segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A fraude jornalística de IstoÉ para insinuar que PT ameaça vida de delatores


Revista manipulou uma decisão de Sergio Moro para fazer parecer que o juiz manteve Léo 
Pinheiro (ex-OAS) preso a pedido da defesa, que teme que ele "termine como Celso Daniel", 
ou seja, assassinado por "motivações políticas". Despacho de Moro, na verdade, era resposta 
a pedido da Polícia Federal para transferir Pinheiro de prisão

Cíntia Alves
Jornal GGN - A revista IstoÉ manipulou uma decisão assinada por Sergio Moro para dar alguma legitimidade à reportagem "Lava Jato: delatores ameaçados"Publicado no último dia 25, o texto insinua que réus colaboradores têm mudado seus depoimentos perante o juiz e membros da força-tarefa porque estão sendo ameaçados por forças obscuras que beneficiariam investigados ligados ao PT, entre eles o ex-presidente Lula. 
Diz a reportagem que "delatores sofrem ameaças de terem suas vidas e a de seus parentes ceifadas. Aterrorizados, alguns se viram obrigados a mentir em depoimentos à Justiça. Depois, mudaram suas versões".
A menção a Léo Pinheiro pela revista é um caso escandaloso de fraude jornalística. IstoÉ afirma que, "há duas semanas, o empresário, ex-sócio da OAS, foi responsável por um gesto insólito": pediu a Moro para continuar preso, "temendo que, em liberdade, corresse risco de morte".
A solicitação teria sido feita pelos advogados de Pinheiro "tendo em vista o teor bombástico de sua nova delação", que poderia atingir figuras graúdas do PT, como Lula. O ex-presidente é acusado pelo MPF de ter recebido propina da empreiteira na forma de um apartamento triplex, no Guarujá, entre outras vantagens indevidas.
IstoÉ escreveu que "seria recomendável a sua manutenção [de Pinheiro] na carceragem da Superintendência Regional da Polícia Federal do Paraná, inclusive para acautelar eventual risco à sua integridade física".
Para sustentar a matéria, IstoÉ pinçou um trecho de um despacho assinado por Moro em outubro, que diz o seguinte:
"Esclareceu a Defesa que José Adelmário Pinheiro Filho e a OAS possuem intenção de colaborar com as investigações (evento 21). Assim, haja vista que o acusado prestará novos depoimentos, bem como apresentará novas provas, seria recomendável a sua manutenção na carceragem SR/DPF/PR, inclusive para acautelar eventual risco a sua integridade".
Esse trecho, inserido da reportagem de IstoÉ para fazer parecer que essa era a resposta de Moro à suposta iniciativa da defesa de Pinheiro, na verdade, diz respeito a um requerimento da Polícia Federal para remover o empresário alegando falta de espaço na carceragem de Curitiba.
A demanda foi feita pela "autoridade policial" no dia 3 de outubro. A ideia era transferir Léo Pinheiro para o Complexo Médico Penal de Pinhais. Antes de decidir, Moro pediu que o MPF e a defesa do empresário se manifestassem.
No despacho do dia 19 - esse usado por IstoÉ de maneira distorcida - o MPF disse que Léo Pinheiro poderia ser removido, pois não estava negociando acordo de delação premiada. 
Em contrariedade ao anseio da força-tarefa, eis o que Moro decidiu (para melhor visualização, baixe o anexo no final desta edição):

Após manipular o despacho de Moro para servir à reportagem, IstoÉ cravou que, "assim como [Celso] Daniel estava disposto a denunciar um sombrio esquema de desvios de recursos para financiamento de campanhas eleitorais, o que poderia ferir o PT de morte antes mesmo de o partido ascender ao Planalto, Pinheiro pretende apresentar à Lava Jato seu arsenal bélico com potencial para enterrar de vez o lulopetismo, quase 15 anos depois."
"A nova delação pode ser determinante para a condenação do ex-presidente Lula, hoje réu nos casos do tríplex no Guarujá e do armazenamento de seu acervo num balcão em São Paulo, custeado pela OAS."
É curioso o timing de IstoÉ para lançar a reportagem, sugerindo que os delatores estão mudando suas versões não por interesse da Lava Jato, mas porque têm medo. A matéria saiu exatamente no final da semana em que Lula foi inocentado por testemunhas convocadas pelo MPF no julgamento do caso triplex. Todas, delatores.

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