por Breno Altman
O PT e o PCdoB estão novamente às voltas com decisões a tomar sobre quem apoiarão para presidir as duas casas legislativas.
Parte de suas bancadas parlamentares, na Câmara dos Deputados e no Senado, não esconde a tentação de apoiar candidaturas da base governista, como é respectivamente o caso de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE).
Aliados a fórmulas vencedoras, petistas e comunistas poderiam conquistar cargos nas mesas diretoras, melhores condições de atuação nas comissões internas e até alguma barganha, de natureza progressista, na agenda de votação do próximo biênio.
Os defensores de acordos deste naipe ressaltam que a disputa pelo comando legislativo responderia a equilíbrios internos do parlamento, mais ou menos maleáveis às minorias em função das forças e personagens que vierem a predominar.
Não haveria relação direta, portanto, com enfrentamentos político-ideológicos que eventualmente dividam o país. Mais ainda: utilizar esse último critério como filtro para alianças poderia enfraquecer a oposição, retirando-lhe espaços e instrumentos para combater o governo com eficácia.
Talvez esses argumentos tivessem alguma pertinência em épocas de normalidade institucional ou em situações de baixa intensidade da luta de classes. Mas devem ser discutidos, nesse momento, à luz de uma realidade completamente distinta.
A narrativa primordial dos partidos de esquerda está marcada pela denúncia de golpe parlamentar que deu origem a um governo usurpador, cujo objetivo primordial é destruir conquistas históricas do povo brasileiro, atropelando a Constituição e o regime democrático.
Como essa tese poderia continuar a ser tratada com seriedade se PT e PCdoB apoiarem nomes representativos do golpismo, batendo palmas e arregimentando votos ao lado das principais lideranças reacionárias e dos chefes governistas?
Qual credibilidade manteriam essas agremiações se assumissem tal posição, conspurcando a causa pela qual se batem em troca de algumas cotas de poder parlamentar?
Aumentaria ou reduziria o prestígio desses partidos, na sociedade e em suas próprias bases, caso costurem um pacto com os piores inimigos do povo, do qual os únicos beneficiários eventuais seriam os próprios deputados e senadores de esquerda?
A simples hipótese desses acordos, convenhamos, já é indigna e desmoralizante. Condena-se ao fracasso e ao opróbio qualquer força progressista que confraternize ou se confunda com os algozes da soberania popular. Ou que desmente, por atos concretos e pusilânimes, valentes ideias proclamadas com pompa e circunstância.
Não há ativo político mais relevante, afinal, do que a coerência. Ou já nos esquecemos do preço que se paga quando se fala uma coisa e outra se faz?
Os parlamentares de esquerda deveriam, isso sim, impulsionar amplas candidaturas antigolpistas, capazes de representar a resistência democrática, como seria a opção pelo apoio a André Figueiredo (PDT-CE) na Câmara dos Deputados e a nome equivalente no Senado.
Ao invés de colocar a eleição dos comandos legislativos a serviço de interesses corporativos, transforma-la em frente de batalha contra o governo usurpador e o retrocesso, fundindo-se com o movimento das ruas.
Oxalá haja juízo nas bancadas progressistas e não metam o pé na jaca, impedindo que o cretinismo parlamentar coloque todo o corpo da esquerda brasileira sob o risco de metástase.
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