sexta-feira, 2 de junho de 2017

ESCOLHIDO POR TEMER PARA COMPOR O SUPREMO, EX ADVOGADO DO PCC COMEÇA A MOSTRAR SERVIÇO

Posição do ministro do STF representa sua primeira polêmica no cargo, por protelar ainda mais o tema e agradar parlamentares com problemas na Justiça.

Empossado em março em meio a sérias
críticas por suas posições político partidárias
e por ter saído direto do Ministério da
Justiça – ocupando cota do PSDB no
governo Temer – para o cargo de ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF),
Alexandre de Moraes protagonizou sua
primeira polêmica como integrante da mais
alta Corte do país nesta quinta-feira (1º),
depois de pedir vista da ação penal que trata
sobre foro privilegiado. O voto do relator,
Luís Barroso, foi por restringir o foro apenas
para autoridades durante crimes que tenham
sido cometidos por eles no exercício do
mandato. 
Moraes, ao lado de Gilmar Mendes, não disse explicitamente que não concordou com a tese do 
relator. Mas contestou o entendimento de que o atual sistema provoca problemas de morosidade e, 
em consequência, dificuldades para a imagem do STF.
Com a suspensão do processo até a devolução dos autos por Alexandre de Moraes, o julgamento da 
ação fica parado, colocando mais suspense no cenário de denúncias e criminalização de políticos 
ocupantes de cargos no país. A iniciativa deixou satisfeitos parlamentares que, ontem, forçaram a 
votação, no Senado, de proposta de emenda à Constituição (PEC) referente ao mesmo tema – que 
segue agora para a Câmara.
O argumento de vários deputados e senadores foi de que não gostariam que o assunto, considerado 
pertinente de forma específica ao Legislativo, fosse julgado antes pelo Judiciário. O ministro fez 
exatamente o que os parlamentares esperavam.
“Ele começou a dar uma de Gilmar Mendes”, alfinetou um conhecido advogado de políticos que 
acompanhou a sessão do Supremo. A referência a Gilmar Mendes foi pelo fato de o ministro já ter 
chegado a passar mais de um ano com um processo parado sob pedido de vista no seu gabinete.
“Está mostrando sua fidelidade ao governo Temer e aos parlamentares a quem sempre foi ligado”, 
disse em reservado um ministro aposentado de outro tribunal superior que hoje advoga. A sua 
avaliação é que o maior tempo que demorar para retornar o julgamento contará como ponto 
favorável para a situação do atual presidente da República e os integrantes da sua equipe ministerial 
denunciados na Operação Lava Jato.
O argumento de Alexandre de Moraes ao pedir vista do processo foi de que se a restrição ao foro 
privilegiado for aprovada, o STF poderá levar meses ou anos para decidir quais os processos penais 
deverão continuar sendo analisados no tribunal, já que esse tipo de avaliação, segundo ele, terá de 
levar em conta “vários pontos de vista”.
Controle de excessos
O ministro Gilmar Mendes seguiu com a mesma posição de Moraes. Afirmou que o STF pode vir a 
fazer “populismo institucional” caso os ministros da corte passem a tratar o fim da prerrogativa de 
foro como o que chamou de “panaceia para a impunidade no Brasil”.
Isso porque, ao dar seu voto, Luís Barroso citou, ontem, números de processos que demoraram anos 
para serem julgados porque os réus ficam mudando de foro, quando deixam de exercer um cargo, 
muitas vezes sendo nomeados por aliados e pedindo exoneração propositadamente até que o crime 
prescreva. “Basta ler os jornais para percebermos que isso acontece todo dia”, argumentou o ministro 
relator.
Mendes, discordou e defendeu que o Supremo tem a função de controlar excessos. Segundo ele, 
alguns inquéritos se alongam indevidamente porque não se fez investigação e não, por conta do foro 
privilegiado propriamente. “Eventuais demoras não podem ser creditadas exclusivamente ao STF. De 
fato, tem de haver outra disciplina para o foro, mas não podemos vender a ilusão para a população 
que este é o problema, quando temos um sistema altamente ineficiente no primeiro grau”, criticou.
Votaram acompanhando a posição do relator o ministro Marco Aurélio de Mello e as ministras Rosa 
Weber e Cármen Lúcia (presidenta da Corte). Os demais ministros só vão dar seu voto após a 
devolução dos autos e retomada do julgamento.
Contra o ‘ativismo’
Alexandre de Moraes já se manifestou anteriormente dizendo ser contrário a decisões tomadas pelo 
Judiciário que digam respeito aos outros poderes. Durante sua sabatina no Senado, chegou a afirmar 
que considera o ativismo judicial “um perigo para a democracia”, especialmente no Supremo, porque 
poderia levar o Judiciário a avançar sobre atribuições de outros poderes.
Sucessor do ministro Teori Zavascki, morto no início do ano em um acidente aéreo ainda em 
investigação, Moraes assumiu um acervo de 7 mil processos ao tomar posse, mas não pegou a 
relatoria dos processos referentes à Lava Jato, que também estavam com Zavascki. Estes, foram 
transferidos para o ministro Edson Fachin.
O caso que está sendo julgado, cuja decisão determinará como ficará o foro privilegiado para 
políticos daqui por diante, diz respeito à restrição de foro do prefeito de Cabo Frio (RJ), Marcos da 
Rocha Mendes.
Rocha Mendes chegou a ser empossado como suplente do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-
RJ), mas renunciou ao mandato para assumir a prefeitura de Cabo Frio. Ele responde a uma ação 
penal no STF por suposta compra de votos, mas, em função da troca de cargo de deputado para 
prefeito, o processo no qual é réu foi remetido para a Justiça do Rio de Janeiro.
É essa situação, que tem sido observada com constância na corte em relação a vários políticos, que 
tomou como base o prefeito fluminense, que está​ sendo julgada. Mediante pedido protocolado pela 
Procuradoria-Geral da República para que o STF ponha fim à questão. A decisão se refletirá em 
inúmeros processos contra políticos de todas as esferas do país.
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