sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A SAÍDA FICA ALÉM DA ESQUERDA


Como vão ficar pouco tempo,  "Abocanham o que podem"
 
"Bomba de nêutrons" por  Eleonora de Lucena

A bomba de nêutrons mata seres vivos e poupa prédios. Não parece ser outro o objetivo do governo, 
que, sem qualquer pudor, segue implacável com sua sanha destrutiva. Sem o aval das urnas, faz corte 
de gastos, derrubada de direitos, repressão a protestos.
Atônita, a população mal consegue acompanhar a avalanche regressiva. Todo o dia sai uma medida 
contra a sociedade. A Petrobras vai sendo dilapidada; o ensino, enxovalhado; a saúde, depauperada; 
a Previdência, privatizada. Desemprego e desesperança vicejam. 
No Planalto, outra avalanche: a de denúncias de corrupção. Num clima de salve-se quem puder, 
inépcia e hipocrisia dançam uma ópera bufa cruel. Bezerra da Silva tinha razão ao cantar o refrão de 
"Reunião de Bacana".
(...) O Brasil é maior que essa gente.
Começam a sair da penumbra os interesses externos no terremoto institucional brasileiro. A aliança 
do país nos Brics não agrada aos EUA, que não querem dar espaço a desafios à sua hegemonia. 
Donald Trump embaralha o cenário. Cercado de empresários, ele conseguirá mexer na estrutura 
produtiva mundial, contrariando interesses de corporações? Qual o impacto disso no Brasil? As 
próximas eleições na Alemanha e na França vão reforçar a desglobalização? 
As mudanças convulsivas nas entranhas do capitalismo financeiro (em crise há quase dez anos) 
atormentam as elites globais e desnorteiam seus aliados na periferia. 
Aqui, as arestas dentro do poder ficam mais agudas. A disputa pela privatização do bolo estatal é 
aberta, gera instabilidade e estraçalha a democracia e o Estado de Direito. 
Há 50 anos, Jango, JK e Lacerda, com ideias tão diferentes, tentaram erguer a frente ampla contra a 
ditadura militar. A repressão podou a iniciativa. Mas o mesmo espírito voltou com força, anos 
depois, no movimento pela anistia, no apoio a greves, na luta pelas Diretas-Já. 
Na história brasileira, muitos outros momentos demonstraram a possibilidade de luta conjunta. No 
século 19, o primeiro movimento social do país surgiu com a campanha pela abolição da escravidão. 
Para além dos combates nos quilombos, advogados, artistas, poetas se uniram contra o brutal 
modelo. 
O nascente Exército se negou a exercer o papel de capitão do mato para caçar escravos rebelados. 
No século 20, a luta pelo monopólio do Estado na exploração do petróleo resultou na convergência 
entre Forças Armadas, empresários e setores populares com o governo nacionalista de Getúlio 
Vargas. Contrariando pressões externas, o país criou a gigante Petrobras. 
Em todos esses momentos, o pano de fundo foi a ideia de projeto de nação. Hoje, o neoliberalismo 
empurra para a fragmentação e divisão. Há grupos de todo o tipo e isso enriquece a democracia. Mas 
o momento dramático do país exige mais. 
O derretimento do país deve ser enfrentado por frente mais ampla, para além da esquerda. O que é 
preciso reunificar é a própria nação. E desativar a bomba de nêutrons, dando fim à "reunião de 
bacana".
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