quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A GUERRA NO ESPIRITO SANTO...“Não vou ser submisso a um tirano como Paulo Hartung”: o desabafo do tenente da PM do ES


O tenente coronel Foresti

por : Marcos Sacramento

Um tenente-coronel da Polícia Militar responsável pelo Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes), onde funciona a central do 190 do Espírito Santo, teve uma crise nervosa ao saber do atentado contra dois militares na cidade de Cariacica, na região metropolitana da Grande Vitória.
De acordo com informações do Gazeta Online, o oficial Carlos Alberto Foresti estava sob estresse por causa da demanda de trabalho dos últimos dias e havia alertado sobre o perigo de enviar policiais sozinhos para as ruas.
Em um áudio que se espalhou pelo Whatsapp, o tenente-coronel desabafa e demonstra indignação contra o governo de Paulo Hartung (PMBD), o qual chama de tirano.
No momento da gravação ele acreditava que os policiais baleados corriam risco de morrer, mas eles foram atingidos no braço e na perna e estão fora de perigo.
Atenção tropa, aqui é o coronel Foresti. Estava aqui responsável pelo Ciodes e avisei aos comandantes “Não coloquem nossos policiais em locais de risco, não coloquem nossos policiais para trabalhar no PO que eles estariam correndo risco de vida”. Era um risco, que a gente deveria ter muito cuidado com a vida dos nossos familiares.
Eu estou aqui, desde quando começou esse movimento, trabalhando aqui, segurando as ondas, ajudando esse governo, emagreci mais de cinco quilos nesses últimos três dias, sacrificando a minha família. E agora, ao tomar conhecimento de que policiais foram baleados e podem morrer em Cariacica, os meus guerreiros, eu me revoltei, estou revoltado e não vou aceitar essa situação.
Não se entreguem, não vamos perder essa guerra para o André Garcia, esse ditador e nem para esse governo que está fazendo isso com a gente. Tomem os quartéis, não aceitem mais ordem de ninguém a não ser que eles sentem para negociar e atendam os pedidos. Eu não quero mais pedir, eu não preciso de salário, eu varro a rua, eu vou ser gari, eu varro a rua de vocês, mas eu não vou aceitar ser submisso a um tirano como Paulo Hartung e ao secretário André Garcia.
Eu trabalho aqui na Secretaria de Segurança desde que criaram esse prédio. Trabalhei em dois governos, com Rodney, trabalhei um governo do Casagrande e esse governo aqui do Paulo Hartung. Mas por favor, me ouçam, me ouçam, o secretário nunca subiu aqui no segundo pavimento para dar bom dia para a gente. O dia em que ele subiu foi quando o teto desabou.
Nós trabalhamos com coronel Laércio para reduzir os índices de homicídios nos últimos cinco anos como cachorros e agora ele vem e exonera o nosso comandante, o melhor comandante que eu já tive. Isso aqui já virou uma palhaçada, esse governo é tirânico. Se a gente aceitar isso agora não vai mudar nunca. Isso aqui é a república do Paulo Hartung e o ditador colocou como general dele o André Garcia.



A violência urbana nunca foi o meu temor número um, talvez pela sorte de jamais ter presenciado tiroteios, sofrido assaltos ou abordagens truculentas da polícia.
Depois da paralisação da Polícia Militar iniciada no último sábado (04) no Espírito Santo, meu estado mental mudou. Passei a me preocupar com a possibilidade de invadirem o prédio onde moro ou de enfrentar algum perigo andando na rua.
Com a PM aquartelada a criminalidade explodiu na Grande Vitória e em algumas cidades do interior, na forma de arrombamentos, saques, roubos à mão armada e assassinatos.
As notícias de barbárie se espalharam pelo Whatsapp e Facebook. Primeiro arrastões e assaltos. Depois relatos de tiroteios. Logo surgiram imagens de corpos. Não demorou e vieram cenas de execuções de suspeitos de roubo.
Os mais de 90 homicídios registrados entre o sábado e esta quarta-feira (08) levaram o Departamento Médico Legal à superlotação. Para piorar o que era péssimo, criminosos roubaram 36 kg de explosivos de uma pedreira.
Este clima de insegurança enclausurou a população em suas casas. Ônibus deixaram de circular, escolas, universidades, repartições públicas, unidades de saúde, bares, lojas e shoppings fecharam as portas.
Evita-se sair, a não ser por necessidade inadiável. Profissionais liberais, autônomos e pequenos comerciantes se angustiam a cada dia que passa sem que possam trabalhar.
A única movimentação acontece nos supermercados, sempre lotados por causa do horário de funcionamento reduzido e da incerteza quanto aos próximos dias que leva a população a estocar alimentos em casa
Tirando isso, há pouco movimento nas ruas. Regiões normalmente agitadas durante a semana estão vazias e silenciosas como em dias de jogo do Brasil na Copa do Mundo. A atmosfera, contudo, é pesada, tensa.
Senti isso quando saí rapidamente à tarde para ir à farmácia. Primeiro um medo incomum ao sair de carro da garagem do prédio, embora nada de anormal tenha acontecido na minha rua até agora.
A esse medo se juntou o desconforto de perceber olhares desconfiados em minha direção, sinal de que as coisas não estão fáceis para quem tem os traços físicos do suspeito padrão.
Apesar de tudo, minhas angústias soam até mesquinhas se comparadas às de amigos e conhecidos que vivenciaram medos mais concretos, como barulho de disparos à luz do dia e tentativa de invasão de residência de madrugada.
Da minha prisão domiciliar em um condomínio relativamente seguro e com acesso a wi-fi, consigo apenas me compadecer com quem está mais vulnerável. É impossível, para mim, imaginar o pavor de ser atingido por uma bala perdida ou o tormento de precisar ir à padaria com um bebê de colo.
Sinto um medo que vem por procuração, por meio de vídeos e áudios do Whatsapp. Forte o suficiente, porém, para me manter encarcerado em meio ao caos da Grande Vitória.
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