quarta-feira, 4 de outubro de 2017

POR QUE O PIG ESCONDE O CADÁVER DO REITOR

Quanto tempo o Jornal Nacional desta terça, 3, dedicou à tragédia do reitor da UFSC, Luiz 
Carlos Cancellier? Zero.  Repito: zero. A repercussão do suicídio foi escondida na mídia. A 
razão é uma só: ela é cúmplice. O estado policialesco em que vivemos é resultado de anos de 
doutrinação e emburrecimento iniciados com o mensalão e com a indignação coletiva que 
frutificou. As capas canalhas da Veja, os jograis de William Bonner, o vômito de ódio de 
colunistas deseducaram e deram subsídio para milhares de cretinos que evoluíram para o 
fascismo sem medo de ser felizes. Temos um juiz absoluta e desavergonhadamente parcial 
como heroi. No nosso novo normal, ele vai a premieres de filmes em que ele mesmo é 
protagonista e tudo bem. A cobertura é do Oscar.



Não há dúvida de que uma grande parte da responsabilidade pela morte do reitor Luiz Carlos 
Cancellier de Olivo cabe ao Judiciário, na figura da juíza. Ela decretou uma prisão absolutamente 
desnecessária, cujo único objetivo discernível era abater moralmente e humilhar. Uma prisão 
decretada antes de que o preso tivesse sequer sido convocado a prestar esclarecimentos! A prisão foi 
revogada, mas a juíza manteve o reitor incomunicável, a despeito de um claro diagnóstico de 
depressão.
Estava impedido de entrar no campus e, fora advogados e médicos, só podia falar com seu irmão, o 
jornalista Júlio Cancellier. Quando concedeu que ele retomasse algumas atividades acadêmicas, foi 
introduzindo uma nova humilhação: sua presença na universidade seria estritamente cronometrada, 
duas horas e meia, como se fosse um elemento tóxico ou radioativo.
Em suma: um exemplo perfeito da prepotência, da insensibilidade e do autoritarismo que, 
infelizmente, grassam no Judiciário brasileiro. Pergunto: uma vez que esse evidente abuso de poder 
levou a consequências tão trágicas, haverá algum tipo de punição à juíza?
Mas há uma cota de responsabilidade importante que cabe à mídia. Ela é a cúmplice ativa dos 
processos de pré-julgamento e assassinato moral promovidos pelo Judiciário. Ainda hoje, ao noticiar 
a morte do reitor, a Folha de S. Paulo escreve que ele integrava um grupo “suspeito de desviar R$ 80 
milhões em recursos que deveriam ser investidos em programas de Educação à Distância”.
Há duas inverdades na frase. O projeto totalizava R$ 80 milhões; o valor que se suspeita que tenha 
sido desviado é alto, mas não chega a 0,5% desse montante. E, mais importante, a acusação que 
pesava contra o Cau não era de participar do desvio, que teria ocorrido antes de sua gestão, mas de 
estar “obstruindo as investigações” (acusação que ele negava).
A mídia reproduz, de forma leviana, informações imprecisas ou mesmo falsas, embarca alegremente 
na culpabilização antecipada dos denunciados e, quando concede espaço para o contraditório, é 
apenas de forma burocrática e limitada. O Judiciário pode preparar os archotes, mas quem risca o 
fósforo para o linchamento moral é a mídia.
Ao noticiar desta maneira a morte do reitor, a Folha trabalha para esvaziar o sentido de denúncia 
contra a arbitrariedade que Cau buscou imprimir ao sacrifício de sua própria vida.
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