sábado, 8 de outubro de 2016

Tarso Genro e Folha de São Paulo – A sabotagem da estratégia de defesa de Lula



Bajonas Teixeira  

Josias de Souza, articulista da Folha, acaba de partilhar um segredo, sem nos contar as fontes. O segredo tem escassa aparência de verdade, o que é fácil averiguar. E guarda fortes vínculos com a entrevista que Tarso Genro deu há dois dias à Folha. O que também não é difícil concluir. Vejamos primeiro o interessante segredo. Eis o que Josias de Souza segredou aos ouvidos dos seus leitores:
“Um petista histórico disse ao blog que deve procurar Lula para aconselhá-lo a se afastar da rotina partidária. Avalia que o ex-presidente deveria se dedicar em tempo integral à sua defesa, liberando o partido para apressar a substituição dos seus dirigentes, a começar pelo presidente, Rui Falcão. Afirma traduzir o sentimento de um número crescente de filiados insatisfeitos com o estilo centralizador que Lula imprime à sua liderança.”
É difícil, ainda que com toda boa vontade, deixar-se convencer por essas linhas sussurrantes. O motivo é mais que óbvio: o envolvimento político de Lula é o modo como Lula está se defendendo, e isso justamente por ter ficado claro que uma defesa meramente jurídica traria resultados trágicos. Foi o que José Dirceu fez, limitou-se à defesa jurídica. E com que resultados? O de dar com os burros n'água. Ou melhor, nas grades. Lula, faz já um bom tempo, declarou que o erro do PT foi confiar demais nos advogados. Só nos advogados.
Ele está fazendo aquilo que se tem chamado de “luta política”. Uma estratégia que incorpora, além da luta jurídica, também o desempenho político ativo. E por quê? Porque o esvaziamento político de suas vítimas é o efeito midiático buscado pela Lava jato. Daí os vazamentos, as denúncias, a divulgação de áudios, as delações premiadas, etc. etc. Robustecer-se politicamente é uma condição para enfrentar a sangria produzida pela Lava Jato.
Mas, se é assim, se a maioria dos que cercam Lula sabe disso, de que boca teria vazado a voz do “petista histórico” que segredou inverdades no ouvido de Josias de Souza? Certamente não foi Tarso. Ele não precisaria dizer isso já que, há dois dias atrás, na sua entrevista à Folha, disse coisa muito parecida:
“Tarso - Acho que o Lula não quer e, na minha opinião, nem deve ser presidente do PT na circunstância em que estamos vivendo. Sou favorável a que apareça para a direção partidária uma nova geração de líderes que surgiu no último período, para que façamos, de um lado, uma profunda reflexão pública sobre os nossos erros políticos e de gestão partidária, e para que comecemos uma nova etapa de reconstrução programática e ética. O Lula não precisa exercer um cargo formal no partido para exercer sua influência.”
O “petista histórico” íntimo de Josias de Souza, defende que os que têm experiência para ajudar na defesa de Lula, Rui Falcão e os outros, deveriam cair fora. E Tarso, afirma que uma “nova geração de líderes” deve ocupar a direção do PT, o que significa que Lula e os petistas experientes devem dar no pé. O anônimo auxiliar de Josias e o ex-ministro Tarso, pregam o mesmo como se vê. Mas foi Tarso quem, ao dar sua entrevista, deu a Folha toda munição que ela precisava para esticar o assunto e evocar petistas históricos, mantendo Lula embaixo de sua artilharia pesada de disse-me-disse.
De fato, o que está sendo dito pela Folha, no fundamental, é o seguinte: Prendam Lula, até o PT já o abandonou! Nem como presidente eles o querem! E isso é o que foi dito por Tarso também, embora em tom mais velado, talvez por inconfidência involuntária.
É interessante notar que os conselhos de Tarso para Lula são, em tom amigável, os mesmos que seriam dados por um Gilmar Mendes ou um FHC se consultados. Foi o que eles disseram, aliás, quando Lula ia tomar posse do cargo de ministro da Casa Civil, posição que concederia a ele a devida força política para defender-se, após a condução coercitiva em 04 de março ordenada por Sérgio Moro. E eles conseguiram trucidar as chances de defesa de Lula.
Hoje, Tarso Genro e outro “petista histórico”, aparecem para dizer a mesma coisa. Não é interessante?
É difícil saber, num momento em que ex-ministros do PT estão sendo presos, que motivos Tarso Genro teria para temer a imprensa e até dar depoimentos que sabotam a estratégia de defesa de Lula – a estratégia da luta política. E, pior que isso, fornecer assunto para que a mídia nos venha segredar confissões de “petistas históricos”.
Seria medo? Falta de coragem? Covardia? Ou algum receio bem fundado, talvez, em razões que nos serão sempre alheias? Vamos aguardar para ver, quem sabe, se alguma outra voz anônima e sussurrante vem a público elucidar esse tão bem camuflado mistério.
Em tempo. Vale refletir sobre essa frase chocante pelo seu absurdo. Tarso se diz a favor que apareça (futuro), uma geração de líderes que... já surgiu (passado): "Sou favorável a que apareça para a direção partidária uma nova geração de líderes que surgiu no último período". Alguém conhece alguma dessas lideranças nascidas dos delírios disparatados desse infiel escudeiro?
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