segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Não há crise humanitária na Venezuela, diz especialista em direitos humanos da ONU


Sanções pioram "escassez de alimentos e remédios", diz Zayas comunidade internacional deve 
trabalhar em solidariedade à Venezuela para suspender as sanções

O advogado e historiador norte-americano Alfred de Zayas, especialista independente da 
Organização das Nações Unidas (ONU) para a Promoção da Ordem Internacional Democrática e 
Equitativa, afirmou que "não há crise humanitária" na Venezuela, e que o termo vem sendo usado 
como desculpa para intervir no país e derrubar o governo atual.
"Comparei as estatísticas da Venezuela com a de outros países e não há crise humanitária. É claro 
que há escassez, mas quem trabalhou por décadas para as Nações Unidas e conhece a situação de 
países da Ásia, África e alguns da América, sabe que a situação na Venezuela não é uma crise 
humanitária ", disse Zayas, em uma entrevista nesta terça-feira (20/02) a um programa da emissora 
multiestatal teleSUR.
O especialista esteve na Venezuela no final do ano passado e participou de reuniões com 
funcionários do governo, vítimas de violações de direitos humanos e da violência das chamadas 
"guarimbas" (protestos violentos da oposição) a fim de conhecer a situação política, econômica e 
social do país. Em março, deve apresentar seu relatório às Nações Unidas.
Ele explicou que, embora muitos pensem que o país está à beira de um desastre, como mostram os 
meios de comunicação do exterior, "a Venezuela sofre uma guerra econômica, um bloqueio 
financeiro, sofre um alto nível de contrabando e, claro, necessita de solidariedade internacional para 
resolver esses problemas".
Zayas ainda acredita que a comunidade internacional deve trabalhar em solidariedade à Venezuela 
para suspender as sanções, "pois são essas que pioram a escassez de alimentos e remédios". "É 
insuportável pensar que, tendo uma crise de malária na Amazônia venezuelana, a Colômbia 
bloqueou a venda de medicamentos e a Venezuela teve que importá-los da Índia", disse.
O especialista afirma que o discurso atual de crise humanitária por parte de porta-vozes dos EUA, 
além de não ser válido, somente visa à troca de governo na Venezuela, e que "desde 1999, uma série 
de Estados querem a troca de regime na Venezuela, esse desejo de destruir a Revolução Bolivariana 
e revogar todas as leis sociais adotadas nos mandatos de [Hugo] Chávez e [Nicolás] Maduro".
"É como se eu não tivesse visitado a Venezuela"
Zayas denunciou a ausência de notícias sobre sua visita à Venezuela nos meios de comunicação 
dominantes que, segundo ele, não estão interessados em disseminar uma imagem completa da 
situação do país.
O especialista contou à TeleSur que o comum, sendo ele um antigo funcionário das Nações Unidas, 
secretário do comitê de Direitos Humanos e chefe do departamento de reclamações do Alto 
Comissionado da ONU, seria que meios como BBC e The New York Timespublicassem suas 
declarações quando ele se pronunciasse sobre algum tema.
"No caso da Venezuela, tanto a CNN como a BBC me ignoraram, é como se eu não tivesse visitado a 
Venezuela", o que ele qualifica como manipulação pública, acrescentando que apenas teleSUR e 
Sputinik o entrevistaram.
O historiador norte-americano também apontou que certas organizações ditas não governamentais, 
"mas cujas lealdades são duvidosas", não querem especialistas independentes, "desejam especialistas 
que venham ao país para condenar, por isso quando me nomearam, disseram que eu não era o relator 
pertinente para falar da Venezuela".
"Recebi cartas com insultos ao anunciar visita à Venezuela"
O escritório das Nações Unidas recebeu cartas do exterior com reclamações sobre a visita de Zayas à 
Venezuela, nas quais se exigia quais pontos deveriam ser investigados. "Considerei isso uma 
ingerência à minha independência, eu sou o relator, eu determino meu programa, eu sei qual 
informação é pertinente para meu relatório, no entanto, não quero que o relatório seja ditado para 
mim e algumas organizações não governamentais me sugeriram de forma pouco cortês, com cartas 
com insultos, dizendo o que eu tinha que fazer quando estivesse na Venezuela"
Para elaborar o relatório sobre a situação da Venzuela, Zayas viajou para visitar setores da oposição, 
Fedecamaras, a sociedade civil e Igreja. Falou com 16 ministros do governo, visitou as Missões 
Sociais e supermercados, "não para ter uma impressão completa em oito dias, mas de boa fé sobre a 
situação".
Ele constatou que existem problemas de abastecimento, de distribuição de alimentos e 
medicamentos, porém o mais grave são as sanções e a guerra econômica pois prejudicam o comércio 
de remédios e comida subsidiados na fronteira com a Colômbia.
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