Por Epaminondas Demócrito d’Ávila*
Caro Paulo Henrique,
Quis homenageá-lo pelos 75 anos bem vividos com o esboço de um retrato mais extenso, todo feito a partir de fatos amplamente conhecidos e acessíveis, sobretudo na memória digitalizada de Conversa Afiada, mas não encontrei tempo. Fica para outra vez.
Hoje, apenas o essencial.
Volta e meia penso que chegamos ao fundo do poço, mas a ignorância presunçosa, o oportunismo e a canalhice conseguem superar-se e revelar baixezas inimagináveis.
Em tempos sombrios o jornalismo clássico renasce qual Fênix das cinzas. A prova cabal: os “blogueiros sujos”, assim denominados pelo indescritível José Serra. O exemplo por excelência: Conversa Afiada, uma escola de jornalismo. Tudo nesse blog é ímpar:
– a qualidade gráfica e o design;
– o estilo preciso, lapidar, substantivo (na contramão do diagnóstico atualíssimo de Machado de Assis no cap. 87 das “Memórias póstumas de Brás Cubas”: “Deus sabe a força de um adjetivo, principalmente em países novos e cálidos”);
– o caráter combativo, a escrita com o florete na mão, cortante, “afiada”, o manejo virtuosístico da “navalha”, confirmando o aforismo “O que não fere não confere” (Was nicht trifft, trifft auch nicht zu), no qual Karl Kraus estabelece o vínculo entre objetividade e combatividade;
– o recurso à ironia, ao sarcasmo, à sátira, à paródia e ao humor;
– a criatividade no uso do nosso idioma, que resultou na cunhagem de termos e nomes novos como “historialista”, “urubóloga/cegonhóloga”, “Armínio NauFraga”, “xoque de jestão”, “detrito sólido de maré baixa”, “Angorá” e tantos outros, muitos dicionarizados no ABC do CAf;
– a TV Afiada, esse fascinante laboratório de televisão, cujos clipes antológicos sugerem o potencial de uma televisão não-alienada na promoção do pensamento crítico;
– a intransigente defesa da res publica, da coisa pública, aqui transformada em privada, conforme atestam os feitos do ilegítimo governo, emblematicamente representados pela retórica, na qual um rábula travestido de ministro obrou uma apropriação indébita do Prêmio Camões;
– o empenho pelo Estado Democrático de Direito e pela constituição;
– a coragem cívica, que você “professa com uma firmeza moral raríssima num país que apesar de suas cores tão vivas só produz indivíduos de meias tintas”. Essas palavras de Mário de Andrade, escritas em 1931 em artigo sobre Tristão de Ataíde, valem mais ainda para você e muitos dos seus colegas, os blogueiros independentes.
Conversa Afiada é uma trincheira da democracia no Brasil e uma instituição pedagógica. O governo e o PiG ocultam e turvam. Conversa Afiada e a blogosfera revelam e esclarecem. Dão voz a quem na opinião dos donos do poder nem deveria ter vez. Prestam uma contribuição indispensável à formação de um público, de uma esfera pública, sem a qual não sairemos do buraco, no qual a canalhocracia, a ignorância, o peso opressivo do passado escravocrata e machista, interesses cada vez mais claros de agentes estrangeiros, mas também as nossas fraquezas e ingenuidades nos jogaram.
Por tudo o que você fez nesses últimos anos, meus agradecimentos.
Pelos setenta e cinco anos – um poço de juventude – meus votos de parabéns.
Não falo por mim. Todos os democratas, todas as pessoas verdadeiramente republicanas dirão o mesmo e pedirão que você e a blogosfera continuem a luta.
Seu público só pode crescer.
* um observador atento e experiente da política nacional.
PS : Esse Blog se junta aos votos do internauta Epaminondas e também deseja ao blogueiro e amigo PHA um feliz aniversário. E acrescenta, parodiando Maiakóvski: se para o júbilo, o Brasil é imaturo, arrancaremos alegria… ao futuro!
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