estaria no segundo turno. 
Pesquisa não é urna. A campanha é decisiva na definição do eleitor, mas como a deste ano será a 
mais curta da história, terá menor capacidade de mudar aquilo que está escrito nas pesquisas. 
Luciano Huck tem a vantagem de ser conhecido numa campanha em que haverá pouco tempo para a 
apresentação de candidaturas, mas as pesquisas de hoje não indicam um potencial de votos explosivo 
para o apresentador. As de ontem mostraram que este potencial, quando existe, não custa a derreter 
sob o escrutínio do eleitor.
Se Silvio Santos teve um comportamento errático nas pesquisas quando o país tinha 20% de 
analfabetos, não se deve esperar uma avenida desimpedida para sua versão 2018. E a principal razão 
é que a parcela dos brasileiros acima de 15 anos que não sabem ler ou escrever está reduzida a 
praticamente um terço do registrado em 1989. Nesse período, os brasileiros deixaram de ter uma 
expectativa de vida à la Sri Lanka para um padrão húngaro. Viveram para ver o que fizeram de sua 
esperança na democracia.
Frequentemente comparada à eleição de 1989, pelos candidatos a mais, a disputa de outubro tem 
abissais diferenças. Mas talvez a mais gritante delas é que ruma para ter eleitores a menos. Única 
eleição solteira e primeira para presidente da República em 28 anos, 1989 teve um grau de 
comparecimento e de votos válidos que não seria igualado na redemocratização. Já a de outubro 
ameaça um alheamento amazônico, para tomar de empréstimo o desempenho dos votos em branco, 
nulos e da abstenção que venceram a eleição no Amazonas em 2017.
Quando grassa a indiferença, quem resiste e comparece é o eleitor menos suscetível de ser capturado 
por um animador de auditório. Quem faz questão de votar, Marcos Coimbra não tem dúvidas em 
cravar, é o eleitor mais ideológico, que toma posição contra ou a favor, de Lula, do impeachment, de 
Michel Temer, de Sergio Moro, temas insípidos quando misturados num caldeirão.
Luciano Huck não é Silvio Santos e 2018 também não é 1989. Saem o terno e o cabelo engomado. 
Entram a calça jeans e a informalidade. Sai o "Tudo por dinheiro", entra o "Especial Inspiração". 
Saem as dançarinas e a humilhação do garoto fã de pagode. Entram histórias de superação premiadas 
com uma audiência com o papa, a reforma de uma biblioteca comunitária e a recauchutagem de um 
chevette 88. Sai o dono de uma concessão pública, entra um endividado do BNDES.
Sílvio e Luciano têm, em comum, o currículo de apresentadores de sucesso do país em que a política 
virou um espetáculo. São, ambos, invencionice de quem quer faturá-lo pela astúcia. O vencedor de 
1989 é candidato a nanico este ano. Seu principal adversário, que demoraria mais 13 anos para 
alcançar a Presidência e dominaria o tablado como ninguém, estará, provavelmente, impedido de 
disputar.
Sua sucessora tinha pouco talento para faturar a distribuição de casas recorde de seu governo, mas 
caiu por uma disputa de bilheteria. A turma que abreviou seu tempo mudou as regras para dificultar 
o acesso ao palco, mas continua sem uma atração para comandar a temporada. 
Até porque neste espetáculo quem vai ficar até o fim já viu de tudo. Três décadas depois, a plateia se 
deu conta de que não há show grátis. Aprendeu mais do que aqueles que ficaram atrás das cortinas e 
ainda acreditam que é possível faturar o eleitor com um espetáculo de quinta.
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