terça-feira, 28 de novembro de 2017

NÃO SEI O QUE É VIVER SEM FIDEL

Em um discurso emocionado, o neto 
de Fidel Castro fala sobre o avô um 
ano após a morte do líder cubano.
(Fidel Antonio Castro Smirnov, 37, 
doutor em Ciências e professor da 
Universidade de Ciências 
informáticas, é filho de Fidel Castro 
Díaz-Balart, conhecido como Fidelito, 
assessor científico do governo cubano 
filho primogênito de Fidel Castro.

Eu sou Fidel. Meu pai é Fidel. Meu avô 
é e sempre será o eterno e invicto Fidel. 
Meu nome é Fidel, minha vida se chama 
Fidel. Meus pensamentos, meus sonhos, 
meus anseios também se chamam Fidel.
Não posso e nem devo dizer que 
converso com ele, como em todas 
aquelas ocasiões que guardo em minha 
mente, na minha memória; mas posso, 
devo e quero dizer que preciso falar com 
ele e o faço de vez em quando.
Não posso, não devo e nem quero dizer 
que Fidel não está fisicamente. Pode não 
estar presente o calor de Fidel. Mas está 
presente a energia de Fidel, o trabalho de 
Fidel, o impulso de Fidel, a força de Fidel (mais forte do que as forças nucleares), a dinâmica de Fidel, a onda
de Fidel, a luz de Fidel (a mais bela e intensa), o movimento de Fidel, o magnetismo de Fidel, o
tempo de Fidel, a obra e a consciência de Fidel estão muito presente e perdurarão.
E a energia, o trabalho, o impulso, a força, a luz, o movimento (também interpretado como mudança, 
sendo o mais íntegro o movimento social Fidelista), tudo isso é Física, portanto Fidel está sim 
presente fisicamente.
O DNA de Fidel está presente em milhões de revolucionários dentro e fora de Cuba, em nossa 
América, no mundo, e assim Fidel está presente biologicamente. A química de Fidel une milhões, 
incluindo aqueles que não pensam como ele, mas o respeitam, o admiram e gostam dele, e assim 
Fidel está presente quimicamente. A ciência toda nos brinda com a saudosa e querida presença de 
Fidel entre nós.
Não posso e nem devo dizer que foram poucas todas aquelas ocasiões em que tive meu avô para 
mim, sua ternura, suas demonstrações de carinho, sua voz, sua altura e sua força, seu abrigo 
intelectual e moral, sua estatura impressionante, sua imagem comovente, seu carisma cativante, suas 
palavras de alento, seus valiosos conselhos. Ainda que logicamente gostaria de mais, me consola 
saber que sempre me esforcei e lutei para aumentar o tempo com Fidel, que estive disponível para 
cuidar dele, atendê-lo, ajudá-lo, acompanhá-lo, dividir perigos e descobertas, e proporcionar a ele 
momentos felizes. Tive o imenso privilégio de, durante parte considerável da minha vida, ter sido 
próximo a Fidel, e por ele posso, devo e quero falar em nome daqueles que foram próximos.
Não posso, não devo e nem quero dizer também que foram muitas as milhares de horas com Fidel, 
como jovem cativado por suas ideias e sua história, por seu pensamento e ação, por seus feitos e 
proezas.
Virão mais horas de Fidel, com Fidel e para Fidel, e nunca serão suficientes. Por ele me considero 
moralmente identificado com os que o amaram de longe. Posso, devo e quero falar também em nome 
deles.
Todo o tempo com Fidel, todos esses segundos, minutos, horas, toda essa unidade de tempo que não 
considero capaz de descrever o tempo relativo e absoluto junto a ele, todo esse espaço vivido junto, 
os anos que colaborei com os companheiros que cuidavam dele, uma ou outra vez que provoquei 
gargalhadas e também as vezes que o incomodei.
A vez que ele engasgou e, assustado, o golpeei com força mal calculada. No dia seguinte, durante as 
entrevistas para o livro “Cem horas com Fidel”, na escola onde fez o primeiro grau, em Santiago, 
Fidel conta a Ramonet de suas brigas, e uma hora o jornalista o pergunta o que significa um 
“pescozón”. Meu avô me chama e me pede para ficar imóvel ali, e eu, muito orgulhoso, mas alheio à 
conversa, cumpro o seu pedido.
Veio então outra força mal calculada na demonstração prática de um “pescozón por la cabeza”, 
interpretada por mim como uma carinhosa represália e ensinamento de que não se deve ficar 
acomodado.
Lembro de quando estive doente mais novo e ele me visitava diariamente, de quando jogamos 
xadrez, de quando me mostrou o histórico fuzil que usou na Serra Maestra, a imagem dele pensativo, 
recordando, contente por nada ou sério resolvendo o pouco e o muito, dormindo, caminhando de um 
lado para o outro, sempre seguro e otimista, sempre combativo, pensando, conversando e 
trabalhando.
Desfrutar cotidianamente de seus gestos, de sua voz de perto, de longe, por telefone, por rádio, por 
televisão, ouvi-lo acordado e sonhando, decifrar seu sussurro de conspiração, apreciar e desfrutar de 
sua cultura em detalhes, ajudá-lo no possível e impossível, no fácil e no difícil, pegar para ele um 
copo d’água, uma caneta, um discurso, segui-lo em suas ideias, projetos e experiências, acompanhá-
lo por terra, mar e ar, com calor ou chuva, com neve ou em meio a um furacão, sentar ao seu lado em 
um carro ou em um avião, ou em uma mesa, ou atrás dele em um teatro por tantas horas, caminhar 
por atrás, ao lado ou a sua frente, guiando seus passos. Vestir-lhe as meias, ler para ele, sofrer mais 
do que ele ao vê-lo sentir dor, me alegrar mais do que ele ao vê-lo sorrir, servi-lo uma taça de vinho 
(e de quebra me servir um pouco do seu, assegurando que ele estivesse de excelente humor).
Lembro dele me perguntar sobre nanotecnologia, a teoria da relatividade, o universo, a matemática, a 
história, o mar, o que estou lendo ou pesquisando, meus pais e irmãos, minha saúde, me dizer: “Fide, 
como está? Se cuida! Venha aqui, tenho um recado para seu pai”. Me dizer que sou seu amigo, me 
apresentar ao seu melhor amigo, Hugo Chávez, com quem compartilhamos memoráveis vivências 
familiares.
Daquela noite ao final da Gala Cultural no Dia da Independência dos Estados Unidos, no dia 4 de 
julho de 2002, disse que tinha algo muito sério para contar a ele. Me levou sozinho para seu 
escritório no Palácio e pude finalmente exclamar: “Te amo para c%@@!”. Depois de seu efusivo e 
longo abraço, me disse com certa timidez, baixinho: “E eu também, que você não se esqueça disso”.


De me fazer tão feliz, e de vê-lo fazer tanta gente feliz. Enfim, de uma lista muito extensa mas que 
me custa interromper, tudo isso e muito mais constituem o mais valioso para mim e encabeçam 
minhas vivências mais felizes e agradáveis.
Fidel, meu avô, me motiva, me inspira, me dá forças, me incentiva, me guia, me impressiona a cada 
dia. Eu o amo, o admiro e sinto sua falta faz exatamente um ano, e daqui um, 2, 5, 10, 20 anos ou o 
que me restar viver antes de buscá-lo onde estiver, para além da ciência e do marxismo.
Nunca me despedi dele e nem penso em fazê-lo. Pensar que não posso abraçá-lo ou apertar sua mão, 
ouvi-lo limpar a garganta, escutá-lo de perto com atenção, apreciar a expressividade de suas mãos 
sempre atrás de um contato de carinho, sentir outra vez sua mão em meu ombro, vê-lo de perto e 
tocá-lo, dar-lhe um beijo, brincar com ele, brindar com ele, segurar-lhe um copo ou uma taça se 
estivesse ficando com sono, levar a ele pessoalmente um diploma, fazer a ele quantas perguntas 
quisesse e ouvir as respostas que necessito agora, tentar responder sua série interminável de 
perguntas para as quais continuo buscando respostas e que me surpreendem pelo mecanismo 
intelectual genial que, até tão avançada idade, chegou a formular. Tudo isso e muito mais me 
provocam uma dor inexprimível, que aumenta com o tempo, que não se deixa ser dominada e muito 
menos permite que eu aprenda a conviver com ela.
Devo dizer, ainda que não queira, que não o superei. Atenuar essa dor, algo fácil de ser dito, é um 
dos meus maiores desafios e um dever por motivos de saúde. Assim como é descobrir como 
converter dor em felicidade, como buscá-lo e encontrá-lo, para diminuir a inevitável ansiedade com 
homenagens diárias a Fidel.
Estou em meio a esse desafio, passo muito tempo buscando recursos para mitigar o luto doloroso 
para que ele não me domine nem me controle, visito quase que mensalmente Santiago de Cuba e 
passo muitas horas perto da Piedra Rebelde que ensina e ilumina, me jogo de paraquedas a 4 km de 
altura para homenagear Fidel, abraçando uma bandeira que leva a sua imagem.
Continuo tendo o imenso privilégio de ser mais um de seus colaboradores, acompanhando-o 
concretamente com meu tempo e energia em um de seus projetos científicos. Continuo cumprindo o 
que me disse no dia 13 de agosto de 2002: “Quando se formar no ano que vem, vá a Universidade 
das Ciências Informáticas” ( isso foi cerca de um mês antes da UCI começar as aulas, há pouco mais 
de 15 anos). Foi precisamente na UCI que, no dia 29 de abril de 2016, realizamos pela primeira vez 
“Um salto por Fidel”, no qual 26 paraquedistas desafiaram a gravidade e as alturas para transmitir 
uma mensagem de carinho e homenagem ao Comandante pelos seus 90 anos, dando a ele de presente 
um momento feliz ao enviarmos o vídeo. Devo e quero repetir, o quanto puder, “Um salto por Fidel”.
Me honra também ter dedicado a ele neste ano um Prêmio Nacional da Academia de Ciências de 
Cuba, e o título de pesquisador Titular. Me honra ter vindo a Santiago de Cuba para falar com ele, 
contar minhas coisas, meus planos, dar os parabéns pelo Dia dos Pais, comemorar seu aniversário, 
dar-lhe carinho. E seguir mais seguro, cheio de forças, motivações e energias. Uma vez mais, 
obrigado infinitamente, avô! E como você dizia, na vida dos homens gratos, infinito mais um é 
muito mais do que infinito. Estranha, rigorosa e profunda a matemática de Fidel.
Por visitá-lo com tanta frequência, me honra ter começado a colaborar com a Universidade do 
Oriente, com o Centro de Biofísica Médica fundado por ele, e que me tenham concedido o imenso 
privilégio de fazer parte da Cátedra Honorífica para o Estudo do Pensamento e Obra de Fidel. 
Minhas duas mensagens a meu querido avô, escritos no livro da Santa Ifigênia, foram publicadas e 
deram lugar a belos e comoventes comentários nas redes. Obrigado infinitamente a todos.
E não posso, não devo e nem quero dizer que não posso viver sem Fidel. E não sei o que é viver sem 
Fidel. Escolho viver feliz com Fidel, e assim contribuo de maneira modesta para que Fidel também 
continue sendo feliz.
A cada dia me recordo do seu conselho de 20 de outubro de 2004, quando, em meio à tremenda 
angústia por causa de seu acidente em Santa Clara, me disse: “Não fique triste!”. Devo e quero dizer 
que continuarei me esforçando para cumprir esse pedido do meu avô, que não gostava de ver 
nenhum neto sofrer. Escolho a alegria de te sentir sempre comigo e, ainda que nunca supere minha 
perda, nossa perda, saberei viver feliz com sentimentos tão profundos por meu avô, meu amigo, meu 
professor, meu paradigma, meu Comandante em Chefe, o grande Fidel, a quem sempre terei presente 
com imenso e especial carinho.

O neto de Fidel ciceroneia em Havana o multimilionário britânico Richard Branson, dono da 
Virgin.

E a convicção de ser feliz guardando tantas vivências valiosas, a convicção de continuar cumprindo 
isso é o que me permite levá-lo comigo e viver feliz todos os dias.
Como um dos milhões que nunca soltaram a sua mão, que cuidaram dele e sempre cuidarão, de seus 
colaboradores, amigos, daqueles que tentaram se aproximar de seu melhor exemplo e que 
coletivamente disseram “Eu sou Fidel”, dos homens da ciência e do pensamento que ele formou, dos 
que o amam de perto e de longe, como fruto do que ele formou e como mais um da família que tanto 
o ama, envio a ele novamente muitos beijos, um forte abraço e minha mais sincera homenagem um 
ano depois da sua recente travessia.
Um ano depois do dia escolhido por ele para voltar a enfrentar novas batalhas, meu tempo continua 
sendo o tempo de Fidel!
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