Esta reportagem faz parte da série sobre a indústria da delação premiada da Lava Jato,
projeto de crowdfunding do DCM com o GGN. As demais estão aqui
Por Joaquim de Carvalho
No futuro, quando os historiadores descreverem o uso do lawfare no Brasil para destruir uma liderança política, Sergio Moro será retratado com certeza. Páginas e páginas se escreverão sobre ele. Mas não seria justo fazer o registro sem que se conhecesse também as pessoas que o ajudaram nessa tarefa. E além de Rosângela Moro, dedicada a manter as massas mobilizadas com o uso da rede social, um nome não poderá ser omitido: Ivanice Grosskopf, diretora da secretária da 13a. Vara Federal de Curitiba.
Ivanice trabalha com Moro desde o tempo de Cascavel, quando o juiz se tornou titular pela primeira vez, meados dos anos 90, na sucessão de João Pedro Gebran Neto (houve um juiz entre eles, que ficou pouco tempo lá). Na época, Moro passou por uma situação constrangedora, como recorda o procurador da república Celso Três, que trabalhava na jurisdição.
Um advogado apresentou mensagem de Rosângela Moro, advogada, que informava o telefone do gabinete do marido como seu próprio contato. Poderia ser interpretado como exploração de prestígio ou irregularidade equivalente, mas o caso não foi levado adiante.
“Na época, eu ouvi as explicações de Moro e achei que não tinha havido dolo. Pareceu mesmo que foi um equívoco”, disse o procurador, conhecido desde o Banestado pela tenacidade com que conduz suas investigações — Três já teve o carro perfurado a bala quando apurava o envolvimento de policiais civis do Paraná num esquema de concussão de sacoleiros que faziam compra no Paraguai.
Ivanice já era conhecida de todos, e se atribui a ela a redação de despachos do juiz, inclusive sentenças, o que não é incomum no Judiciário, dado o excesso de tarefas do magistrado e a relação de confiança que existe entre este e alguns subordinados. São estes que tocam a Vara, o juiz dá as diretrizes e confere o trabalho antes de assinar, para que nada saia fora de sua orientação.
Quando Moro deixou Cascavel e foi para Curitiba, onde implantou a Vara especializada em lavagem de dinheiro, Ivanice o acompanhou, para ocupar o posto de funcionária número 1, chefe do cartório. Na transcrição do vídeo com o depoimento de Lula à Polícia Federal, sob condução coercitiva, em março de 2016, o nome de Ivanice aparece como responsável pela tarefa.
A neutralidade e a imparcialidade são requisitados que se exige do magistrado, para o bom desempenho de suas funções, mas seria ainda melhor que suas pessoas de confiança mantivessem postura semelhante. Mas não é o que acontece na 13a. Vara de Curitiba.
Se, em Moro, a parcialidade é enrustida, em Ivanice é escancarada, pelo menos até 3 de agosto de 2016, data da última postagem pública em seu facebook. Nesse dia, ela postou o link com a entrevista de Deltan Dallagnol ao Programa do Jô. I
vanice também revela em sua rede social um papel ativo nas manifestações convocadas pelo Vem Pra Rua. Compartilha publicações de uma tal organização que se define pelo slogan “Curitiba, a capital mais direita do Brasil”. Deu publicidade também a manifestações do senador Ronaldo Caiado contra o assim chamado Foro de São Paulo, um assunto recorrente em sua rede social.
Compartilhou texto de Olavo de Carvalho, com ilustração em que aparece um bispo do xadrez com a estrela do PT alterada com foice e martelo e o aviso do ativista de extrema-direita de que havia postado um comentário na “página da CNBBosta”. Ivanice convocou para um twittaço e facebookaço com a hashtag “Agora Somos Todos Moro”.
Compartilha textos do site de extrema-direita O Antagonista, texto do movimento escola sem partido e de grupos que defendem a liberação do porte de armas no Brasil — “vinte fatos que comprovam que posse de armas deixa uma população mais segura”.
Revela as viagens que fez aos Estados Unidos, com direito a foto em frente à estátua de Abrahan Lincoln em Washington, e uma publicação que trata da importância de se fundar no Brasil algo como o Tea Party nos Estados Unidos — na verdade, existe, é o MBL, de cujas postagens ela compartilha, como, por exemplo, um fake news que atribui a um deputado do PT a iniciativa de “calar mídia à força” depois das eleições (em 2014).
No dia do segundo turno da eleição para presidente, postou mensagem com o seguinte teor:
Hoje é o dia de você exercer o direito de ir às urnas e escolher o próximo presidente do Brasil. Caso ocorra alguma situação diferente, no momento da votação, que te impeça de votar, avise o mesário e nos informe, enviando uma mensagem para aeciocampanha2014@gmail.com ou para o whatsapp (11) 952104827, com seu nome e telefone, para fazermos contato.
No futuro, quando os historiadores descreverem o uso do lawfare no Brasil para destruir uma liderança política, Sergio Moro será retratado com certeza. Páginas e páginas se escreverão sobre ele. Mas não seria justo fazer o registro sem que se conhecesse também as pessoas que o ajudaram nessa tarefa. E além de Rosângela Moro, dedicada a manter as massas mobilizadas com o uso da rede social, um nome não poderá ser omitido: Ivanice Grosskopf, diretora da secretária da 13a. Vara Federal de Curitiba.
Ivanice trabalha com Moro desde o tempo de Cascavel, quando o juiz se tornou titular pela primeira vez, meados dos anos 90, na sucessão de João Pedro Gebran Neto (houve um juiz entre eles, que ficou pouco tempo lá). Na época, Moro passou por uma situação constrangedora, como recorda o procurador da república Celso Três, que trabalhava na jurisdição.
Um advogado apresentou mensagem de Rosângela Moro, advogada, que informava o telefone do gabinete do marido como seu próprio contato. Poderia ser interpretado como exploração de prestígio ou irregularidade equivalente, mas o caso não foi levado adiante.
“Na época, eu ouvi as explicações de Moro e achei que não tinha havido dolo. Pareceu mesmo que foi um equívoco”, disse o procurador, conhecido desde o Banestado pela tenacidade com que conduz suas investigações — Três já teve o carro perfurado a bala quando apurava o envolvimento de policiais civis do Paraná num esquema de concussão de sacoleiros que faziam compra no Paraguai.
Ivanice já era conhecida de todos, e se atribui a ela a redação de despachos do juiz, inclusive sentenças, o que não é incomum no Judiciário, dado o excesso de tarefas do magistrado e a relação de confiança que existe entre este e alguns subordinados. São estes que tocam a Vara, o juiz dá as diretrizes e confere o trabalho antes de assinar, para que nada saia fora de sua orientação.
Quando Moro deixou Cascavel e foi para Curitiba, onde implantou a Vara especializada em lavagem de dinheiro, Ivanice o acompanhou, para ocupar o posto de funcionária número 1, chefe do cartório. Na transcrição do vídeo com o depoimento de Lula à Polícia Federal, sob condução coercitiva, em março de 2016, o nome de Ivanice aparece como responsável pela tarefa.
A neutralidade e a imparcialidade são requisitados que se exige do magistrado, para o bom desempenho de suas funções, mas seria ainda melhor que suas pessoas de confiança mantivessem postura semelhante. Mas não é o que acontece na 13a. Vara de Curitiba.
Se, em Moro, a parcialidade é enrustida, em Ivanice é escancarada, pelo menos até 3 de agosto de 2016, data da última postagem pública em seu facebook. Nesse dia, ela postou o link com a entrevista de Deltan Dallagnol ao Programa do Jô. I
vanice também revela em sua rede social um papel ativo nas manifestações convocadas pelo Vem Pra Rua. Compartilha publicações de uma tal organização que se define pelo slogan “Curitiba, a capital mais direita do Brasil”. Deu publicidade também a manifestações do senador Ronaldo Caiado contra o assim chamado Foro de São Paulo, um assunto recorrente em sua rede social.
Compartilhou texto de Olavo de Carvalho, com ilustração em que aparece um bispo do xadrez com a estrela do PT alterada com foice e martelo e o aviso do ativista de extrema-direita de que havia postado um comentário na “página da CNBBosta”. Ivanice convocou para um twittaço e facebookaço com a hashtag “Agora Somos Todos Moro”.
Compartilha textos do site de extrema-direita O Antagonista, texto do movimento escola sem partido e de grupos que defendem a liberação do porte de armas no Brasil — “vinte fatos que comprovam que posse de armas deixa uma população mais segura”.
Revela as viagens que fez aos Estados Unidos, com direito a foto em frente à estátua de Abrahan Lincoln em Washington, e uma publicação que trata da importância de se fundar no Brasil algo como o Tea Party nos Estados Unidos — na verdade, existe, é o MBL, de cujas postagens ela compartilha, como, por exemplo, um fake news que atribui a um deputado do PT a iniciativa de “calar mídia à força” depois das eleições (em 2014).
No dia do segundo turno da eleição para presidente, postou mensagem com o seguinte teor:
Hoje é o dia de você exercer o direito de ir às urnas e escolher o próximo presidente do Brasil. Caso ocorra alguma situação diferente, no momento da votação, que te impeça de votar, avise o mesário e nos informe, enviando uma mensagem para aeciocampanha2014@gmail.com ou para o whatsapp (11) 952104827, com seu nome e telefone, para fazermos contato.
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