terça-feira, 6 de junho de 2017

Em livro, ex-agente cubano da CIA conta 'história de fracasso' de tentativas de assassinar Fidel


'O trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse nome', diz 
Antonio Veciana, que lança nos EUA o livro 'Trained to kill' ('Treinado para matar'), sobre 
tentativas frustradas de assassinar Fidel Castro. 

Antonio Veciana, um cidadão cubano e ex-espião da CIA (Agência Central de Inteligência dos 
Estados Unidos), diz que a sua é “uma história de fracasso”, pois dedicou a vida a tentar matar 
Fidel Castro e desestabilizar o governo instituído após a Revolução Cubana – sem sucesso.
Aos 88 anos, Veciana, que vive em Miami, nos EUA, falou à agência de notícias AFP sobre sua 
história, a propósito do lançamento de seu livro “Trained to kill” (“Treinado para matar”, em 
tradução livre).

“O trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse nome”, disse o ex-
agente. “Eu era um terrorista improvável: era magro, asmático e cheio de inseguranças.”
Ele conta que foi recrutado em 1959 pelo agente norte-americano David Atlee Phillips, codinome 
“Bispo”, que o treinou em Havana para matar Fidel – que, após sobreviver a mais de 600 
tentativas frustradas de assassinato, morreu em novembro do ano passado de causas naturais.
Veciana trabalhava como contador no Banco Nacional de Cuba e aprendeu a passar despercebido, 
planejar ações, ser inescrupuloso e não confiar em ninguém.
Antonio Veciana: 'O trabalho que eu fazia era aquele que os terroristas fazem. Só não tinha esse 
nome', diz ex-agente da CIA que tentou repetidas vezes matar Fidel Castro
“A princípio, a ideia era desestabilizar”, contou, dizendo que seu trabalho era criar e espalhar 
informações falsas sobre supostas ações do governo cubano.
A primeira que criou foi um boato sobre uma suposta lei que permitiria que o governo retirasse os 
direitos legais e de custódia dos pais sobre seus filhos.
A partir desse rumor, entre 1960 e 1962 cerca de 14 mil crianças e adolescentes foram enviados por 
suas famílias para os EUA, um êxodo infanto-juvenil conhecido como “Operação Peter Pan”. A 
operação foi apoiada pela Igreja Católica, que enviava os menores desde Cuba e os recebia em 
acampamentos na Flórida.
“Muitos pais e mães se encontraram com seus filhos depois, mas outros nunca mais os viram, porque 
morreram ou porque não conseguiram sair do país”, disse Veciana, que diz não se arrepender de seu 
papel na separação de milhares de famílias.
“Pode ter sido irresponsável, mas eu fiz o que fiz por convicção”, afirmou. “Estava convencido de 
que estava fazendo a coisa certa, e faria de novo.”
Ele fugiu para os EUA em 1961 após uma tentativa frustrada de assassinar Fidel Castro. Em Miami, 
ele fundou um grupo paramilitar chamado Alpha 66, que nos anos 1960 e 70 promoveu ações – cuja 
magnitude era “sempre exagerada”, segundo ele – contra o governo cubano.
Veciana disse ter se sentido “traído” pelo então presidente dos EUA, John F. Kennedy, que retirou o 
apoio norte-americano a grupos paramilitares de cubanos anticastristas na tentativa frustrada de 
invasão da Baía dos Porcos, em 1961.
À AFP, ele disse ter visto o ex-agente Bispo se encontrar com o ex-fuzileiro naval Lee Harvey 
Oswald meses antes do assassinato de Kennedy, em 1963. Oswald foi depois identificado como o 
atirador que matou o então presidente dos EUA em Dallas, no Texas.
Veciana tentou mais uma vez matar Fidel durante uma visita do líder cubano a Santiago do Chile – e 
mais uma vez falhou. Seus esforços para difamar Ernesto “Che” Guevara depois da morte do 
revolucionário argentino na Bolívia, em 1967, também falharam, já que Che acabou se tornando um 
ícone mundial da esquerda.
Ele se aposentou em 1979, após 20 anos de tentativas frustradas de derrubar Fidel e a Revolução 
Cubana. “Eu tento não pensar muito nisso, porque a minha história é uma história de fracassos”, 
disse o ex-agente à AFP.
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