terça-feira, 5 de setembro de 2017

O SUICIDIO DO TENENTE “CHICO DOLAR”, O ORGULHOSO MATADOR DOS “COMUNISTAS DO ARAGUAIA”


José Vargas Jimenez, o “Chico Dólar”

Por Eduardo Reina 

O tenente da reserva José Vargas Jimenez, de 68 anos, conhecido como Chico Dólar, alcunha
adotada durante os combates na guerrilha do Araguaia, se matou com dois tiros no peito.
O suicídio foi cometido dentro de sua casa, no bairro Nossa Senhora das Graças, na cidade de
Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
Jimenez, ou Chico Dólar, era chefe de um grupo de combate durante a Operação Marajoara,
desencadeada pelas Forças Armadas na guerrilha do Araguaia, em meados da década de 1970. Ele 
participou da ofensiva final contra os militantes políticos no Araguaia.
Escreveu dois livros com narrativas sobre a caçada aos militantes do PCdoB que formavam o grupo 
de guerrilheiros de resistência ao governo militar.
O primeiro foi “Bacaba – Memórias de um guerreiro da selva da guerrilha do Araguaia”. O outro foi 
“Bacaba II – Toda a verdade sobre a guerrilha do Araguaia e a revolução de 1964”.
Há cerca de dois meses entrei em contato com o militar e comprei diretamente dele os dois livros, 
que foram enviados pelo Correio. O texto do primeiro é bastante contundente e duro. Narra como os 
militares dizimaram os militantes do PCdoB.
Entre as várias revelações feitas por Chico Dólar no texto, uma é escrita de próprio punho, numa 
dedicatória assim feita: “Chico Dólar: era o meu nome na guerrilha do Araguaia, em Xambioá e 
Marabá. Matamos todos os comunistas do PCdoB – Selva!!”. O militar pertencia ao batalhão de 
selva do Exército.
Tentei por várias vezes entrevistá-lo. Mesmo que fosse por escrito. Mas não obtive sucesso. O 
tenente da reserva se recusou a conversar comigo.
Alguns trechos do primeiro livro me chamaram a atenção. “Existia uma rivalidade ‘simbólica’ entre 
os Guerreiro de Selva que ficaram na Base de Operações de Combate em Bacaba e os paraquedistas, 
cuja base era em Xambioá, de qual deles capturava ou matava mais guerrilheiros”, escreveu na 
página 70.
Sobre a falta de documentação referente às atividades dos militares do sul do Pará no combate à 
guerrilha do Araguaia, o tenente Jimenez foi explícito, conforme descreveu na página 76.
“Em 1985, o Comandante Militar da Amazônia que é constituído pela 8ª RM e 12ª RM, recebeu e 
repassou a estas duas Regiões Militares as ordens que havia recebido do Ministério do Exército, com 
sede em Brasília-DF, para destruir toda documentação referente à Guerrilha do Araguaia, o que foi 
cumprido por todas as Organizações Militares subordinadas às respectivas Regiões Militares”.
A dedicatória para o autor desta reportagem

Há uma passagem bem tétrica e perversa na qual Jimenez narra episódio sobre o encontro de 
cadáveres de guerrilheiros na selva.
“Passamos pela região de ‘Caçador’, onde uns de nossos GC haviam matado os guerrilheiros ‘Zé 
Carlos’, ‘Zebão’ e ‘Alfredo’, e os tinham deixado ali expostos no meio da selva. Estavam cheirando 
mal. Um dos meus soldados foi até um dos cadáveres e com sua faca cortou um dos seus dedos, 
retirou o resto da carne que estava em decomposição, ficando somente com os ossos que pendurou 
no seu pescoço, dizendo: ‘Este amuleto é meu troféu de guerra!’ Eu encontrei um gorro feito do 
couro de quati, estava na cabeça do cadáver do guerrilheiro ‘Zé Carlos’, era do tipo de ‘Daniel 
Boone’. Peguei-o para mim e passei a usá-lo”.
Os últimos tiros de Jimenez foram dados contra o próprio peito na manhã da última quinta-feira. Sua 
esposa encontrou o corpo do militar caído dentro de casa.
Ele chegou a ser levado para a Santa Casa de Campo Grande. Foi submetido a cirurgia de 
emergência. Teve três paradas cardíacas e acabou morrendo. Foi sepultado no cemitério Memorial 
Park.
O tenente Chico Dólar deixou a região do Araguaia no dia 27 de fevereiro de 1974, onde passou 
quase seis meses em missões. Nesse período, segundo os seus relatos, 32 guerrilheiros forma mortos, 
além de três militares terem perdido a vida também. Prestou serviço no DOI-Codi, onde participou 
de torturas de presos políticos.
José Vargas Jimenez, que confessou vários crimes, morre sem nunca ter sido julgado pelas 
arbitrariedades cometidas no Araguaia durante a ditadura.
Ao contrário, recebeu a medalha de Pacificador com Palma de Ouro por ter se distinguido, com risco 
de vida, por atos pessoais de abnegação, coragem e bravura. Especialmente por ter participado 
ativamente da guerrilha do Araguaia.
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