sexta-feira, 5 de maio de 2017

ÍNDIOS FECHAM TRANSAMAZÔNICA E CONQUISTAM VITÓRIA COM APOIO DE CAMINHONEIROS

O bloqueio criou um congestionamento de 40 quilômetros. Foto: Mauricio Torres

Em 26 de abril, 130 índios Munduruku, apoiados por ribeirinhos de Montanha e Mangabal, 
comunidades à beira do rio Tapajós, interditaram a rodovia Transamazônica e ocuparam uma 
ponte 25 quilômetros a leste do porto de Miritituba (PA), ponto-chave da principal rota de 
escoamento de grãos pelo Norte, onde estão localizados os terminais de transbordo de gigantes 
transnacionais, como a Bunge e a Cargill.

Mauricio TorresSue Branford

DIANTE DA ONDA IMPETUOSA de políticas anti-indígenas implementadas a toque de caixa pelo Congresso, com ampla complacência do governo Temer, o presidente da Funai, Antônio Fernandes Toninho Costa, foi exonerado nesta sexta-feira (5). Enquanto em Brasília se davam as movimentações para que ele deixasse o cargo “por ser defensor da causa indígena diante de um ministro ruralista”, segundo definiu, no Pará, guerreiros do povo Munduruku, armados com bordunas e arcos e flechas, interditavam uma ponte na rodovia Transamazônica em um ponto-chave para o escoamento da produção de soja para os portos no rio Tapajós. O protesto gerou uma fila de mais de 40 km de caminhões por mais de uma semana e só terminou na tarde de quinta-feira (4), com o desbloqueio da rodovia.
Viajando de Santarém para Itaituba para uma reunião com colonos da região, o pesquisador Mauricio Torres acabou ficando acidentalmente preso no trânsito. Ao chegar ao bloqueio, foi reconhecido pelos Munduruku, com quem tem contato há anos, e os índios pediram a sua colaboração na redação de suas notas. Ele acabou ficando no ato até o final, na tarde desta quinta-feira, dia 4, oito dias depois.
Caminhoneiros presos no bloqueio falaram em atropelar os Munduruku para desobstruir a pista. Com espantosa tranquilidade, ao ouvirem as ameaças, os índios gritam “Sawe” – uma saudação de apoio, algo como “Muito bom! Isso mesmo!” – e avisaram que, caso fossem atacados, ateariam fogo à ponte.
Mas a hostilidade que marcou o início do protesto deu lugar a um apoio mútuo quando os dois lados se reconheceram como vítimas das políticas do atual governo.
Os motivos da manifestação eram a recusa do governo em demarcar terras indígenas, conforme está previsto na Constituição de 1988, e o desmonte da Funai. A interdição foi também um claro protesto contra a bancada ruralista, que domina o Congresso e que pressionou o Executivo para que fossem implementadas iniciativas contra os direitos dos índios aos seus territórios.

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