quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O crescimento do "Fora Temer" poderá desequilibrar o jogo



Luis Nassif

A campanha “Fora Temer” está crescendo em uma velocidade surpreendente. Não se trata mais de 
mero esperneio. Caminha para se tornar elemento relevante, capaz de desequilibrar o jogo político.
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O golpe político encaixa-se perfeitamente na estratégia denominada de “teoria do choque” – 
desvendado pela escritora e ativista Naomi Klein.


A estratégia foi desenvolvida pela Escola de Economia de Chicago e consiste em se valer de grandes 
tragédias – terremotos, guerras, golpes de estado, hiperinflação – para trabalho de desconstrução do 
passado, desarticulação do normal político para impor rapidamente um receituário radical, como se 
fosse a única rota de salvação.
Esse modelo de choque estreou no Chile de Pinochet, foi aplicado no Iraque, após a derrubada de 
Sadam Hussein e, quase sempre, significou o desmonte do que existia de redes sociais ou de políticas 
autônomas de desenvolvimento sem conseguir construir uma alternativa eficiente em seu lugar.
Essa teoria também foi aplicada com sucesso em Nova Orleans, após o furacão Katrina. Com a 
região totalmente destruída, rapidamente implantou-se um novo sistema educacional. Em vez de 
recuperar as escolas públicas destruídas, ofereceram bônus para matrículas em escolas privadas, a 
seco, sem nenhuma espécie de planejamento e sem coordenação pública. Destruiu o sistema de 
ensino local.
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Segundo Naomi, a estratégia consiste, primeiro, na desconstrução diuturna do passado, dos conceitos 
que vigoraram até então, e do aprofundamento da crise, até a opinião pública assimilar a percepção 
de que se instaurou a total falta de perspectivas. Sobre esse caos, diz Naomi, apresentam-se os três 
pontos que conduzirão o país rumo à salvação: livre fluxo de capitais, redução dos programas 
sociais, e desregulação total com privatização selvagem. E tudo tem que ser implementado 
rapidamente, para impedir a reorganização das forças e ideias contrárias. Coincidência com o quadro 
brasileiro? Evidente que não.
O livro é bem anterior ao golpe. A ida de Aloysio Nunes ao Senado norte-americano, em pleno 
processo do impeachment, a visita do Procurador Geral da República (PGR) ao Departamento de 
Estado, em pleno início da estratégia de desestabilização, a receita salvadora apresentada, composta 
exatamente dos três pontos registrados no livro de Naomi – são tão sem imaginação que nem 
cuidaram de tropicalizar a receita -. todo esse conjunto não é mera coincidência.

Analisarei o tema em um próximo Xadrez.
O que importa, no momento, é que está se formando uma onda na opinião pública que poderá 
desequilibrar o jogo.
Não há sinal de que o “Fora Temer” irá arrefecer. Nos próximos dias entrarão na pauta do Senado os 
temas fiscais, o avanço nos direitos dos aposentados a seco, sem negociação. Além disso, a mera 
presença de pessoas como Geddel e Padilha falando em nome do governo – ao lado de Temer – é um 
estímulo diário à revolta e indignação da opinião pública. É vergonhoso! Não há outro termo. É de 
dar ânsia de vômito!
O “Fora Temer” está vindo acompanhado de um desnudamento gradativo das artimanhas do golpe.
Há luz à frente, e não é apenas o da locomotiva chegando na contramão.

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